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08/08/2017

Editoras de revista da Fiocruz falam sobre novo estágio curricular em editoria científica

Flávia Lobato (Portal de Periódicos Fiocruz)


A revista Cadernos de Saúde Pública (CSP) deu início à prática de uma experiência inovadora: o estágio curricular em editoria científica. O objetivo da formação – voltada a doutorandos de quatro programas oferecidos pela Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz), na qual o periódico é editado – é contribuir para que os alunos compreendam melhor o processo da publicação científica. A ideia é abordar desde a avaliação pós-publicação às questões éticas e de integridade em pesquisa, indicadores bibliométricos, fluxo e tempos dos artigos desde a submissão. Durante um semestre, os doutorandos vão ter a oportunidade de aprender com profissionais experientes sobre critérios de avaliação de artigos, indicadores bibliométricos e métricas, fatores que favorecem ou dificultam citações, entre outras questões atuais da área. A iniciativa foi concebida e é coordenada pelas editoras de CSP: Marilia Carvalho, Cláudia Medina Coeli e Luciana Dias de Lima. Nessa entrevista ao Portal de Periódicos Fiocruz, elas contam os detalhes desta experiência pioneira.

Editoras de revista da Fiocruz contam os detalhes da experiência com o novo estágio curricular (foto: Fábio Santos, CSP/Fiocruz)

 

Portal de Periódicos Fiocruz: Como surgiu a ideia de criar um estágio em editoria científica na revista Cadernos de Saúde Pública?

Marilia Carvalho: A Ensp/Fiocruz tem quatro programas de doutorado: Saúde Pública; Saúde Pública e Meio Ambiente; Epidemiologia em Saúde Pública; e Bioética, Ética Aplicada e Saúde Coletiva. A Escola abriu uma oportunidade para que alunos matriculados regularmente nestes programas vivenciem o trabalho editorial de uma revista científica. Participando desta atividade curricular, os doutorandos ganham três créditos e conhecem a editoria durante um semestre. Eles não terão acesso a etapas de avaliação do artigo pré-publicação, já que, por questões éticas, é adotado o modelo duplo-cego de revisão por pares. A Claudia teve a ideia de capacitá-los na etapa de pós-publicação.

Cláudia Medina Coeli: Em 2015, oferecemos uma disciplina no curso de inverno, chamada Os bastidores da publicação científica. Foi um embrião para esta nova experiência. Os objetivos são os mesmos, mas o formato é diferente. Agora, a ênfase é na avaliação pós-publicação. Queremos formar revisores capazes de discutir questões atuais e importantes relacionadas à integridade em pesquisa e a outros temas relevantes nesta área.

Portal de Periódicos Fiocruz: Vocês fizeram algum benchmarking? Esta é uma experiência inovadora?

Marilia Carvalho: A carência de pareceristas é um problema comum às revistas e, sim, há vários cursos similares oferecidos em eventos. Mas nada que se assemelhe ao estágio, que é bem diferente. Portanto, sim, é uma novidade.

Cláudia Medina Coeli: Há revistas que têm trabalhado com editores júnior em seu corpo editorial. Mas a gente queria abrir mais, mostrando um pouco como funciona esse mundo da editora científica que vem se profissionalizando muito, mas, que ainda é pouco conhecido na academia, tanto pelos alunos quanto pelos pesquisadores. O estágio é bastante amplo. A ideia é trabalharmos tudo o que é importante, hoje, em editoração científica: processo de revisão, fluxo na revista, indicadores de avaliação, as questões éticas e a produção em si. Nosso intuito é tornar mais acessível para o pesquisador em geral uma compreensão mais ampla do papel de uma revista científica e seus processos.

Luciana Dias de Lima: É interessante pensar que a revista de Cadernos de Saúde Pública se insere no campo da saúde coletiva, e temos a Ensp/Fiocruz como instituição mantenedora. Nosso compromisso é com a formação. Todas nós temos experiência como docentes em programas de pós-graduação, orientamos alunos de doutorado e sabemos que a editoria científica é um campo de prática importante na formação dos pesquisadores.

Marilia Carvalho: O editorial Roda Viva, assinado pela então editora de CSP, Claudia Travassos, quando ela se despede da revista, trata disso. Ela reconhece que só entendeu o que era ser uma editora-chefe, atuando como editora-chefe...

Portal de Periódicos Fiocruz: Mas, ao mesmo tempo, esta formação acaba gerando uma contrapartida interessante para a revista, certo?

Cláudia Medina Coeli: Claro, estamos formando alunos para a avaliação, mas também poderemos avaliar nossa revista pós-publicação. Somos muito criteriosos quanto à qualidade, nosso corpo editorial é muito competente e qualificado. Nós três trabalhamos muito juntas nas decisões editoriais e também com nossos editores. Mas, a despeito disso, é bom saber o que de fato é o produto final. O estágio dos doutorandos é um ganho para a revista, será mais uma forma de fazer o controle de qualidade.

Marilia Carvalho: Poderemos entender a diversidade, fazer avaliações por subárea da saúde coletiva, o que vem saindo, qual amplitude do escopo que estamos conseguindo capturar. Existe algum tema que seja interessante que está mal dimensionado? Só podemos fazer este balanço percorrendo alguns anos de publicação: olhando, analisando, classificando, interpretando. É uma avaliação qualitativa.

Luciana Dias de Lima: Vamos oferecer discussões sobre temas da editoria científica, como integridade em pesquisa, critérios de avaliação dos artigos, métricas e avaliação a partir de indicadores bibliométricos, razões que favorecem ou dificultam as citações.

Marilia Carvalho: Ainda precisamos entender por que há artigos que são muito citados ou não, há fatores imponderáveis ainda que desconhecemos. Queremos mergulhar mais nisso para compreender melhor o que está acontecendo no mundo das publicações científicas.

Cláudia Medina Coeli: Essa reflexão crítica já é feita por Cadernos, mas queremos ampliar a nossa compreensão. Nossas decisões editoriais não são pautadas apenas pelos indicadores, mas sabemos que esta é uma questão importante.

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