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27/03/2017

Especialista destaca importância do vínculo materno no desenvolvimento infantil

Suely Amarante (IFF/Fiocruz)


A formação do vínculo materno não é automática e imediata, pelo contrário, é gradativa e, portanto, necessita de tempo, compreensão e amor para que possa existir e funcionar adequadamente. Estudos revelam que a construção desse laço afetivo na gestação é fundamental, e é estabelecido pela mãe, na maioria das vezes, através do contato com o feto que pode ser constituído por meio da fala, do toque na barriga e do afeto. É através dessa relação afetiva que a mulher conseguirá vivenciar a gravidez de maneira saudável e ter uma maior integração com o seu bebê, visto que esse contato favorece a formação de vínculos afetivos futuros, e a organização e maturação da identidade da criança.

Para melhor explicar as etapas dessa ligação e entender as sensações que norteiam esse vínculo, a coordenadora técnica de Saúde Mental do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), Maria Jacqueline de Vicq, fala sobre o assunto.

Quando, em geral, a mulher começa a se sentir mãe? Essa sensação (de que ela se tornou mãe) pode ocorrer ainda na gravidez?

Maria Jacqueline de Vicq: Se a mulher consciente ou inconsciente deseja ter um filho muito antes de estar grávida, a sensação de se sentir mãe pode começar a existir desde o início da gravidez. Na medida em que essa gestação avança, a mulher irá lidar com o seu desejo maternal e as angustias específicas de cada etapa. A cada ciclo da gestação, a mulher terá de lidar com as incertezas especificas. Enquanto no primeiro trimestre pode surgir o medo do aborto espontâneo, no segundo há preocupações com o desenvolvimento e a movimentação do bebê. Já no final da gravidez, a proximidade do parto tende a ser motivo de ansiedade. A maneira como ela irá enfrentar tais sentimentos, o que varia conforme a mulher, vai permitir um grau maior ou menor de consciência da maternidade.

A identidade com a maternidade pode surgir ainda na infância?

Maria Jacqueline: Na idade de três a quatro anos, a criança já é capaz de se relacionar intensamente com as pessoas que a cuidam, tornando possível a existência de intensos sentimentos de amor, ciúmes, medo e raiva. No começo dessa fase, tanto o menino quanto a menina, habitualmente, mantêm com sua mãe e com seu pai relações afetivas de muita proximidade. Normalmente, a menina se identifica com a mãe ao brincar de ser mãe, com suas bonecas. Nesse processo, a criança experimenta, de uma forma lúdica, uma série de sentimentos que envolvem a maternidade.

O apoio familiar contribui para o fortalecimento do vínculo mãe-bebê? Como?

Maria Jacqueline: A mulher grávida precisa de apoio emocional do companheiro e da família, principalmente em momentos de tensão, estresse e nervosismo, esse apoio e segurança farão com que a gestante se sinta mais tranquila, o que irá proporcionar o desenvolvimento saudável do feto, a figura paterna é fundamental no desenvolvimento e na formação desse vínculo. Toda forma que o pai tem de melhorar o estado emocional da companheira gestante é bem-vinda, nessa fase, a mãe está fragilizada com preocupações da maternidade, trabalho e mudanças pelas quais seu corpo está passando.

Como o vínculo mãe-bebê pode ser fortalecido após o nascimento?

Maria Jacqueline: O vínculo mãe-bebê é fortalecido no momento da amamentação, pois a primeira relação social do bebê seria com a figura da mãe, representada pelo seio materno. O leite, o calor e o contato com o corpo da mãe, seu cheiro (que ele reconhece) e o som dos batimentos cardíacos o instigam. É assim que ele descobre o mundo e começa a ter consciência de si mesmo. O prazer proporcionado pelo ato de sugar e o amparo da mãe fazem com que o bebê se sinta acolhido e seguro.

E as mães que não podem amamentar?

Maria Jacqueline: Se o bebê for alimentado com afeto, a experiência vai lhe transmitir segurança de qualquer maneira. Perdem-se alguns benefícios da amamentação, mas não a oportunidade de estreitar o vínculo. O colo, as conversas, as trocas de carinho também cumprem essa função.

A privação do vínculo afetivo materno pode contribuir para distúrbios psicológicos na infância?

Maria Jacqueline: As relações afetivas estabelecidas entre a mãe e o seu bebê são fundamentais para assegurar a construção do psiquismo da criança, possibilitando um desenvolvimento saudável da personalidade e dos comportamentos sociais. É através do relacionamento seguro, contínuo e afetivo que a criança desenvolve a formação da sua autoestima e toma conhecimento do mundo exterior.  Desta forma, a privação desse vínculo pode levar a uma série de distúrbios, que irão variar conforme o grau de privação.

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