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16/01/2017

Especialistas orientam sobre prevenção contra febre amarela

Agência Fiocruz de Notícias (AFN)


Especialistas do Ministério da Saúde (MS) e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) seguem acompanhando a investigação de casos suspeitos de febre amarela silvestre no Brasil (acompanhe mais informações sobre novos casos e orientações atualizadas sobre áreas de recomendação para vacinação no site do MS). Doença infecciosa febril aguda, causada por um vírus transmitido por mosquito, a febre amarela não é registrada em centros urbanos do Brasil desde a década de 1940. Os casos em investigação em Minas Gerais se referem à febre amarela silvestre, presente em regiões silvestres, rurais ou de mata no país. A febre amarela silvestre e a febre amarela urbana são causadas pelo mesmo vírus, mas são transmitidas por diferentes mosquitos.

“Apesar de a área acometida ser considerada área de potencial transmissão de febre amarela, sem ter havido expansão até o momento para novas áreas, o número de casos observados é acima do esperado, levando a maior preocupação”, afirma o médico infectologista André Siqueira, integrante da equipe do Laboratório de Pesquisa Clínica em Doenças Febris Agudas do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz). “Uma conjunção de fatores pode estar associada ao aumento de casos de febre amarela, todos relacionados a certa elevação da quantidade de vírus da febre amarela circulante em determinada região, valendo destacar: um aumento da população suscetível (não imune) tanto de humanos quanto de macacos; maior proximidade entre macacos, mosquitos e humanos que podem se dever a fatores ambientais, climáticos e/ou demográficos; e baixa cobertura vacinal”, explica.

Segundo o pesquisador, a diferente classificação de febre amarela urbana e silvestre diz respeito ao ambiente ou contexto onde a transmissão ocorre. Na febre amarela silvestre, os mosquitos dos gêneros Haemagogus e Sabethes transmitem o vírus e tem os macacos como os principais hospedeiros. A contaminação de seres humanos ocorre quando uma pessoa não vacinada é picada por um mosquito contaminado pelo vírus. Na febre amarela urbana, o vírus é transmitido pelo mosquito Aedes aegypti ao homem. Especialistas reforçam que o vírus nunca é transmitido de ser humano para ser humano.

Restrita a algumas regiões do Brasil, a febre amarela tem como sintomas iniciais febre, calafrios, dor de cabeça, dores nas costas, dores no corpo em geral, náuseas e vômitos, fadiga e fraqueza. Em casos graves, a pessoa pode desenvolver febre alta, icterícia (coloração amarelada da pele e do branco dos olhos), hemorragia e, eventualmente, choque e insuficiência de múltiplos órgãos. Se não for tratada rapidamente, a febre amarela pode levar à morte em cerca de uma semana.

De acordo com especialistas, não há tratamento específico para a febre amarela. A vacinação continua sendo a principal medida de prevenção contra a doença, além do controle do vetor. Produzida pelo Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz), a imunização é oferecida gratuitamente no Calendário Nacional de Vacinação do Sistema Único de Saúde (SUS).

“A prevenção contra a febre amarela se dá pela proteção contra a picada de mosquitos com o uso de repelentes e roupas protetoras e com o uso da vacina. A vacina é altamente eficaz e segura nos grupos indicados, conferindo, segundo orientação da OMS, proteção duradoura com uma única dose (o Brasil, no entanto, opta por recomendar e oferecer ao menos uma dose de reforço após 10 anos da primeira)”, esclarece André. “A grande vantagem da vacina é que mesmo que a pessoa receba a picada (já que pode haver dificuldades na cobertura de toda a superfície corporal com repelentes ou reaplica-lo nos intervalos necessários), ela está imunizada. Vale lembrar que crianças abaixo de 6 meses, gestantes e idosos acima de 65 anos, bem como indivíduos em tratamento ou com condições que levem a depressão da imunidade, não devem tomar a vacina ao menos que haja recomendação explícita do médico”, destaca.

Os estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Espírito Santo estão fora da área de recomendação para a vacina. Quem vai viajar para regiões silvestres, rurais ou de mata deve se vacinar contra a febre amarela com pelo menos dez dias de antecedência. Para residentes em áreas de risco, o Ministério da Saúde recomenda, para crianças, a administração de uma dose aos 9 meses de idade e um reforço aos 4 anos. Para pessoas a partir de 5 anos de idade que receberam uma dose da vacina, é necessário um reforço; para quem que nunca foi vacinado ou não possui comprovante de vacinação, é preciso administrar a primeira dose da vacina e um reforço após 10 anos. Pessoas que já receberam duas doses da vacina ao longo da vida já são consideradas protegidas. Saiba mais sobre a campanha de fracionamento da vacina no Rio de Janeiro, São Paulo e Bahia. 

Fiocruz no combate da febre amarela

Além de ser reconhecida internacionalmente como fabricante de vacina antiamarílica, a Fundação Oswaldo Cruz também cumpre papel importante na prevenção, monitoramento e controle da situação, com apoio à vigilância epidemiológica realizada por estados e municípios. A Fiocruz colabora de forma estreita com o MS com a formação de pessoal, desenvolvimento de tecnologias e produção de conhecimento científico no aprimoramento da detecção precoce de cenários de vulnerabilidade e de situações de risco para a tomada de decisão voltadas à proteção da população contra a febre amarela. Os ciclos de ocorrência de febre amarela silvestre, que implicam na participação de espécies de macacos na circulação do vírus, tem apresentado o desafio do desenvolvimento de modelos de vigilância e sistemas de alerta voltados ao monitoramento continuado do comportamento da saúde dos macacos nas regiões endêmicas.

A Fundação realiza pesquisa, desenvolvimento tecnológico e inovação relacionados à biologia molecular do vírus e ainda atua como centro de referência no esclarecimento de casos suspeitos de febre amarela. A Fiocruz também efetua análises laboratoriais em toda a cadeia completa de diagnóstico da doença (sorologia IgM e IgG; PCR; isolamento viral e estudo de genotipagem; imunofluorescência e imunohistoquímica). A instituição trabalha ainda diretamente com o MS e o SUS no desenvolvimento de protocolos de diagnóstico e do manejo clínico de pessoas suspeitas de terem contraído a febre amarela, sendo centro de referência para este fim em suas unidades assistenciais.

Em entomologia, o prestígio obtido por Oswaldo Cruz, Carlos Chagas e Artur Neiva nas campanhas contra malária, febre amarela e a peste bubônica, no início do século 20, permitiu a criação de condições para o estabelecimento de um centro de entomologia com projeção no cenário mundial pelos descobrimentos em vários campos. Hoje, o Departamento de Entomologia do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) conta com uma das maiores coleções entomológicas da América Latina, com mais de um milhão e 200 mil exemplares no seu acervo, localizado no Castelo Mourisco. Entre as principais linhas de investigação destacam-se os estudos sobre taxionomia, sistemática, biologia, ecologia e potencialidade vetora de diversos mosquitos, incluindo aqueles transmissores da febre amarela.

Texto atualizado em 15/1/2018

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