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10/08/2006

Especialista da Opas comenta os desafios da gripe aviária para a América Latina

Raquel Aguiar e Renata Fontoura


Representantes de cinco países da América Latina participaram no Instituto Oswaldo Cruz (IOC), uma unidade da Fiocruz, de um treinamento em técnicas moleculares de detecção do vírus influenza e seus novos subtipos, incluindo o H5N1, agente etiológico causador da gripe aviária. Atendendo a uma solicitação da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), o International Workshop in Molecular Diagnosis of Influenza foi oferecido de 2 a 6 de maio pelo Laboratório de Vírus Respiratório e Sarampo do IOC, que participa da rede de vigilância montada pelo Ministério da Saúde para prevenir a entrada do vírus no país e é responsável pelo diagnóstico em amostras humanas. Na entrevista a seguir, o assessor regional em Enfermidades Virais da Opas, Otavio Oliva, reafirma a importância do trabalho que vem sendo desenvolvido pelo IOC para identificar rapidamente os focos da doença e ressalta a necessidade da preparação de um plano de ação em países que, como o Brasil, ainda não receberam o vírus.


O controle de uma possível pandemia é um desafio. Qual a importância de trocar experiências e informações em treinamentos como este oferecido pelo IOC?

Otavio Oliva:
Se acontecer, esta será a primeira pandemia anunciada da história. Temos o dever de estar preparados, não só para a disseminação do vírus H5N1, causador da gripe aviária, como para qualquer outro novo subtipo de influenza que possa ter potencial pandêmico. Os países precisam ter a capacidade de identificar rapidamente estes subtipos e controlá-los localmente. Por isso, realizamos treinamentos e cursos. Este é o segundo treinamento que a Opas promove na região. O primeiro ocorreu na Argentina e participaram México, Panamá, Argentina e um laboratório brasileiro de Belém do Pará. Este que houve no IOC teve a participação de representantes da Costa Rica, Venezuela, Colômbia, Peru e Paraguai.


Qual a real situação, hoje, da gripe aviária no mundo?

Oliva: O problema está restrito à Ásia, parte do Oriente Médio e à África, onde há uma intensa circulação do H5N1 em aves domésticas. Quando o vírus se estabelece nestas aves, aumenta o risco de infecções humanas e cria oportunidade para gerar uma cepa pandêmica. Por isso, é preciso fazer um diagnóstico laboratorial e detectar rapidamente a presença do vírus para que se faça o devido controle nas aves infectadas.


Então, o diagnóstico precoce é fundamental?

Oliva: Com certeza, porque permite que sejam adotadas medidas de controle necessárias para evitar a disseminação do vírus para fora daquela comunidade que foi afetada, onde o vírus foi identificado. Medidas internacionais de controle são pouco efetivas, já que o vírus influenza começa a ser transmitido dois dias antes dos sintomas aparecerem. Portanto, se o paciente embarca em um avião hoje e desembarca em outro país amanhã, ele não vai apresentar sintoma nenhum.


Se o vírus chegar às Américas, quais serão as armas de defesa?

Oliva: O primeiro passo seria tentar diminuir a velocidade da disseminação do vírus por meio de medidas de saúde pública e medidas de contenção. Além disso, é preciso estar com todo o sistema de saúde e seus serviços preparados para atender à grande quantidade de pacientes com casos graves de enfermidades respiratórias agudas que podem vir a acontecer.


É possível avaliar a real possibilidade de uma pandemia acontecer?

Oliva: A Organização Mundial de Saúde (OMS) classifica o perigo de uma pandemia em seis fases, dividas em três etapas. A primeira etapa é o período inter-pandêmico, quando não há risco. Em seguida, temos o período de alerta, divido em três fases e, por fim, o período pandêmico. Hoje, vivemos a segunda fase do período de alerta: existe um novo vírus de influenza circulando em animais, que tem a capacidade de infectar pessoas, mas ainda não adquiriu a capacidade de transmissão pessoa a pessoa.


Pode-se prever quando a transmissão pessoa a pessoa começará a ocorrer?

Oliva: Não. Como também não sabemos qual será a cepa, onde vai acontecer e qual a gravidade. Mas precisamos estar preparados como se fosse acontecer amanhã. Os países têm que desenvolver seus planos de preparação para a pandemia e colocá-los para funcionar principalmente em níveis locais, como centros de saúdes e distritos sanitários. A vigilância precisa estar na ponta do sistema, já que lá será possível identificar e conter o surgimento de uma pandemia. As respostas também terão que ser dadas a nível local porque a transmissão pessoa a pessoa deve acontecer inicialmente em pequenos conglomerados, localizados em determinadas regiões do país, para depois acontecer em conglomerados maiores em outras regiões geográficas e, logo em seguida, ocorrer a dispersão.

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