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12/05/2017

Artigo aborda percepção do uso de agrotóxicos em Santa Catarina ao longo de 50 anos

Blog 'História, Ciências, Saúde - Manguinhos'


"Os enormes prejuízos causados à lavoura pelas pragas do solo podem ser evitados a tempo, quando se utiliza Aldrin antes do plantio – seja diretamente no solo, seja na proteção das sementes.(…) Com uma ou duas aplicações, no máximo, Aldrin elimina o problema das pragas do solo da maneira mais rápida, segura, eficaz e econômica. E, graças à sua atividade residual, mantém os insetos à distância por toda a estação, garantindo uma colheita farta e lucrativa! Aldrin oferece, ainda, outras vantagens, não deixa gosto nem cheiro; pode ser empregado eficazmente nas mais variadas culturas, as quais desenvolvem raízes fortes e profundas que asseguram seu vigor." 

O texto da propaganda publicada num boletim da Federação das Associações Rurais do Estado de Santa Catarina de 1963 promove o inseticida Aldrin, da Shell, proibido no Brasil a partir de 1985. Pertencente ao grupo dos organoclorados e considerado um produto perigoso, foi amplamente utilizado nas décadas de 1950, 60 e 70.

No artigo 'Defensivos' ou 'agrotóxicos'? História do uso e da percepção dos agrotóxicos no estado de Santa Catarina, Brasil, 1950-2002, publicado na revista História, Ciência, Saúde - Manguinhos ( vol.24, no.1, jan./mar. 2017), os autores Miguel Mundstock Xavier de Carvalho, Eunice Sueli Nodari e Rubens Onofre Nodari explicam que os agrotóxicos eram parte do pacote tecnológico da modernização agrícola denominada de “revolução verde”. Sua percepção e utilização estavam conectadas a série de tecnologias agrícolas, como fertilizantes sintéticos, calcário, tratores e sementes certificadas.

Eles contam que para convencer os agricultores a utilizar tais tecnologias, o governo brasileiro e os estados utilizaram a concepção e métodos de extensão rural importados dos EUA e criaram, a partir da década de 1950, escritórios de assistência técnica, contratando técnicos agrícolas, engenheiros-agrônomos, veterinários e economistas domésticos.

Em 1957, foi criada a Associação de Crédito e Assistência Rural do Estado de Santa Catarina (Acaresc). Na sequência, a partir do regime militar de 1964 foi implantado um amplo e generoso sistema de crédito rural crucial para a disseminação dessas tecnologias. “Era como se os agricultores tivessem agora ao alcance de suas mãos produtos milagrosos que resolveriam as dificuldades que enfrentavam há séculos com o manejo dos agroecossistemas”, afirmam os autores.

Já na década de 1980, com a crise econômica, a retração drástica no crédito rural e o nascimento e a defesa de uma agricultura alternativa, orgânica ou agroecológica, as ideias ambientalistas começam a ganhar espaço no Brasil e em particular em Santa Catarina. Surgem então legislações e órgãos ambientais regulatórios e a percepção dos agrotóxicos começa a mudar.

A partir do estudo de fontes primárias como boletins técnicos, relatórios governamentais, censos agropecuários, notícias de jornais, dados do centro estadual de informações toxicológicas e uma entrevista com um técnico de referência no setor, os pesquisadores verificaram que o uso e a percepção dos agrotóxicos passaram por diferentes fases em Santa Catarina, assim como em outros lugares, e que a partir dos anos 1980 as atitudes mudaram tanto devido às experiências individuais de técnicos e agricultores, como pela influência do contexto cultural mais amplo da circulação das ideias ambientalistas.

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