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17/05/2013

Brasil e França discutem gestão de hospitais de alta complexidade

Marina Lemle


O papel dos hospitais de alta complexidade no sistema nacional de saúde e o desafio da criação de dois Institutos Nacionais vinculados à Fiocruz – o Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF) e o Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (Ipec) – estiveram em discussão no 1º Colóquio Franco-Brasileiro de Política Hospitalar: o Desafio da Gestão dos Centros Hospitalares de Alta Complexidade, que terminou nesta sexta-feira (17/5), no Rio de Janeiro. Fruto da cooperação técnica em gestão hospitalar firmada entre a Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) e a Ecole des Hautes Études em Santé Publique (EHESP), o colóquio contou com o apoio da Vice-Presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde (VPAAPS) da Fiocruz e teve por objetivo propiciar a troca de experiências entre profissionais brasileiros e franceses em políticas e gestão da atenção hospitalar. Também estiveram na pauta novas tendências em gestão da atenção hospitalar, arranjos organizacionais, sistemas de governança e o funcionamento de redes integradas nos sistemas de saúde.

 

Presente à mesa de abertura do colóquio, o presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha, lembrou que os laços de cooperação do Ministério da Saúde com a França são antigos e estão sendo fortalecidos pela cooperação com a Fiocruz. Gadelha abordou as mudanças no IFF e no Ipec, que surgiram com foco na atenção à saúde nas suas respectivas áreas, incorporaram a pesquisa acadêmica e o ensino de pós-graduação e agora transformam-se em institutos nacionais. "Estamos buscando definir com maior clareza a missão dos Institutos Nacionais, levando em conta os componentes centrais da atenção, mas incorporando também as dimensões de pesquisa e ensino e da formulação de políticas de estado de atenção à saúde. Precisamos pensar a gestão não só nas tecnicalidades dos processos, mas também num sentido mais amplo e pleno, dialogando com os contextos onde os hospitais estão inseridos", disse.

 

Gadelha observou que os desafios do SUS ainda se colocam devido à sua grande abrangência – o Brasil é o único país do mundo com mais de 100 milhões de habitantes que se propõe a dar cobertura universal de saúde. Segundo ele, é preciso discutir também as relações público-privadas e as vocações e especificidades relacionadas ao cuidado à saúde. Gadelha acrescentou que a Fiocruz está construindo uma rede de atenção que reúne hospitais e institutos para estimular a troca de experiências técnicas de gestão, a análise dos perfis epidemiológicos e a reflexão sobre como os hospitais e institutos da Fundação se inserem no contexto maior do SUS.

 

Entusiasta da cooperação entre Brasil e França, o vice-presidente de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde, Valcler Rangel Fernandes, mediou a mesa sobre as políticas hospitalares atuais nos dois países. Ele apontou os desafios brasileiros de escala e escopo na inserção dos hospitais num sistema de saúde com singularidades pelo seu tamanho, o quadro epidemiológico com diversas doenças, como as cardiovasculares, o câncer e traumas por violência, e a necessidade de atenção especializada. Além disso, Rangel destacou que a população está cada vez mais exigente em relação à qualidade dos serviços.

 

“A população necessita e exige qualidade, segurança e relações pessoais cultivadas no momento do cuidado da atenção à saúde. Esta é uma questão fundamental para dirigentes hospitalares”, disse. Rangel acrescentou que profissionais de saúde também têm um grau de exigência e engajamento e colocam questões para a gestão, como as de logística e de modelos de financiamento. Ele citou ainda o desafio do conhecimento, no qual é preciso encontrar soluções com criatividade e inovação.

 

Sobre os institutos nacionais da Fiocruz, cujo processo de implantação está sob responsabilidade da VPAAPS, Rangel disse ser necessário discutir quais características diferenciadas devem ter em relação aos institutos que já existem e como formar pessoas e fazer pesquisas para atender a essas necessidades. “Estamos construindo novos hospitais que já existem, eles estão em metamorfose. Nosso entusiasmo é gerado por esses desafios. Serão três dias de troca, e este é apenas o primeiro colóquio”, concluiu.

 

Atenção básica e de alta complexidade: complementares na integralidade

 

A diretora do Departamento de Atenção Especializada da Secretaria de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde (DAE/SAS/MS), Maria do Carmo, apresentou a situação hospitalar no Brasil: são ao todo 7219 hospitais, sendo 4266 (59%) privados e 2953 (41%) públicos. A maioria dos públicos são municipais (76%). Segundo o levantamento do MS, 97% dos leitos públicos estão vinculados ao SUS e 70% dos leitos dos hospitais privados. Do total de 417 mil leitos, 350 mil são vinculados ao SUS (85%). A maioria dos hospitais (58%) têm menos de 50 leitos, sendo que a maior concentração destes é no Nordeste. A maioria dos hospitais de pequeno porte (menos de 30 leitos) são públicos municipais (91,7%). A maioria dos hospitais de grande porte (acima de 500 leitos) estão na região Sudeste (48,9%). A maioria dos leitos de UTI estão localizados em hospitais acima de 100 leitos (88,8%) e em hospitais públicos estaduais (61,3%).

 

Maria do Carmo disse que a atenção à saúde hoje no país segue um modelo médico-hegemônico, centrado em procedimentos, voltado para atenção aos quadros agudos, organizado por demanda espontânea e é fragmentado e desarticulado. Segundo ela, o empobrecimento da dimensão cuidadora gera insatisfação dos usuários, ineficiência, ineficácia e baixo impacto assistencial. O novo modelo para a atenção hospitalar, de acordo com Maria do Carmo, deve buscar humanização, qualidade, eficiência e atuação em rede. “A atenção básica e de alta complexidade devem ser complementares na integralidade do cuidado, dentro do mosaico epidemiológico que existe no país”, afirmou. Em seguida, o representante do Ministério da Saúde francês Stépane Mantion e o presidente do Conselho dos Diretores Gerais dos Centros Hospitalares Universitários, Philippe Domy, relataram suas experiências de gestão de grandes institutos na França.



Publicado em 17/5/2013.

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