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22/09/2011

Bactéria multirresistente que circula no Brasil é geneticamente relacionada às que circulam no exterior

Renata Fontoura


Responsável por surtos registrados em hospitais brasileiros, a bactéria Klebsiella pneumoniae, produtora de carbapenemase (KPC), foi alvo de um estudo desenvolvido pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz). A pesquisa realizou uma análise molecular de amostras coletadas entre os anos de 2006 e 2009 e constatou que a bactéria que circulou no Brasil naquele período é geneticamente parecida com as linhagens que causaram surtos em países como Israel, China, Noruega, Inglaterra, Grécia e Estados Unidos. Uma avaliação preliminar aponta que as amostras de 2010 e 2011, período com maior número de casos no Brasil, também pertencem ao mesmo grupo. A descoberta reforça o grande potencial de disseminação do microrganismo, resistente à maioria dos antibióticos disponíveis.


 A bactéria <EM>Klebsiella pneumoniae</EM>

A bactéria Klebsiella pneumoniae


“Nas 57 amostras coletadas entre 2006 e 2009 em diferentes regiões do país, encontramos 28 genótipos ou clones da bactéria. Além do ST11, primeiro clone isolado no Brasil, em Recife, observamos a predominância do S437, presente em Rio de Janeiro, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo e Santa Catarina. Os dois são do mesmo complexo clonal do S258, responsável pelos principais surtos no exterior”, explica a chefe do Laboratório de Pesquisas em Infecção Hospitalar do IOC e responsável pelo estudo, Marise Dutra Asensi. “Dos sete genes sequenciados e que são essenciais para a bactéria, apenas um difere do clone epidêmico dos outros países nos dois casos. Isto mostra que sofreram uma mutação, mas continuam no mesmo complexo clonal”, complementa a pesquisadora.


Segundo a bacteriologista Ana Paula Assef, do mesmo laboratório, mais de 600 genótipos são descritos na literatura científica. “A investigação é importante porque hoje sabemos que estamos lidando com um clone epidêmico, que tem características de resistência e capacidade de disseminação já conhecidas”, avalia a especialista. Ela ressalta a importância de ações de controle no ambiente hospitalar. “Além do isolamento do paciente, medidas como o uso de equipamentos de proteção individual, luvas e jalecos pela equipe clínica dos hospitais, a manutenção de medidas rigorosas de vigilância e a adoção de uma política de utilização adequada de antibióticos são fundamentais”, reforça. Os resultados do estudo foram publicados em forma de artigo na revista científica Diagnostic Microbiology and Infectious Disease.


A equipe de pesquisadores dá continuidade aos estudos na área aprofundando a investigação de amostras recebidas entre 2010 e 2011 pelo laboratório, que atua como Centro Colaborador da Rede de Resistência Antimicrobianos do Ministério da Saúde. “O diagnóstico rápido é um dos nossos grandes aliados na luta contra a disseminação da KPC. Por isso, em maio deste ano já capacitamos profissionais de laboratórios centrais de saúde pública (Lacen) de dez estados para realização de diagnóstico da bactéria produtora de KPC e outras bactérias”, conclui.


Disseminação no Brasil e no mundo



A KPC foi identificada pela primeira vez em 2001, nos Estados Unidos, a partir da análise de uma amostra coletada em 1996. Em 2003, ocorreu um surto em Nova York que se espalhou até o oeste americano. Na Europa, o primeiro caso foi registrado na França, em 2005, e de lá se disseminou para outros países do continente. Além dessas regiões, também foram identificados casos em Israel. No Brasil, o primeiro caso foi identificado em 2009, em uma amostra isolada em 2006. Em seguida, foi identificado mais um caso, em 2009, mas a amostra investigada era de 2007. A partir daí, vários relatos surgiram no país.


Publicado em 20/9/2011.

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