Agência Fiocruz de Notícias

A violência não é uma abstração: ela se manifesta e adquire formas concretas na realidade em que as pessoas vivem. Por isso, estudar a violência e seus impactos não pode ser uma tarefa restrita ao universo teórico. Para compreender o fenômeno – e, mais, para intervir nessa realidade concreta e prevenir a violência –, é necessário fundamentar-se em pesquisas empíricas. Esse embasamento na experiência, combinado, na medida certa, com análises teórico-conceituais, é justamente o que o livro Violência sob o olhar da saúde: a infrapolítica da contemporaneidade brasileira oferece a seus leitores. Organizada pelas pesquisadoras Maria Cecília de Souza Minayo e Edinilsa Ramos de Souza, a coletânea chega à sua segunda reimpressão e se mantém atual, pois sintetiza conhecimentos científicos já produzidos sobre o tema "violência e saúde" e delineia tendências futuras. E o futuro, no caso, é agora.

O livro, que leva o selo da Editora Fiocruz, está dividido em duas seções. Na primeira, os autores buscam compilar e contextualizar os dados e as reflexões disponíveis sobre "violência e saúde", em abordagens quantitativas e qualitativas. Há, ainda, um esforço para conceituar a violência em termos históricos, filosóficos, sociais e culturais. Já a segunda parte apresenta estudos sobre grupos específicos, como crianças e adolescentes, mulheres e idosos. Somam-se capítulos dedicados a temas transversais, onde os autores analisam as relações da violência com as drogas e a mídia.

Todos os textos são assinados por profissionais ligados ao Centro Latino-Americano de Estudos de Violência e Saúde (Claves) da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz). Originalmente publicado em 2003, o livro comemorava, então, os 15 anos de atuação do Claves, centro de referência no assunto, não só na condução de pesquisas, mas também no suporte à elaboração e avaliação de políticas públicas e programas de ação para o enfrentamento da violência.

Um dos diferenciais do trabalho do Claves, em geral, e desse livro, em particular, é pensar os impactos da violência na saúde de um modo abrangente, não limitado às fronteiras disciplinares. De acordo com as organizadoras, a coletânea “passa a limpo a produção brasileira, lançando olhares a contribuições internacionais com radical disposição transdisciplinar, ao mesmo tempo em que, com sofisticação metodológica e consistência empírica, revisa os dados nacionais, regionais, estaduais e locais sobre as chamadas mortes por ‘causas externas’”, denominação que enquadra as violências e os acidentes.

“Violência sob o olhar da saúde demonstra por que o Claves tornou-se referência no campo das instituições especializadas no estudo da violência, em seus múltiplos aspectos”, destaca, no prefácio do livro, o renomado sociólogo Luiz Eduardo Soares, ex-secretário nacional de Segurança Pública. Se, até a década de 1990, o tema "violência e saúde" restringia-se ao enfoque biomédico das lesões físicas e doenças mentais associadas a "causas externas", hoje – com a importante contribuição de pesquisadores como os do Claves – o assunto tornou-se pauta estratégica e prioritária na agenda governamental. “Formulação e implantação de políticas públicas não podem prescindir das reflexões e informações aqui reunidas. Quem quiser entender e fazer alguma coisa para reduzir a magnitude de nossa tragédia cotidiana não pode adiar a leitura deste livro”, conclui Soares.

Publicado em 21/9/2011.