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29/09/2011

Gestantes são mais suscetíveis a desenvolver quadro grave de malária

Ana Paula Gióia, Anália Barbosa, Eurivânia Galúcio, Sídia Ambrósio, Sigrid Avelino e Síglia Regina


Predominante na Região Amazônica, a malária afeta milhares de pessoas. Em gestantes, há registro de 6.546 casos em 2010, sendo 364 em Manaus. É o que apontam os estudos da médica infectologista e doutora em medicina tropical Flor Martines-Espinosa, pesquisadora do Instituto Leônidas e Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia) e da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas (FMT). A malária é uma infecção causada por um parasito do gênero Plasmodium, podendo ser vivax ou falciparum, transmitida pela picada das fêmeas de mosquitos do Anopheles darlingi. No Brasil, a quase totalidade dos casos (99,8%) ocorre na Amazônia Legal, onde há condições propícias à transmissão, em função dos fatores ambientais que facilitam a manutenção e a formação de criadouros do anofelino, o principal vetor da doença.


 Fêmea do mosquito <EM>Anopheles darlingi</EM>

Fêmea do mosquito Anopheles darlingi


Manaus é um dos três municípios (com Porto Velho e Cruzeiro do Sul) responsáveis por 22,5% dos casos notificados no país. Conforme dados da Fundação de Vigilância e Saúde do Amazonas (FVS-AM), foram registrados 10.041 casos no primeiro trimestre de 2011 e 19.321 casos registrados em 2010. Em gestantes a doença é definida como a presença de formas assexuadas do Plasmodium no sangue materno, em algum momento durante a gravidez, ou na placenta.


Durante o estudo Malária e gravidez na Região Amazônica: diagnóstico, tratamento e acompanhamento clínico-laboratorial de pacientes da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, a pesquisadora Flor Ernestina acompanhou diversas parturientes no Ambulatório Especial de Malária em Gestantes (AEMG) da FMT-AM e observou 757 episódios de malária em gestantes no período de 2005-2007 ocorridos em 508 mulheres, sendo apenas 123 por P. falciparum (20,56%) tipo que transmite a forma mais perigosa da doença. A pesquisa revelou que 35,88% das gestantes tinham menos de 22 semanas de gestação, 55,14% estavam entre 22 e 37 semanas em risco de parto prematuro, sendo 25,5% com ameaça de aborto, 1% com ocorrência de aborto e 1% de parto prematuro. Segundo a pesquisadora, identificar o problema e dar atenção às pacientes acometidas de malária na gestação despende menos recursos do que tratar as consequências, visto que os partos prematuros, por exemplo, demandam vagas nas UTIs neonatais a um custo econômico e social muito alto.


Já no estudo Malária durante a gravidez: efeito sobre o curso da gestação na Região Amazônica, os pesquisadores Flor Ernestina, Eda Chagas, Cristiana do Nascimento, Franklin Simões de Santana Filho e Camila Bôtto apontam que a alteração no estado de imunidade causada pela gravidez, torna as gestantes vulneráveis à malária e ao risco de apresentar complicações como anemia grave da malária e óbito tanto da mãe como da criança, pois aumenta a possibilidade de aborto espontâneo, prematuridade e baixo peso ao nascer. A pesquisa aponta que a malária grave em gestantes está associada, entre 20% a 30%, à morte materna, e a mortalidade perinatal está relacionada à febre alta materna, que causa contrações uterinas.


Durante a pesquisa constatou-se que a alteração no curso da gestação é frequente em gestantes durante o episódio agudo de malária, com baixa ocorrência de aborto, que pode ter sido atribuído ao diagnóstico na fase inicial e tratamento apropriado em centro de referência para doenças infecciosas onde também são praticadas ações de prevenção e controle da malária. Os autores ressaltam que “as mulheres constituem um grupo que costumeiramente busca cuidado médico, principalmente durante a gestação, o que representa uma oportunidade de intervenção precoce e adequada, com acompanhamento durante toda a gestação, reduzindo, assim, o prejuízo para a saúde materno-fetal e contribuindo para a redução da mortalidade infantil, sobretudo nos primeiros anos de vida”. O pré-natal realizado no início da gravidez é um importante aliado por evitar efeitos negativos dessa e outras doenças.


As gestantes com malária frequentemente apresentam sintomas como dores na cabeça, na região lombar inferior, nas articulações, nos músculos, além de febre, calafrios, urina escura, suor excessivo e vômito. Nos casos confirmados também são comuns alterações no curso da gestação como a ameaça de aborto (sangramento vaginal e contrações uterinas) e de interrupção da gestação (aborto e parto prematuro) e infecção placentária.


Nos casos mais brandos, orienta Flor Ernestina, o tratamento pode ser acompanhado na rede básica de saúde, mas em caso de complicações como dificuldade respiratória, densidade parasitária muito elevada, alteração do estado de consciência, sangramento não vaginal, deve-se procurar um centro de referência para doenças infecciosas, como a FMT, para internação. E quando ocorrer sangramento vaginal, contrações uterinas, saída de líquido amniótico (existente na placenta), e ausência de movimentos fetais por tempo prolongado deve-se recorrer à maternidade mais próxima.


Financiamento em rede


Diante da situação epidemiológica da doença no Brasil, o Ministério da Ciência e Tecnologia e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) criaram, em parceria com as fundações de amparo à pesquisa do Amazonas (Fapeam), do Pará (Fapespa), Maranhão (Fapema), Minas Gerais (Fapemig), Mato Grosso (Fapemat), São Paulo (Fapesp) e Rio de Janeiro (Faperj) a Rede Nacional de Pesquisas em Malária (Rede Malária), uma iniciativa que destina R$ 20 milhões para o desenvolvimento de pesquisas através da colaboração de pesquisadores de diversas instituições, visando racionalizar recursos e procedimentos, bem como facilitar a gestão de resultados, esperando com isso obter subsídios para a implementação de políticas públicas de saúde para combater a malária. Já os estudos citados na matéria foram financiados pela Fapeam, com o apoio de instituições como a FMT, as universidades Federal (Ufam) e do Estado do Amazonas (UEA), o Centro Universitário Nilton Lins e o Instituto Leônidas e Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia).


Publicado em 27/9/2011.

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