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07/08/2006

Cuidar, controlar, curar Ensaios históricos sobre saúde e doença na América Latina e Caribe

Pablo Ferreira





















Cuidar, controlar, curar: ensaios históricos sobre saúde e doença na América Latina e Caribe

Organizadores: Gilberto Hochman e Diego Armus

Editora Fiocruz

568p. R$ 46,00

Cartaz utilizado entre 1946

e 1948 em campanha

antialcoólica na Colômbia

Detalhe do quadro El velorio (1893), pintado pelo porto-riquenho

Francisco Oller (1833-1917)

Abordando elementos históricos e culturais, Cuidar, controlar, curar é composto por 14 ensaios que procuram dissertar sobre as práticas relacionadas à saúde e à doença na América Latina e Caribe. O livro conta com textos sobre México, Costa Rica, Peru, Bolívia, Colômbia, Argentina, Haiti e Porto Rico, além do próprio Brasil, é claro.


O primeiro texto descreve o estabelecimento da profissão médica no México no período que vai de 1821 a 1917, durante numerosos eventos históricos, tais como revoluções e guerras contra Espanha, França e EUA e que definiram o que seria o país no século 20. A presença norte-americana aparece novamente quando, ainda na região da América Central, fala-se sobre a influência da Fundação Rockefeller sobre o governo costa-riquenho na luta, não contra a esquerda ou os antiimperialistas, mas sim contra a anquilostomíase, popularmente e graças a Jeca Tatu, conhecida no Brasil como amarelão.


Passando-se para o ambiente sul-americano, o muitas vezes silencioso heroísmo latino-americano é redescoberto no capítulo em que a história do médico Manuel Núñez Butrón é contada. Junto com ela a do surgimento de uma brigada de saúde e de um jornal dirigido à população com os objetivos de ampliar a vacinação contra a varíola e promover uma campanha contra o tifo no Peru. Ao lado a Bolívia, onde em 1948 surgia o manicômio Pacheco, que segundo anunciava-se na época trazia o que havia de mais moderno na época: remédios, terapia eletroconvulsiva e até mesmo psicanálise. No entanto, tal ambiente ressaltava as diferenças sociais entre classe dominante, da qual fazia parte os médicos, e índios, mulheres e operários, muitas vezes considerados loucos apenas por exigirem direitos de cidadania.


Já sobre a Colômbia, fala-se, entre os anos de 1886 e 1948, sobre a luta pela higiene social e contra o alcoolismo, particularmente, em um conflito entre tradição e modernidade, contra o consumo da chicha, bebida resultante da fermentação do milho e muito popular entre os índios. No Sul, a Argentina, cuja população, diferente do resto do continente, costuma ir às ruas para reclamar direitos. Em 1941 não seria diferente, quando o povo exigiu a aplicação da vacina Pueyo, que seria eficaz no enfrentamento da tuberculose. Na verdade, a eficácia da vacina foi muito mais fantasiada pela imprensa do que real, criando assim um clima de histeria entre os doentes.


Do continente para a Ilha Espanhola, no Caribe, onde fica o Haiti, considerado o país mais pobre das Américas. Acusado, em 1983, por parte da imprensa dos EUA como responsável pela epidemia de Aids nas Américas, o Haiti, como grande parte dos países miseráveis do mundo acabou por ter sua população fortemente atingida pela moléstia. Em estudo realizado na pequena comunidade de Do Kay, mostra-se como antes a doença era estigmatizada como problema da cidade e depois como tendo sua origem na feitiçaria, que em parte teria sido enviada pelos próprios EUA. Já sobre Porto Rico, faz-se um ensaio sobre métodos relacionados à saúde, mais especificamente à anemia, utilizados para governar a ilha, território antes colonizado pela Espanha e depois pelos EUA.


Finalmente o Brasil. A maior parte do livro dedica-se ao país: são seis estudos. O primeiro deles disserta sobre a febre amarela e as origens da microbiologia no Brasil e também na Fiocruz. Em seguida fala-se sobre medicina, religião e magia, enfim, as práticas da cura usadas no sul do Brasil no fim do século 19 e início do século 20. Também no início do século passado, situa-se o ensaio sobre sociologia, poder, ideologias e saúde durante a Primeira República (1889-1930). A eugenia também é abordada. Parte da ciência que buscava o aprimoramento da raça humana, a eugenia teve no Brasil seu representante máximo com Renato Kehl, mas extinguiu-se após o início da Segunda Guerra Mundial. Também no período anterior à mesma guerra aborda-se a relação entre a sífilis e o conceito de raça e sua influência na formação de uma identidade nacional. Finalmente, fala-se sobre a institucionalização das ciências sócias e o debate das mesmas sobre a saúde.


Todas essas histórias podem ser lidas mais detalhadamente em Cuidar, controlar, curar. O livro compõe a coleção História e Saúde, que é publicada pela Editora Fiocruz e que tem por objetivo reeditar e publicar estudos clássicos ou originais sobre a história da saúde pública, da medicina e das ciências da vida.

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