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31/07/2009

Especialista orienta gestantes na prevenção da influenza A (H1N1)

Irene Kalil


A gripe A, que ficou conhecida popularmente como “gripe suína”, é uma doença respiratória aguda causada pelo vírus A (H1N1), um subtipo do vírus da influenza. A doença é transmitida de pessoa a pessoa, principalmente por meio de tosse ou espirro e contato com secreções respiratórias de indivíduos infectados. Dados do Ministério da Saúde indicam que, entre 25 de abril e 18 de julho deste ano, 1.566 pessoas tiveram diagnóstico confirmado da nova gripe. Mulheres grávidas estão no grupo de risco em relação à contaminação pelo vírus, e, somente no Estado do Rio de Janeiro, segundo informações da Secretaria de Estado de Saúde e Defesa Civil, 55 gestantes permanecem internadas com complicações respiratórias atribuídas à doença. Na entrevista a seguir, o clínico geral e chefe-substituto do Departamento de Obstetrícia do Instituto Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), Miguel Angel Mateos Hermosa, orienta as gestantes sobre como se prevenir do contágio pelo vírus da influenza A (H1N1) e o que fazer caso apareçam sintomas da doença.


Por que as gestantes estão no grupo de risco em relação a muitas doenças, inclusive influenza A (H1N1)?

Miguel Angel Mateos Hermosa (MAMH):
Entende-se que a gestação promove uma alteração (queda) na imunidade da mulher, o que a torna mais propensa a processos infecciosos, bacterianos ou virais, tanto na facilidade de aquisição como na maior gravidade da apresentação. Ainda não existem dados consistentes em todos os grupos populacionais estudados, nos diferentes países, em relação ao contágio pela influenza e à evolução da doença em gestantes. Entretanto, os crescentes casos de grávidas sem co-morbidades anteriores que, ao contraírem o vírus, evoluíram para um quadro de maior gravidade e até mesmo para óbito fizeram com que, hoje, a gestação seja considerada a principal condição de risco para quadros graves de influenza A. A Secretaria de Estado de Saúde e Defesa Civil do Rio de Janeiro propõe um rastreamento criterioso de todas as gestantes com quadro respiratório agudo, submetendo-as a exame clínico minucioso, além de rotina laboratorial e de imagem, na tentativa de identificar os casos mais propensos à gravidade. Em caso de dúvida sobre o diagnóstico e a gravidade da doença, a sugestão é a internação com maior liberalidade para promover uma vigilância inicial do quadro.  


Quais são as medidas que a gestante deve adotar para se proteger do contágio pelo vírus da nova gripe?

MAMH: A gestante deve adotar as mesmas medidas indicadas pelo Ministério da Saúde para a população em geral: cobrir o nariz e a boca ao espirrar ou tossir com lenço de papel descartável ou, na falta deste, com a dobra interna do cotovelo; lavar as mãos constantemente, com água e sabão, ao chegar ou sair de um ambiente e após espirrar ou tossir; evitar tocar boca, nariz e olhos com as mãos; dar preferência a ambientes abertos, limpos e ventilados; lavar utensílios de uso pessoal com água e sabão após o uso e evitar seu compartilhamento; e minimizar o contato com pacientes infectados pelo vírus ou que apresentem sinais de alguma síndrome respiratória aguda. Se a gestante não puder evitar o contato direto com um filho, marido ou colega de trabalho que esteja doente, é importante que ela faça sempre a higiene das mãos após tocá-lo e evite ficar com o rosto muito próximo ao dele, pois as gotículas de saliva expelidas durante a fala ou tosse podem transmitir a doença. É preciso tomar as devidas precauções, mas sem desencadear um quadro de pânico na população. Com a radicalização nas orientações, todos teriam de evitar o uso de transportes coletivos e a permanência em escolas, repartições e outros ambientes fechados, o que acabaria comprometendo a normalidade da vida nas cidades.


A gestante que contrai o vírus da influenza A (H1N1) pode transmiti-lo ao feto?

MAMH:
Assim como ocorre com outras doenças, o vírus da influenza A pode ser transmitido pela mãe ao feto através da barreira placentária, mas não existem estudos que identifiquem o grau de prevalência da gripe A nos fetos de mães infectadas. No Brasil, já houve casos em que a grávida faleceu em decorrência da influenza A e o bebê nasceu saudável, e outros em que a grávida infectada faleceu e o bebê já estava morto intra-útero. Sabe-se, por exemplo, que muitas gestantes contraem o vírus da gripe sazonal ou influenza comum durante a gravidez, inclusive no primeiro trimestre, quando é grande o risco de malformações e aborto espontâneo, e não há dados relevantes apontando sequelas maiores para o feto em decorrência da infecção. A gripe causada pela influenza A (H1N1), por outro lado, é uma doença muito nova e não está totalmente mapeada na sua apresentação clínica e morbi-mortalidade. Por isso, ainda é cedo para afirmar, com certeza, qual o seu grau de virulência e disseminação para o feto de uma mãe infectada, e se o bebê que contrai a doença dentro do útero materno pode sofrer qualquer tipo de sequela, como malformações e outras.


Ao apresentar sintomas associados ao vírus da influenza A (H1N1), o que a gestante deve fazer?

MAMH:
A Secretaria de Estado de Saúde e Defesa Civil do Rio de Janeiro indica que qualquer paciente que apresente queixa de doença respiratória aguda procure o teleatendimento (Disque Gripe – 0800 2810100) para estabelecer um contato inicial. Mas, como a gravidez vem sendo considerada principal fator de risco para uma evolução ruim da gripe A, temos orientado nossas gestantes a procurarem as unidades clínicas próximas à sua residência ao sentirem os primeiros sinais de gripe, para que sejam realizados um exame clínico minucioso e os exames laboratoriais que se façam necessários à confirmação da doença. Nem sempre o paciente tem o entendimento do sintoma e sua gravidade. No caso da grávida, alguns sinais da gripe, como a dificuldade respiratória, por exemplo, podem mesmo ser confundidos com sintomas associados à própria gestação. 


E no caso de a doença ser confirmada?

MAMH:
Como a confirmação laboratorial (PCR para influenza H1N1) demora de uma a duas semanas, o que os médicos terão em mãos é uma paciente com doença respiratória aguda atribuída à suspeita de infecção por gripe A. Casos suspeitos e com alterações dos exames laboratoriais, clínicos e de imagem iniciais serão internados. O local da internação (enfermaria, CTI etc.) e a conduta clínica dependerão da gravidade do caso e serão indicados e modificados conforme a evolução da doença. A internação liberal (internação preventiva de uma paciente que, normalmente, não teria indicação clínica de internação), o rastreio de infecções oportunistas associadas ao quadro viral e a instituição precoce do tratamento com antiviral são medidas que têm se mostrado úteis no tratamento dessas pacientes. Com dados estatísticos mais relevantes, poderemos construir um mapeamento mais fiel da doença, o que permitirá, inclusive, agregar alguns outros processos de atenção à saúde que ainda não são utilizados. Por não dispor de um Centro de Tratamento Intensivo (CTI) para adultos, o IFF receberá apenas gestantes com sintomas leves da gripe A. Aquelas que apresentarem desdobramentos mais graves da doença, como transtornos hemodinâmicos ou necessidade de suporte ventilatório, serão encaminhadas às unidades terciárias que possuam CTI adulto, por meio de contato direto ou via Central de Regulação de Vagas para Influenza A, vinculada à Secretaria de Estado de Saúde e Defesa Civil do Rio de Janeiro.



Publicado em 31/07/2009.

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