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25/07/2014

Fundação fará diagnóstico laboratorial de casos suspeitos da febre chikungunya

Maíra Menezes / Ascom IOC


Referência regional para dengue e febre amarela, o Laboratório de Flavivírus do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) foi designado pelo Ministério da Saúde para fazer também o diagnóstico laboratorial de casos suspeitos de febre chikungunya no Rio de Janeiro, Espírito Santo e Bahia. Comum na África e na Ásia, o vírus começou a se espalhar no Caribe em dezembro do ano passado e, desde então, vem causando epidemias na região. Em 17 de julho, autoridades dos Estados Unidos divulgaram o primeiro caso de transmissão da doença ocorrido no país.

Reconstrução microscópica crioeletrônica do vírus

 

A chefe do Laboratório de Flavivírus do IOC, Rita Nogueira, explica que o vírus tem capacidade de se disseminar rapidamente. Por isso, a detecção precoce dos casos é fundamental para conter o avanço da doença. A infecção é considerada de notificação compulsória no Brasil, o que torna obrigatório que os casos suspeitos sejam informados pelos serviços de saúde às autoridades para a adoção de medidas preventivas. Ainda não há transmissão autóctone no país e, até o momento, 20 casos importados foram registrados de acordo com dados do Ministério da Saúde.

Em sete meses, 300 mil casos no Caribe

Segundo levantamento da Organização Mundial da Saúde (OMS), até o dia 3 de julho, foram registrados 300 mil casos suspeitos da doença na região do Caribe, com epidemias na República Dominicana, Haiti, Martinica e Guadalupe, além de países da América Central. “O vírus já circula em áreas de fronteira brasileira, como Guiana, Guiana Francesa e Venezuela. Considerando que temos a presença de vetores capazes de transmitir a doença no país, podemos admitir que existe um risco importante”, afirma a virologista, lembrando que um estudo coordenado pelo IOC, em parceria com o Instituto Pasteur, da França, mostrou que os mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopicuts presentes no Brasil são altamente capazes de propagar a infecção.

A transmissão da febre chikungunya ocorre quando mosquitos se alimentam do sangue de pessoas doentes, contraindo o vírus e, em seguida, picam outros indivíduos. “Na situação atual do Brasil, a vigilância é o fator mais importante. Logo que um caso é diagnosticado, medidas para combate aos vetores devem ser intensificadas na localidade de residência do paciente no sentido de interromper a transmissão do vírus. Se não for possível impedir a disseminação do chikungunya no Brasil, pelo menos podemos trabalhar para diminuir o impacto sobre a população”, avalia Rita.

Fase de preparação 

O interesse dos pesquisadores do Laboratório de Flavivírus do IOC pelo vírus chikungunya teve início em 2010, após a confirmação de um caso importado no país. Devido à similaridade em relação aos sintomas da dengue e de relatos na literatura médica sobre a coinfecção envolvendo dengue e chikungunya, o caso serviu como alerta para a equipe, que passou a acompanhar a disseminação da doença em outros países e buscou apoio de instituições internacionais para implantar os métodos de diagnóstico.

As técnicas moleculares para detectar o material genético do vírus em amostras de pacientes de casos suspeitos foram implantadas no laboratório ainda em 2012. Atualmente os pesquisadores contam também com métodos sorológicos – tanto os chamados testes ‘in house’, elaborados localmente, quanto kits comerciais para avaliação dos níveis de anticorpos IgM e IgG. “Esse tipo de preocupação precisa vir antes da epidemia. Sempre tivemos o compromisso de nos antecipar para conseguir realizar o diagnóstico das infecções que possam vir a acontecer no país no âmbito da abrangência do Laboratório”, ressalta a pesquisadora.

Histórico

O vírus chikungunya foi isolado pela primeira vez na Tanzânia, na África, em 1952. Por três décadas, ele causou surtos esporádicos em países africanos e asiáticos. A partir de 1980, o número de casos tornou-se relativamente baixo. Esse cenário começou a mudar em 2004, quando uma epidemia iniciada na África se espalhou por ilhas do Oceano Índico, afetando cerca de 500 mil pacientes em dois anos. Em 2006, o surto chegou à Índia, onde 1,39 milhões de pessoas foram infectadas. Um ano depois, a transmissão da doença foi identificada na Europa, com 197 casos registrados em um vilarejo na costa da Itália. Informações detalhadas estão disponíveis emdocumento do Ministério da Saúde, elaborado com colaboração de pesquisadores do IOC.
 
No Brasil, casos importados envolvendo viajantes de diversos países são observados desde 2010, mas o número desses registros só começou a aumentar depois que o vírus se espalhou pelo Caribe, no final do ano passado. “Os pacientes são os principais responsáveis por introduzir os vírus em novos ambientes. Por isso, a dispersão da doença está ligada diretamente aos viajantes. Quem visita um país com transmissão do vírus deve ficar atento e procurar atendimento médico se apresentar dor nas articulações ou febre”, aconselha a virologista.

A doença

No dialeto africano makonde, chikungunya significa "aqueles que se dobram" – uma referência ao andar curvado dos pacientes. A infecção pelo chikungunya apresenta sintomas semelhantes aos da dengue, no entanto a presença de dores intensas nas articulações (as chamadas artralgias) são uma característica marcante na maioria dos casos. Em algumas situações, a artralgia pode durar meses ou até anos. A febre, geralmente acima de 39°C, também é um sintoma comum da doença, que pode estar relacionada, ainda, a dores de cabeça, enjoo, vômito e manchas avermelhadas na pele. Como os sinais se parecem bastante com os da dengue, é importante que os pacientes com suspeita de chikungunya relatem ao médico qualquer histórico de viagem para áreas onde há transmissão do vírus. O Ministério da Saúde alerta que o início dos sintomas pode ocorrer até duas semanas após o retorno ao Brasil.

O vírus chikungunya é da família dos alphavírus e, diferentemente do vírus da dengue, possui um único sorotipo. Pode ser transmitido pelos mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictus. O período de incubação da doença varia de dois a dez dias, e ao contrário da dengue, a maioria dos casos são sintomáticos. A febre chikungunya não possui uma forma hemorrágica e as complicações graves são raras. A maioria dos pacientes apresenta melhora após dez dias. No entanto, em recém-nascidos, pessoas idosas e indivíduos com outras patologias, a infecção pode evoluir para quadros graves e até fatais. No Caribe, por exemplo, foram registrados 21 óbitos desde o início do surto até 3 de julho, segundo levantamento da OMS.

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