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26/01/2006

Estudo analisa a sobrevida de pacientes com Aids

Catarina Chagas


Atualmente o Brasil tem mais de 135 mil pacientes em tratamento com anti-retrovirais (ARVs) em diferentes serviços de saúde espalhados pelo país, condição primordial para o aumento da sobrevida - nesse estudo, considerada como o período compreendido entre o diagnóstico da doença e o óbito do paciente - das pessoas vivendo com Aids. Um estudo desenvolvido no Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas, da Fundação Oswaldo Cruz (Ipec), revelou que a sobrevida dos pacientes atendidos pela unidade é alta em relação a outros dados nacionais e internacionais. Para a epidemiologista Dayse Pereira Campos, coordenadora do projeto, o bom resultado pode ser atribuído à experiência que o Ipec vem acumulando no assunto desde 1986.


Como a sobrevida é calculada a partir do diagnóstico da doença, os pesquisadores precisaram, primeiro, definir o que considerar um caso de Aids. "O individuo que apresenta HIV positivo pode continuar assintomático por algum tempo", explica Campos. "É muito difícil saber exatamente quando a pessoa foi infectada, de modo que a comunidade científica nacional e internacional estabeleceu alguns critérios para definir casos de Aids".


Inicialmente, a classificação utilizada no Brasil foi proposta pelos Centros de Controle de Doenças (CDC) dos Estados Unidos: considerar como casos de Aids os indivíduos com sorologia positiva para o HIV que apresentam contagem de linfócitos CD4 abaixo de 200 células por mm3 ou algumas doenças oportunistas, como tuberculose pulmonar, pneumonias recorrentes e câncer cervical invasivo. A partir de 1987, no entanto, os pesquisadores brasileiros passaram a fazer revisões técnicas periódicas com o objetivo de adequar a definição às condições clínicas e laboratoriais prevalentes no país. Assim, o critério brasileiro, estabelecido pelo Ministério da Saúde (MS) em 2004, considera três condições para estabelecer caso de Aids em indivíduos HIV positivos: presença de sinais e sintomas de algumas doenças, contagem de linfócitos CD4 abaixo de 350 ou presença de doença definidora, ou seja, de uma ou mais doenças oportunistas que se estabelecem quando o sistema imunológico se encontra fragilizado.


"Em nosso estudo, optamos por adotar os dois critérios", conta Campos. "Assim, pudemos fazer uma análise adequada à realidade do país e, ao mesmo tempo, comparar nossos resultados aos de estudos internacionais que, geralmente, utilizam o critério dos CDC". Tomaram parte na pesquisa os 1.415 pacientes soropositivos do Ipec que evoluíram para Aids até o final de 2003, segundo pelo menos um dos critérios de definição, e o tempo de acompanhamento foi, em média, de 41 meses. A pesquisa avaliou informações clínicas de cada paciente, tratamento adotado pelos médicos e dados sócio-demográficos.


"Em estudos de sobrevida, é comum se apresentar os resultados informando o tempo decorrido até que a metade dos pacientes tenha morrido, ou seja, o tempo de sobrevida mediano", explica a pesquisadora. "Nessa pesquisa, porém, este número não foi alcançado, isto é, ao final do estudo mais de 50% dos pacientes permaneciam vivos". Cerca de 75% dos portadores da doença permaneciam vivos 31 meses após o diagnóstico da Aids segundo o critério do MS. Em relação ao critério do CDC, o número cai para 22 meses.


Considerando apenas os 679 pacientes com primeiro atendimento na instituição após 1995, verificou-se que 81% permaneceram vivos até o fim do estudo. O resultado expressa o aumento expressivo da estimativa de sobrevida após a introdução da Terapia Anti-retroviral Altamente Potente (Haart, na sigla em inglês), conjunto de medicamentos popularmente conhecido como coquetel.


Os principais fatores associados a uma maior probabilidade de sobrevida foram a ausência de doença oportunista no diagnóstico da Aids e o tratamento com Haart. Também foram significativas, utilizando o critério do MS, a profilaxia para infecções oportunistas e a condição definidora de Aids. "Observamos maior sobrevida em casos definidos pela condição imunológica", ressalta Campos. "Este resultado sugere que o acompanhamento precoce e o acesso às terapias e profilaxias no momento indicado permitem alcançar maior sobrevida".


Alguns fatores podem explicar a maior sobrevida encontrada no estudo. Um deles é a atualidade dos dados analisados, tornando possível captar benefícios advindos do tratamento com a Haart. "Os anos de experiência que o Ipec acumulou na área também foram decisivos", enfatiza a pesquisadora. "Embora a distribuição gratuita dos medicamentos anti-retrovirais ocorra atualmente em toda a rede pública brasileira, o fornecimento dos remédios já acontecia na instituição antes de 1996, quando foi homologada a lei que o torna obrigatório". O hospital fornece, ainda, as profilaxias recomendadas e diversas polivitaminas que, normalmente, não são distribuídas na rede pública.




 

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