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13/03/2015

Artigo investiga processo de musealização do mar com aquários e oceanários

César Guerra Chevrand


O mar que assustava os navegantes europeus até o século 19 se tornou fonte de educação, cultura e entretenimento com a construção de aquários e oceanários no século 20. O medo de enfrentar criaturas monstruosas deu lugar a um novo olhar sobre a fauna e a flora marinha. Esse processo conhecido com a musealização do mar é o tema do artigo dos pesquisadores Maurício de Mattos Salgado e Martha Marandino, publicado na revista História, Ciências, Saúde - Manguinhos, da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz).

O oceano sempre fascinou e amedrontou os antigos marinheiros (Ilustração: Philip Henry Gosse, 1874)
 

Apontados como verdadeiros museus de ciências naturais, com o reconhecimento de seu papel de pesquisa e entretenimento, aquários e oceanários espalhados pelo mundo consolidaram-se também como espaços de educação e divulgação nas últimas décadas. A partir do exemplo do Aquário de Ubatuba, em São Paulo, o artigo revela como uma instituição nacional possui intenções claras de ensinar e divulgar conteúdos ligados à zoologia, ecologia e conservação.

A construção desses espaços esteve diretamente ligada à relação do homem com o mar, assim como ao desenvolvimento de técnicas que permitiram a exploração e a manutenção de organismos em cativeiros. Foi uma longa trajetória. Mesmo na época das grandes navegações e dos grandes descobrimentos, no século 16, quando as caravelas atravessavam oceanos rumo ao Novo Mundo, o ser humano ainda enxergava o mar como um universo desconhecido de doenças e monstros mitológicos. Os mapas e as figuras da época registraram os perigos que assustavam os marinheiros europeus.

Os primeiros tanques e aquários

Antes mesmo do século 1, os romanos mantinham tanques artificiais de mármore com peixes vivos em suas casas, tanto como símbolo de status social quanto objeto decorativo. Tais tanques, porém, eram mantidos sem nenhum tipo de técnica para manter os peixes com vida. A alta mortalidade fazia com que a reprodução dos peixes em cativeiro não ocorresse, criando a necessidade permanente de novos suprimentos de peixes vivos.

Os primeiros a conseguir reproduzir peixes em cativeiro e até a formar raças novas foram os chineses. No século 10, a aristocracia chinesa já tinha peixes-dourados como seus animais de estimação preferidos e recipientes de porcelana eram fabricados para permitir a observação dos peixes por cima. Da China, o hábito foi se espalhando pelo mundo, chegando na Europa em torno de 1690 e nos Estados Unidos em 1850.

O desenvolvimento de novas técnicas e criadouros para a manutenção de peixes em cativeiro ganhou grande impulso no século 19, quando a utilização do termo “aquário”, como forma de designar o reservatório de água com animais marinhos, é encontrada pela primeira vez no livro “The aquarium” (1854), de Philip Henry Gosse. Surgido especialmente como ferramenta científica, os aquários logo revelaram também um grande potencial de entretenimento. Nesta mesmo época, o Jardim Zoológico de Regent’s Park, de Londres, abriu suas portas com 14 tanques, sendo que oito marinhos, representando na época um sucesso de visitas.

A rápida popularização dos aquários no fim do século 19 também foi consequência do desenvolvimento de novas técnicas de exploração do mar e do maior conhecimento da biodiversidade marinha. Ao longo do século 20, os aquários e, posteriormente, os oceanários, se constituíram em espaços de pesquisa, lazer, comunicação e educação. Numa tradição que se mantém até os dias de hoje, os aquários se revelaram vitrines fundamentais da vida e dos ambientes marinhos tanto para o grande público quanto para a ciência.

O aquário de Ubatuba

Fundado em 1996, o Aquário de Ubatuba, em São Paulo, serve de exemplo para a análise do papel educacional que as exposições existentes nos aquários assumiram, principalmente a partir do século 20. Criado por um grupo de oceanógrafos que apostaram no potencial do aquário para promover educação e conscientização da diversidade dos ecossistemas costeiros da região, o Aquário de Ubatuba também destaca em sua missão a preocupação em contribuir para a educação e a preservação ambiental.

Visitantes interagem com o tanque, sob mediação de monitora (Foto: Acervo pessoal de Maurício Salgado)
 

As exposições permanentes do Aquário, com tanques contendo organismos vivos e reproduções de ambientes, demonstram como tanto as instituições internacionais quanto as nacionais assumiram claramente a intenção de educação e divulgação nas últimas décadas. Evidencia-se ainda como os tanques servem como objetos expositivos que permitem a musealização de temas complexos, como as interações entre organismos vivos e o ambiente em que vivem.

Leia aqui o artigo na íntegra.

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