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27/10/2006

Discussão sobre desenvolvimento de vacina encerra seminário sobre HIV

Bel Levy


O desenvolvimento de uma vacina para o HIV-1 foi o foco do debate científico que encerrou o Seminário avançado sobre patogênese em HIV/Aids, realizado de 23 a 27 de outubro pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC) com apoio do Programa Nacional de DST/Aids do Ministério da Saúde. Para introduzir a discussão, David Watkins destacou a importância da compreensão da fase aguda da infecção para a produção de uma vacina anti-HIV-1 e apresentou as vantagens do uso de macacos rhesu infectados pelo vírus SIV como modelo para o estudo do HIV-1 – além de ter seqüenciamento viral pré-determinado e sistema imune semelhante ao humano, o modelo permite o acesso a tecidos, o que não é tão simples em pacientes com Aids.


O palestrante expôs artigos científicos que descreveram a evolução da fase aguda da infecção por SIV em macacos e detectaram altas taxas de replicação viral e destruição de linfócitos T CD4+ de memória, em alguns casos superiores a 50%. A partir desta constatação, Watkins conduziu a discussão sobre os possíveis mecanismos utilizados pelo organismo hospedeiro para inibir a replicação viral e controlar a expansão da infecção – questão que intriga cientistas e desafia a produção de uma vacina.


Watkins divulgou ainda o status de 23 estudos clínicos de vacinas – um já finalizado, que testou sem sucesso a ação de anticorpos contra o envelope do vírus; outro, em fase final de testes, desenvolvido na Tailândia; dois em fase intermediária; e 19 em etapa inicial. Para ressaltar a dificuldade no desenvolvimento de uma vacina contra o HIV-1, o pesquisador apresentou quatro passos para a produção de vacinas contra outros patógenos – isolamento do patógeno, inativação química do organismo, obtenção de cepas menos patogênicas e testes de segurança e eficácia em animais e voluntários – e explicou por quê as estratégias convencionais não funcionam contra o vírus da Aids: mesmo quimicamente inativado, o HIV-1 não desencadeia resposta imune importante contra sua cepa selvagem, além de recuperar gradativamente sua virulência.


Frente a essa perspectiva, o palestrante afirmou que encontrar um produto capaz de reduzir – e manter– a carga viral de pacientes abaixo de 1.500 cópias/ml de sangue já seria uma vitória, pois nestas condições a chance de transmissão é mínima. Esse é o objetivo de uma iniciativa de seu laboratório, nos Estados Unidos, para o desenvolvimento, em colaboração com a empresa Merck, de uma vacina anti-HIV-1 que utilize as partículas virais Gag, Tat, Rev e Nef para induzir a resposta imune celular. Watkins também apresentou resultados positivos de tentativas de controle da replicação do SIV em macacos rhesu e discutiu exaustivamente com o público os problemas enfrentados durante os testes, a fim de encontrar entre os estudantes novas idéias e hipóteses capazes de complementar a pesquisa.


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