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14/07/2017

História, Ciências, Saúde aborda regulação de alimentos no Brasil

COC/Fiocruz


De vinhos e conhaques a azeite de oliva, o Brasil viu aumentar massivamente os casos de fraudes e falsificações de alimentos em decorrência da crise de abastecimento gerada pela Primeira Guerra Mundial, o que gerou forte reação pública contra os chamados “envenenadores do povo”. Foi a partir desse momento que teve início a institucionalização da regulação de alimentos no país. Esse processo é tema de um dos artigos da última edição da revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos, que traz doze trabalhos que abordam da assistência médica prestada pela Alemanha Oriental à Nicarágua sandinista à produção de documentários médicos no regime franquista na Espanha.

No artigo que inspirou a capa desta edição, o autor aborda o período da Primeira República, durante o qual a questão da regulação do comércio alimentar já fazia parte das políticas sanitárias, embora sua institucionalização fosse seguidamente postergada diante de outras prioridades. Os impactos das fraudes envolvendo alimentos de qualidade inferior ou podres na saúde dos consumidores, levando inclusive à morte em alguns casos, gerou revolta. O cenário começaria a mudar somente com as reformas sanitárias dos anos 1920, apontando para a Primeira Guerra como ponto decisivo para a responsabilização do Estado brasileiro nesse âmbito.

Já o artigo que abre este número mostra como a epidemia de cólera de 1886 e 1887 em Rosario, na Argentina, desencadeou a discriminação de espaços da cidade associados aos focos da doença. O surto, de acordo com o autor, produziu certas imagens sociomorais sobre os setores mais afetados e resultou na formação de práticas de uma clínica de emergência. Outro trabalho, que se deteve sobre a assistência médica prestada pela Alemanha Oriental à Nicarágua entre 1979 e 1989, aponta que após a ajuda inicial dada pelos europeus, os sandinistas adotaram um sistema de saúde baseado na assistência primária à saúde, dificultando o apoio alemão, que detinha pouca experiência nessa área.

HCS-Manguinhos traz também um artigo que explora o campo da educação médica na Amazônia Brasileira. O texto indica que experiências com internatos rurais – como são chamados os estágios feitos em cidades do interior como parte do período designado como internato médico – tem proporcionado aos estudantes oportunidades singulares, como atendimento clínico, ações educativas e de saúde e vivências do cotidiano local. Já o artigo Documentários médico-científicos coloniais e a legitimação de um estado ideal na Espanha pós-guerra explora o papel de práticas e discursos em cinema e saúde na construção e legitimação das estratégias do regime fascista de Franco.

A produção científica sobre a devastação ambiental no Mato Grosso, gerada pela comissão de demarcação dos limites das fronteiras do Império do Brasil com a Bolívia, é tema de outro texto deste número. O estudo traz considerações sobre a obra Viagem ao redor do Brasil 1875-1878, de João Severiano da Fonseca, que apontou o desmatamento nas margens do rio Paraguai e exigiu providências do governo mato-grossense. Outro trabalho discute o modo de historiadores e cientistas entenderem as relações entre ideologia e ciência, com frequência considerados domínios rivais, a partir da obra de Amílcar Cabral, nascido em 1924 no território da atual Guiné Bissau.

Completam este número de HCS-Manguinhos artigos sobre o conceito de “bioética ambiental”; a epidemia de febre espanhola na cidade de Sorocaba, em São Paulo, em 1918; as dicotomias consolidadas na historiografia das ciências que impedem um melhor desenvolvimento das pesquisas, como o conflito entre relativismo e realismo; além de um ensaio conceitual sobre a ideia de rompimento de paradigmas na saúde pública e seu impacto na leitura histórica sobre esse campo. A seção Fontes inclui um texto sobre o médico português António Nunes Ribeiro Sanches, autor de diversos trabalhos sobre educação e ciência em Portugal e em seu Império.

Na carta dos editores desta edição, André Felipe Cândido da Silva e Marcos Cueto lembram o centenário da morte de Oswaldo Cruz, e comentam o fato de a efeméride coincidir com a ameaça de retorno da febre amarela, doença que o cientista controlara em 1907 no Rio de Janeiro. “Ainda que atualmente detectada no Brasil apenas na forma silvestre, tornou-se enorme o risco de a epidemia se estabelecer nas grandes cidades, risco real diante da proximidade dos sítios de ocorrência e da presença abundante do vetor no ciclo urbano, o Aedes aegypti”, comentam. 

Na Fiocruz

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