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16/02/2016

Ciência, história e política se misturam na trajetória do prestigiado Haity Moussatché

Elisa Batalha (Radis/Fiocruz)


No hall dos nomes que marcaram a pesquisa científica brasileira e mundial, e a história da Fiocruz, não pode faltar o de Haity Moussatché — cujo acervo foi doado em dezembro de 2015 à Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz). O pesquisador tornou-se referência mundial em fisiologia e farmacologia e ajudou a formar gerações de profissionais e instituições que são respeitadas até hoje. A trajetória pessoal mistura-se à carreira do cientista e ambas marcaram profundamente os que conviveram com ele ao longo dos seus 88 anos de vida. 

Premiado no Brasil e no exterior, Moussatché foi um dos fundadores da International Society of Toxicology e da Sociedade de Biologia do Brasil (foto: Coleção Haity Moussatché, COC/Fiocruz)

 

Moussatché nasceu em 1910, em Smirna, Turquia, e migrou para o Brasil aos três anos. “Meu nome é uma adaptação ao turco de um nome hebraico, Haiim, que quer dizer Água da Vida, ou Vida”, explicou em uma entrevista concedida em 1985. Eram tempos em que muitos migravam para a América. Assim Haity veio parar no Brasil, um destino então desconhecido sobre o qual se ouviam apenas boatos sobre a febre amarela. 

Acabou se instalando no Rio de Janeiro com a família, onde cresceu e cursou Medicina pela antiga Universidade do Brasil (atual Universidade Federal do Rio de Janeiro). Começou no Instituto Oswaldo Cruz como “interno agregado” — o que hoje se chamaria de estagiário não remunerado —, quando costumava dormir nas dependências do Hospital Evandro Chagas. Formou-se em 1933, e dois anos depois se transferiu para o laboratório que a Fundação Rockfeller mantinha no campus de Manguinhos, destinado à produção de vacina contra a febre amarela. Fez parte do grupo pioneiro de Carlos Chagas, Arthur Neiva, Lauro Travassos, Henrique Aragão, entre outros. 

Em colaboração com outros cientistas de renome como Miguel Osório e Mário Vianna Dias, destacou-se na área de fisiologia. A sua pesquisa de livre-docência, de 1948, tratou das convulsões experimentais. Foi professor dos cursos de bioquímica e hematologia. Passou a integrar o quadro permanente da Instituição por meio de concurso realizado em 1941, e mais tarde, chefiou a Seção de Farmacodinâmica, até 1958, e a de Fisiologia, até 1964. 

Além do reconhecimento internacional e dos inúmeros prêmios (leia matéria na página 28), o que mais o professor Moussatché conquistou ao longo da sua carreira foi a admiração e o carinho dos que conviveram com ele, um “humanista romântico e empreendedor”, como o descreveu Paulo Gadelha, presidente da Fiocruz. 

“Moussatché era um dos mais destacados cientistas da instituição. Reunia qualidades únicas de excelência científica e era um formador de escolas no país e fora dele. A sua pesquisa, a sua atividade científica, sempre tiveram como projeto e compromisso a qualidade de vida das pessoas. Tinha um posicionamento crítico e político de extrema lucidez e um trato com as pessoas que era a um só momento firme e de grande ternura e acolhimento”, relembra Gadelha, que conheceu o cientista e participou de uma longa entrevista de resgate da trajetória do pesquisador entre dezembro de 1985 e janeiro de 1986, após a reintegração de Haity — ele fora cassado pela ditadura militar — ao país e à Fiocruz. 

Lembrado como de personalidade amável e acolhedora, e muito apaixonado pelo que fazia e pela instituição, até os dias atuais Haity arranca expressões de admiração de quem o conheceu. “Era uma figura incrível. Quando estava com 70 anos, tinha projetos para os cinco, dez anos seguintes. Quando estava com 80 anos, continuava tendo projetos para mais anos à frente”, relembrou a cientista social Wanda Hamilton, pesquisadora da COC. Ao lado de Gadelha, ela entrevistou Haity pouco depois do seu regresso ao Brasil, e escreveu sobre o exílio do pesquisador após o episódio conhecido como Massacre de Manguinhos (consulte a Radis número 120). 

Continue a leitura da reportagem no site da Radis

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