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29/09/2010

Amamentação natural reduz custos de unidades neonatais e previne gastos com doenças evitáveis

Bel Levy


É extensa a lista dos benefícios à saúde proporcionados pela amamentação. O leite materno é rico em nutrientes, vitaminas e agentes imunológicos que contribuem para a formação do sistema imune e o desenvolvimento intelectual, psíquico e emocional do bebê. A prática é tão importante que o Ministério da Saúde preconiza o aleitamento materno exclusivo até os seis meses de vida e a manutenção da amamentação até os dois anos de idade. O que pesquisadores brasileiros mostram, agora, é a economia financeira obtida com a alimentação natural de bebês. Os resultados inéditos de pesquisa desenvolvida pelo Centro de Referência Estadual em Bancos de Leite Humano de São Paulo serão apresentados no V Congresso Brasileiro / I Congresso Iberoamericano de Bancos de Leite Humano, que acontece de 28 a 30 de setembro, em Brasília.


A pediatra neonatologista Maria José Guardia Mattar, coordenadora do Centro de Referência Estadual em Bancos de Leite Humano de São Paulo, afirma que o custo da alimentação de recém-nascidos com fórmulas lácteas artificiais é aproximadamente 85% mais caro que a alimentação exclusiva com leite humano. “Para alimentar com leite humano os quase 4 mil recém-nascidos prematuros de baixo peso e doentes que nasceram no Hospital e Maternidade Leonor Mendes de Barros em 2009, foi necessário um investimento de aproximadamente 3 mil dólares. Para alimentar o mesmo contingente de bebês com fórmula láctea artificial, seria necessário investir mais de 21 mil dólares na compra do produto”, a pediatra apresenta. Para calcular o custo com a alimentação artificial, foram considerados os preços do leite em pó em três bairros de São Paulo com perfis socioeconômicos distintos. O custo do leite humano foi calculado pela tabela SUS.


Maria José ressalta que, além do benefício econômico imediato para a unidade de saúde, o aleitamento materno proporciona economia financeira para as famílias e o sistema de saúde, ao prevenir doenças evitáveis. “Estudos internacionais comprovam que bebês alimentados exclusivamente com leite materno até os seis meses de vida têm 33% menos chances de desenvolver doenças crônicas na terceira idade. Na prática, isto significa economia com internações e compra de medicamentos”, a pesquisadora avalia.


O V Congresso Brasileiro / I Congresso Iberoamericano de Bancos de Leite Humano reunirá em Brasília representantes dos 23 países que compõem o Programa Iberoamericano de Bancos de Leite Humano (IberBLH), coordenado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). O Brasil é pioneiro na área e concentra, em todo o país, 200 bancos de leite humano, que compõem a Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano (RedeBLH). O impacto da iniciativa sobre a saúde pública é tão significativo que, em 2001, a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconheceu a RedeBLH como a ação que mais contribuiu para a redução da mortalidade infantil no mundo, na década de 1990.


Durante o evento, a pesquisadora Maria José Guardia Mattar também apresentará a experiência de São Paulo na área – o Estado comporta a maior rede estadual de bancos de leite humano do mundo. A atuação dos bancos de leite humano da região é coordenada por dois centros de referência: o Hospital e Maternidade Leonor Mendes de Barro, referência para a região metropolitana de São Paulo, e o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo (USP), referência para o interior do Estado.


A pediatra explica que esta ampla distribuição é resultado de investimentos em capacitações e no controle da qualidade do leite humano oferecido pelas unidades. “Nós promovemos o assessoramento técnico para a implantação de novos bancos de leite humano no Estado e temos uma rotina de acompanhamento das unidades em funcionamento. Com esta dinâmica, é possível organizar cursos, palestras e treinamentos periódicos, que atualizam profissionais e protocolos de atendimento”, descreve Maria José. Somente em 2010, os bancos de leite humano do Estado de São Paulo atenderam 14.079 recém-nascidos internados em unidades neonatais, alimentados com leite humano doado por 30.585 mulheres.

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