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11/12/2006

Ópera 'O cientista', baseada na vida de Oswaldo Cruz, continua em cartaz

Ricardo Valverde


Depois de 45 anos, o Teatro Municipal do Rio de Janeiro voltou a ser palco da estréia de uma ópera genuinamente brasileira com O cientista – obra que recupera momentos relevantes da trajetória do sanitarista Oswaldo Cruz e que está sendo encenada desde o dia 8 deste mês na mais tradicional casa de espetáculos da cidade. A ópera, que encerrará a temporada lírica do Municipal em 2006, tem direção artística de Eduardo Álvares, música do maestro Silvio Barbato, libreto de autoria de Bernardo Vilhena e cenários criados por Marcelo Dantas. O Rio de Janeiro do início do século 20 e suas radicais transformações urbanísticas – cenário do qual Oswaldo Cruz foi um dos personagens mais importantes – estão presentes na ópera, composta por dois atos que somados dão pouco menos de duas horas de espetáculo (o primeiro com 45 minutos e o segundo com 50). O espetáculo terá uma última apresentação neste domingo (17/12). Leia aqui um comentário sobre a apresentação desta quarta-feira da ópera.


 O barítono que interpreta Oswaldo Cruz e uma mulher em um cabaré da Lapa (Foto: Ana Limp)

O barítono que interpreta Oswaldo Cruz e uma mulher em um cabaré da Lapa (Foto: Ana Limp)


Segundo Álvares, a idéia de criar O cientista surgiu em maio deste ano, em conversas mantidas pela presidente da Fundação Teatro Municipal, Helena Severo, e o presidente da Fiocruz, Paulo Buss. Imediatamente Helena convocou Álvares, que também é diretor artístico do Municipal, para dar cabo da tarefa. Ele fez o roteiro e, dentro do que chama de “corrida contra o tempo”, teve poucos meses para reunir toda a equipe e tornar realidade o que nasceu de uma conversa entre amigos. “Oswaldo Cruz foi um homem fascinante, apaixonado pela família e pela ciência, mas farrista com a mesma intensidade com que se dedicava às pesquisas”, afirma Álvares, que leu centenas de cartas trocadas entre o sanitarista e sua esposa Emília, que ele chamava de Miloca, além de textos do Arquivo do Senado Federal, publicações da época e discursos, como o que Oswaldo Cruz proferiu em sua posse na Academia Brasileira de Letras, em 1913. A ópera vai mostrar diversas facetas de Oswaldo Cruz: o homem de ciência, o homem de família e o boêmio.


Além de Oswaldo Cruz, cujo papel será do barítono Sebastião Teixeira, e de Emília (a soprano Claudia Riccietelli), os outros personagens principais são o médico e amigo Sales Guerra (o tenor Marcos Lizemberg), o presidente da República Rodrigues Alves (o baixo Lício Bruno) e a “mulher” (a mezzo-soprano Luciana Bueno), que na ópera representará as damas dos cabarés da Lapa – casas que o cientista costumava freqüentar. Contando com o coro e a orquestra do Teatro, mais de 200 pessoas estarão no palco para reviver o Rio de Janeiro do prefeito Pereira Passos, das mudanças arquitetônicas (conhecidas como Bota-Abaixo) que remodelaram a cidade – a própria construção do Teatro Municipal tem como origem essa renovação urbana – e a Revolta da Vacina, em 1904. O elenco será composto por um coro de 90 vozes, 40 atores e uma orquestra com 90 músicos, além dos cinco solistas e de seis capoeiristas.


 Ensaio da orquestra do Municipal (Foto: Ana Limp)

Ensaio da orquestra do Municipal (Foto: Ana Limp)


A Revolta, a propósito, é um dos pontos altos da ópera, segundo Álvares. Segundo ele, o cenário criado por Marcelo Dantas, em preto e branco, será beneficiado pelo fato de que pela primeira vez em muitos anos se poderá contar com todos os recursos do palco do Municipal, o que inclui os elevadores cênicos, que permitirão dar níveis diferenciados ao espetáculo. Outra novidade será o uso de um espelho de 120 metros quadrados para efeitos especiais. Assim como oito ventiladores, que darão a impressão de ondas do mar. O cientista também contará com recursos como nove retroprojetores, que exibirão imagens de laboratório da época de Oswaldo Cruz.


Outros momentos de impacto, segundo o diretor, incluem o apedrejamento da casa de Oswaldo Cruz e o enfrentamento entre capoeiristas e soldados do Exército, num dos últimos confrontos da Revolta da Vacina. A ópera apresenta uma outra cena de impacto, quando o cientista comparece ao Senado para defender seus pontos de vista e sua atuação à frente da Direção-Geral de Saúde Pública. Álvares entrega a surpresa do final da ópera ao afirmar que o espetáculo não mostra a morte de Oswaldo Cruz: “Ele apenas desaparece, em meio à luz”.


 

 O sanitarista em um dos cenários virtuais da ópera (Foto: Ana Limp)

O sanitarista em um dos cenários virtuais da ópera (Foto: Ana Limp)




A produção teve um custo total de R$ 600 mil, divididos igualmente entre a Faperj (Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro) e a Fiocruz. De acordo com Helena Severo, o objetivo agora é conseguir cerca de R$ 300 mil que permitam gravar um dvd da ópera. Da mesma forma, estão sendo negociadas récitas de O cientista em Paris e Lisboa.


Amigo de infância de dois bisnetos de Oswaldo Cruz (o fotógrafo Pedro e o falecido jornalista e crítico de gastronomia Apicius), Álvares foi um dos solistas da abertura das Olimpíadas de Munique, em 1972. Dono de uma carreira internacional, tendo passado muitos anos fora do Brasil, ele pretende fazer homenagem semelhante a essa de agora em memória de Oswaldo Cruz a dois outros célebres personagens nacionais: o aviador Santos Dumont e o cientista Carlos Chagas. A ligação com Apicius, aliás, rendeu um sem-número de citações nas colunas de gastronomia do jornalista: Álvares e esposa eram os famosos “sr. e sra. A” nos textos publicados no Jornal do Brasil.


 Os solistas que representam o cientista e sua mulher Emília (Foto: Ana Limp)

Os solistas que representam o cientista e sua mulher Emília (Foto: Ana Limp)


E uma informação que remete à abertura deste texto: a última ópera brasileira a estrear no Municipal foi A compadecida, de José Siqueira, em 1961.


Mais:


Galeria de fotos da estréia de O cientista


Galeria de fotos dos ensaios da ópera


Conheça três livros que retratam o patrono da Fundação


O cientista


Libreto: Bernardo Vilhena

Música: Silvio Barbato

Direção: Eduardo Álvares

Cenário: Marcelo Dantas

Figurino: Marcelo Olinto


Solistas:

Sebastião Teixeira (Oswaldo Cruz)

Claudia Riccitelli (Emília)

Luciana Bueno (mulher)

Lício Bruno (Rodrigues Alves)

Marcos Lizemberg (Sales Guerra)

 

Apresentações:

Dia 8, às 20h – Preços usuais

Dia 10, às 11h – Domingo no Municipal

Dia 13, às 20h – Preços populares

Dia 15, às 20h – Preços usuais

Dia 17, às 11h – Domingo no Municipal

 

Preços usuais:

Frisa/camarote (6 pessoas) – R$ 180,00

Platéia/balcão nobre – R$ 30,00

Balcão simples – R$ 20,00

Galeria – R$ 10,00

Domingo no Municipal – R$ 1,00

 

Preços populares:

Frisa/camarote (6 pessoas) – R$ 60,00

Platéia/balcão nobre – R$ 10,00

Balcão simples – R$ 7,00

Galeria – R$ 5,00

                                            

Serviço:

Teatro Municipal

Endereço: Praça Floriano, n° 55 – Centro, Rio de Janeiro

Telefone: (21) 2262-3935

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