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15/08/2011

Cartas revelam o amor e a dedicação de Oswaldo Cruz aos seus seis filhos

Mara Figueira


Distante da família, por conta de viagens ao Pará, aos Estados Unidos e à Europa, um “velho pai muito saudoso” escreve cartas aos filhos. Recomenda juízo aos mais velhos, aconselha que não faltem ao colégio, pede que poupem a mãe de amofinações e, por fim, pergunta se querem algo de presente  - dentro de suas posses, é claro. Nada muito diferente do que aconteceria em qualquer família, exceto pelo fato de que o “velho pai muito saudoso” em questão é Oswaldo Cruz. O cientista que entrou para a História, entre outros feitos, por livrar o Rio de Janeiro de doenças como a febre amarela, a peste bubônica e a varíola no início do século 20, foi um pai dedicado e amoroso, como revelam as cartas que trocou ao longo da vida com sua mulher e filhos.


 Oswaldo Cruz e seu filho mais velho, Bentinho (Foto: Acervo COC/Fiocruz)

Oswaldo Cruz e seu filho mais velho, Bentinho (Foto: Acervo COC/Fiocruz)


“Oswaldo Cruz era um pai presente e que acompanhava de perto a criação dos filhos”, conta a historiadora Ana Luce Girão, do Departamento de Arquivo e Documentação da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz). Com Emília Fonseca, a Miloca, o cientista teve seis crianças: Elisa, Bento, Hercília, Oswaldo, Zahra – que morreu nos primeiros anos de vida – e Walter. O nascimento de duas delas, Zahra e Walter, o pesquisador acompanhou por carta, já que estava viajando a trabalho. Mas a sua correspondência pessoal mostra o quanto se importava com a chegada de cada um deles.


Em 28 de novembro de 1907, por exemplo, Oswaldo Cruz estava no México e, ao descer para tomar o café da manhã no hotel em que estava hospedado, recebeu um telegrama anunciando o nascimento de sua filha Zahra. “Em vez de ir para o restaurante, corri para a igreja mais próxima para agradecer a Deus a graça que me concedeu”, escreveu ele à mulher. “Fui depois ao telegrafista para te enviar, como faço agora também, um milhão de beijos e carinho de agradecimento pelo sofrimento que tiveste, assim como também para abençoar, ainda que de longe, mais este ente querido, que vem habitar nossos corações. Como estou feliz, satisfeito, contente!”.


 Carta enviada por Oswaldo Cruz a seus filhos (Acervo COC/Fiocruz)

Carta enviada por Oswaldo Cruz a seus filhos (Acervo COC/Fiocruz)


Um pai carinhoso, mas que sabia cobrar


Na correspondência pessoal de Oswaldo Cruz, o carinho pelos filhos também transparece na forma terna com que o cientista chama cada um, seja usando diminutivos, como Bentinho, Oswaldinho, Waltinho, ou apelidos – Lizeta, no caso de Elisa. Como bom pai, Oswaldo Cruz sabia ser duro ao cobrar bom desempenho de todos nos estudos. Que o diga Bento, o primeiro filho homem do pesquisador, batizado com o nome do avô paterno, como mostra a carta a seguir:

 

Meu querido Bentinho,

(...) Agora é preciso completar teus estudos preparatórios que, como deves concordar, foram insuficientes. É preciso que estudes e estudes muito para manteres na escola o nome do teu avô, que soube sempre se impor pelo estudo, pelo caráter, pela delicadeza e pela bondade. Tu és depositário de tudo isso!

(...)

Saudades muito afetuosas de seu verdadeiro amigo muito saudoso,

Oswaldo.


“Com Bento, assim como Elisa, Oswaldo Cruz conviveu mais, pois os dois eram os irmãos mais velhos entre os seis”, conta Ana Luce Girão. “O cientista morreu jovem, com filhos pequenos. Quando faleceu, em 1917, seu filho caçula, Walter, tinha apenas 7 anos”.


A correspondência pessoal do cientista, que revela sua faceta de pai, entre muitas outras leituras possíveis, está sendo microfilmada e digitalizada, assim como todo o acervo de Oswaldo Cruz. A previsão é que o trabalho termine até outubro e que imagens das cartas, assim como dos outros documentos do acervo, sejam colocadas à disposição do público na página do Arquivo da Casa de Oswaldo Cruz na internet e pode ser acessada aqui.


Publicado em 12/8/2011.

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