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22/06/2007

Estudo mostra que Brasil ainda é um país de graves desigualdades epidemiológicas

Rita Vasconcelos


Um estudo dedicado a conhecer o processo de transição epidemiológica ocorrida em diversos países e continentes acaba de ser desenvolvido pelo Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães (CPqAM), unidade da Fiocruz em Pernambuco, e pelo Instituto de Pesquisa pelo Desenvolvimento (IRD) da França. No estudo o Brasil foi enquadrado como um país cujo perfil epidemiológico é considerado de desigualdades, ou seja, embora o país tenha conseguido elevar alguns padrões básicos de bem-estar social, como a expectativa de vida, a mortalidade infantil e a qualidade da nutrição, ainda precisa investir em políticas de saúde, sociais e econômicas para alcançar um patamar de saúde coletiva desejável.


 Crianças transitam por rua com lixo e lama em favela do Rio de Janeiro

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Por apresentar diferenças acentuadas entre as classes sociais, o Brasil mostra-se como exemplo de um perfil de desigualdades. Hoje o país convive com um quadro de expansão das doenças crônicas não transmissíveis, como a hipertensão arterial, a diabetes, as doenças cardiovasculares e os vários tipos de câncer, enfermidades que figuram como as principais causas de morte nas capitais brasileiras. Ao mesmo tempo, a população brasileira ainda convive com taxas de prevalência (número total de casos - antigos e novos - de uma doença), incidência (número de casos novos de determinada doença) e mortalidade muito altas para algumas doenças infecciosas transmissíveis, como a tuberculose, a hanseníase e a esquistossomose, passíveis de controle ou erradicação.

 

“Só a aplicação de recursos em infra-estrutura, geração de emprego, além de políticas educacionais, de saúde e de saneamento, poderá garantir que chegaremos a uma melhor situação de saúde da população, a um estado de bem-estar”, declarou o diretor interino do CPqAM, Eduardo Freese, um dos responsáveis pelo estudo juntamente com Annick Fontbonne, pesquisadora titular do IRD. Por outro lado, doenças evitáveis por vacina, como a coqueluche, a difteria e a febre amarela, foram erradicadas, estão sobre controle ou se encontram em redução acentuada.


Os dados reunidos na pesquisa, intitulada Transição epidemiológica comparada: modernidade, precariedade e vulnerabilidade, também permitiram a elaboração de uma metodologia que permite classificar os perfis epidemiológicos dos países e continentes em três tipos: arcaico, moderno e de desigualdades.


O perfil arcaico, também chamado de tradicional, caracteriza-se pela alta mortalidade infantil, baixa expectativa de vida e predominância das doenças transmissíveis sobre as doenças crônicas não transmissíveis. São populações que têm, por exemplo, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e renda per capita baixos. Alguns países da América Latina, como Guatemala, Honduras, Bolívia e grande parte dos países da África, como Gana, Nigéria, Etiópia e Somália, encaixam-se nesse perfil.


Países como Alemanha, França, Canadá, Estados Unidos, Dinamarca, Suíça e Japão, que apresentam renda per capita alta, expectativa de vida elevada e uma baixa taxa de mortalidade infantil, são tipificados como modernos. Neles, predominam as doenças crônicas não-transmissíveis, como a hipertensão, a diabetes, a osteoporose e as doenças neurológicas. Já as doenças transmissíveis foram controladas ou erradicadas.


Além do Brasil, o perfil de desigualdades também compreende países como Argentina, México, Colômbia, Turquia, Líbano e Costa Rica, entre outros. Todos são marcados por profundas desigualdades sociais, políticas, financeiras e culturais no seio de suas sociedades. Segundo Freese, os perfis estão em constante movimento. “Mesmo o perfil moderno não está isento de contradições. Novos desafios estão colocados para o poder público e para os serviços de saúde, como o envelhecimento populacional, as desigualdades entre os imigrantes e a população local e as doenças emergentes, como o abuso de drogas, a síndrome do pânico e o mal de Parkinson”, ressaltou o coordenador da pesquisa. O estudo foi publicado como capítulo do livro Epidemiologia, políticas e determinantes das doenças crônicas não transmissíveis, lançado recentemente pelo CPqAM e que reúne os resultados de 17 trabalhos de pesquisadores do Centro e colaboradores.


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