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29/04/2011

Autor sintetiza questões universais para o estudo de políticas de saúde

Fernanda Marques


Novo título da Editora Fiocruz, Análise Sociológica das Políticas de Saúde é uma coletânea de artigos assinados pelo médico e sociólogo Patrice Pinell, pesquisador do Institut National de la Santé et de la Recherche Médicale (Inserm) e membro do conselho diretor do Centro de Sociologia Europeia (Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais), ambos sediados em Paris. Com tradução de Irene Ernest Dias e Vera Ribeiro, o livro faz uma análise sócio-histórica da gênese de políticas de saúde na França. Os temas em debate incluem as políticas de luta contra o câncer e a Aids, e aquelas destinadas ao enfrentamento de problemas como as crianças ‘inadaptadas’ ou ‘anormais’, com ‘inteligência inferior’, e os jovens ‘delinquentes’, usuários de drogas. Embora os estudos de caso tratem da experiência francesa, a obra traz contribuições importantes para o leitor brasileiro.



“O seu interesse para o campo das políticas de saúde no Brasil está não apenas na importância que o estudo comparado tem em si, mas, sobretudo, nos aspectos universais que podem ser apreendidos dos casos analisados no livro”, comenta a professora Ligia Maria Vieira da Silva, do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (Ufba). “Ao final, é feita uma síntese dos aspectos comuns aos diversos estudos, o que constitui contribuição relevante para a metodologia de pesquisa das políticas de saúde”, acrescenta Ligia, que fez a revisão técnica da tradução e assina o prefácio. A professora se refere ao sétimo e último capítulo, escrito especialmente para a edição em português. Nesse texto, Pinell procura identificar regularidades na construção das políticas de saúde analisadas nos capítulos anteriores e, assim, oferece uma base teórica para o estudo das políticas públicas.


Segundo o autor, sempre está presente uma correlação entre política pública, surgimento de novas preocupações ‘de saúde’, construção de um espaço especializado de produção simbólica e emergência de grupos de atores que desenvolvem novas competências especializadas no âmbito de organizações e instituições também novas. Para exemplificar, no caso da política em favor da infância ‘anormal’, associada à lei que instaura o ensino ‘especial’ para crianças ‘inadaptadas’, essa correlação se manifesta da seguinte forma: as preocupações são relativas aos alunos ‘atrasados’, que, nas classes comuns, perturbam a ordem e não aprendem; o espaço especializado se refere ao nascimento da psicopedagogia; e os novos atores englobam psicólogos experimentais e professores com aperfeiçoamento para atuarem nas classes ‘especiais’.


Sobre esse tema, Pinell analisa o fenômeno da medicalização dos insucessos escolares. Trata-se de uma história fortemente ligada ao nome do psicólogo francês Alfred Binet, identificado como o inventor de um instrumento de medição da inteligência (posteriormente, este instrumento foi adaptado nos Estados Unidos e originou o famoso ‘teste de QI’). A escala métrica da inteligência criada por Binet embasou a lei que estabelecia classes de ensino ‘especial’ para crianças de ‘baixa’ inteligência. O caso é emblemático, segundo Pinell, porque demonstra a articulação entre aspectos internos e externos à ciência, isto é, a lógica do pensamento psicológico e os fins sociopolíticos.


Esse debate sobre questões internas e externas à ciência também está presente no capítulo dedicado ao processo de especialização na medicina. No texto, o autor mostra que a cirurgia e a clínica seguiram caminhos diferentes. De acordo com Pinell, a especialização da cirurgia se iniciou a partir da própria medicina, com os avanços da anestesia e dos métodos de assepsia. Já a especialização da clínica ocorreu a partir de problemas sociopolíticos associados, por exemplo, à loucura, às doenças venéreas e à mortalidade infantil. “A especialização da clínica médica é indissociável de preocupações sociais que se traduzem em implementação de políticas de saúde específicas”, destaca o médico que redirecionou sua carreira para a sociologia sob orientação de Bourdieu. Norbert Elias e Foucault são outras referências marcantes nos estudos de Pinell.


SERVIÇO:

Análise Sociológica das Políticas de Saúde

Patrice Pinell

252 páginas

R$ 38

Editora Fiocruz

Tel.: 21-3882-9039 / 9007

editora@fiocruz.br


Publicado em 28/4/2011.

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