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06/08/2006

História, ciências, saúde: Manguinhos Volume 10 suplemento 1









Os temas abordados em Hanseníase: longa história de um estigma incluem a história dos leprosários, as política e medidas sanitárias de controle, bem como o ponto de vista do doente, e as tentativas, até agora frustradas, de cultivar o bacilo causador da doença, as incertezas quanto a seus mecanismos de transmissão. Tamanho é o estigma para os portadores da doença e a capacidade de mobilização e articulação do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan) em nosso país, que desde a década de 1970 vigora nacionalmente uma lei que proíbe o uso da palavra lepra. Os autores e entrevistados são estudiosos brasileiros, latino-americanos, um indiano, americanos e europeus.


Hanseníase: longa história de um estigma é o título do suplemento temático de História, Ciências, Saúde - Manguinhos, que será lançada em Oslo, na Noruega, nesta quinta-feira (04/09), na conferência internacional Health between the private and the public: shifting approaches. Convidada a coordenar esta edição, a historiadora Jo Robertson, da Wellcome Unit for the History of Medicine, da Universidade de Oxford, ressalta no editorial que os artigos e entrevistas "refletem o mistério, o drama e a tragédia que têm sido parte integrante dessa história".


Infecção crônica das mais antigas, a hanseníase é uma doença exclusivamente humana e uma das conseqüências da impossibilidade de se cultivar o Mycobacterium leprae é a permanência das mesmas questões seculares a respeito da sua transmissão. Há também muitas interrogações no terreno epidemiológico que permanecem sem resposta. Segundo a vice-presidente de Pesquisa da Fiocruz, Euzenir Nunes Sarno, que desenvolve pesquisas sobre a imunopatologia das infecções decorrentes da hanseníase, estima-se que entre as pessoas que mantêm contato com pacientes multibacilares, 90% são infectados mas apenas cerca de 8% ficam doentes. Conhecida como uma doença dermatológica, a especialista destaca que a primeira lesão é anestésica: além dos nervos sensitivos da pele, há danos que determinam lesões motoras e deformidades irreversíveis, que levam à amputação de extremidades. O Mycobacterium leprae foi das primeiras bactérias patogênicas que tiveram o genoma completamente seqüenciado, em 2000. Agora é que se está começando a ter realmente condições para obter testes mais precisos.


O Brasil é o segundo país em número de doentes e estima-se que atualmente há 4,4 casos por cada dez mil habitantes. Ao discorrer sobre o engajamento do nosso país no programa lançado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), Tadiana Alves Moreira explica que o objetivo é eliminar a hanseníase até 2005. No entanto, ela diz que a meta brasileira é, neste prazo, reduzir a incidência da doença a até menos de um caso por dez mil pessoas. Apesar dos inúmeros debates sobre a permanência da hanseníase no mundo de hoje, registra-se uma queda inquestionável da incidência da doença no mundo, com quase quatro milhões de pacientes notificados em 1985 passando a 523 mil 605 em 2002, segundo dados da OMS. Apesar de terem sido detectados mais de 600 mil novos casos em 2002, e de as estatísticas só registrarem os casos documentados oficialmente, não se trata de uma simplificação otimista dizer que a sorte está mudando na batalha contra a doença.


Yo Yuasa, presidente da International Leprosy Association (ILA), acalentou por mais de dez anos a idéia de um projeto sobre a história da lepra. Em 1988, discutiu a idéia com a Sasakawa Memorial Foundation e, posteriormente, com os responsáveis pelo Programa de Eliminação da Lepra da OMS, que tem logrado sucesso. Dessas articulações surgiu o Global Project on the History of Leprosy, iniciativa da Wellcome Unit for de History of Medicine, vinculada à Universidade de Oxford, e da International Leprosy Association, patrocinada pela Fundação Nippon em colaboração com a OMS. O projeto tem por objetivo criar e manter um banco de dados sobre os arquivos concernentes à lepra. A proposta é facilitar a pesquisa da história da doença, através da busca e do registro de arquivos de organizações e políticas sanitárias, de arquivos médicos e científicos, além de dados encontrados em leprosários, museus e bibliotecas. As coleções particulares dos que trabalharam com a lepra e os testemunhos de pessoas afetadas por ela também fazem parte do banco de dados. O projeto destina-se ainda a abrigar a rede crescente de pesquisadores da área e seus trabalhos, atendendo, assim, a vários interesses: os da comunidade médica e de profissionais afins e os da comunidade acadêmica das ciências humanas, especialmente da história da medicina.


Durante o 16º Congresso Internacional da Lepra, em Salvador, em 2002, pela primeira vez a história da doença fez parte da pauta do evento, que ocorre a cada quatro anos. Os participantes do encontro perceberam que havia um amplo campo para pesquisas futuras na área. A expectativa, expressa no editorial de Jo Robertson, é que este número de História, Ciências, Saúde - Manguinhos "revele algo da extraordinária trajetória da doença, e compense, em alguma medida, o silenciamento milenar das vozes dos que conviveram e convivem com ela, além de estimular os historiadores da medicina e da saúde pública a investigarem esta história".


História, ciências, saúde: Manguinhos é uma publicação quadrimestral. A assinatura anual da revista pode ser adquirida por R$ 40 (valor individual) ou R$ 60 (valor institucional). Para quem está no exterior, os preços são US$ 40 (individual) e US$ 65 (institucional). Há ainda uma versão online da publicação

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