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06/01/2012

Bairros da Zona Centro-Oeste de Manaus são ‘ilhas de calorÂ’

Ana Célia Ossame


Os bairros Chapada, Dom Pedro e Alvorada, na Zona Centro-Oeste de Manaus, são “ilhas de calor” no município por terem uma temperatura maior que a de regiões próximas. Nessas áreas de Manaus a temperatura chega a ficar até oito graus acima da das demais, revela o estudo denominado Ilhas de calor e saúde em Manaus: abordagem com geoprocessamento, feito pelo doutor em etnobiologia e biogeografia Sylvain Desmoulière, do Centro de Pesquisa Leônidas e Maria Deane (CPqLMD/Fiocruz Amazônia).


 Termômetro na Avenida Djalma Batista, na Chapada, atesta a temperatura elevada registrada em Manaus<BR><br />
(Foto: Márcio Melo)

Termômetro na Avenida Djalma Batista, na Chapada, atesta a temperatura elevada registrada em Manaus

(Foto: Márcio Melo)


O objetivo do estudo é descobrir quais as áreas mais quentes de Manaus, as causas e as consequências para a saúde. Para isso, foram selecionadas oito áreas da cidade, medindo entre 30 e 60 quilômetros, das quais as temperaturas foram calculadas, de maneira a compará-las com as temperaturas de áreas próximas. O estudo servirá de alerta para mobilizar os órgãos públicos a implementarem medidas visando minimizar essa situação. A pesquisa é financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) e pela Fiocruz.


Para suprir a falta de dados dos índices de temperatura da cidade de Manaus, que conta com um reduzido número de equipamentos para esse trabalho, Sylvain utilizou os dados do satélite Landsat5. A partir das imagens, ele identificou a ilha de calor, descreveu-a e agora está na fase de fornecer dados à comunidade científica sobre a meteorologia de Manaus. “A falta de informações sobre a temperatura está sendo compensada pelas imagens de satélite, que permitem extrair a temperatura da superfície, permitindo ter uma ideia do clima”, explica o pesquisador.


Repetição


Preocupado em não caracterizar negativamente essas áreas da cidade, entre as quais o Dom Pedro, que recebe hoje grandes investimentos por conta da cidade ser uma das sedes da Copa do Mundo de 2014, Sylvain, no entanto, argumenta que nos cálculos da temperatura de superfície relativa por bairro, eles apareceram de maneira repetitiva nas imagens com uma temperatura acima das demais identificadas na cidade. Isso até causou estranheza porque são bairros que têm boa vegetação, o que indica a necessidade de análises mais detalhadas. “Quando analiso Manaus, vou subtrair esse valor da região para saber quanto a mais tem essa ilha de calor”, diz ele, explicando que a  temperatura absoluta é mais difícil de calcular porque teria que ter um ponto relativamente homogêneo da temperatura.


O resultado final do projeto deverá servir de alerta ao setor de urbanismo da cidade sobre que medidas a serem tomadas para minimizar esse problema, que responde por alterações na saúde da população. “A indicação dos locais onde existe a elevação da temperatura mostra um problema sério. Aquecimento é uma questão de saúde pública, basta ver o caso da Europa, onde ondas de calor matam até 20 mil pessoas a cada ano”, adverte.


Ruas devem ter muita arborização


O pesquisador Sylvain Desmoulière argumenta que o aumento da temperatura deve estar na agenda da cidade. “Manaus poderia ter mais ruas do tipo ‘paraíso’ como a Ramos Ferreira, cuja arborização garante uma sensação térmica agradável”, diz ele, afirmando que a arquitetura deve construir prédios e casas capazes de aproveitar ventilação natural e manter a vegetação. “As informações são indicativos para se repensar atitudes e decisões porque sem a plantação de árvores não será possível baixar a temperatura”, afirmou. Sylvain apontou ainda a relação da remoção de corpos d’água com o calor. Quando se mexe com a água de um leito, retira-se uma fonte de resfriamento, mas ainda assim há alternativas para amenizar o aquecimento, do contrário os manauenses sofrerão mais com os efeitos desse problema.


Fonte: A Crítica


Publicado em 6/1/2012.

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