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09/11/2007

Laboratórios públicos nacionais têm novidades em vacinas

Fernanda Marques


Dengue, amarelão e gripe aviária são algumas doenças que estão no alvo de laboratórios públicos produtores de vacinas no Brasil, que anunciam novidades para um futuro próximo. Muitas delas serão apresentadas e discutidas durante a 8ª reunião anual da Rede de Produtores de Vacinas dos Países em Desenvolvimento (DCVMN, na sigla em inglês). Promovido pelo Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Biomanguinhos) da Fiocruz e pela Fundação Butantan, o evento reunirá no Rio de Janeiro, de 11 a 14 de novembro, representantes de diversas partes do mundo, como China, Índia e Cuba.


Cepas do vírus do dengue foram enviadas pelos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos ao Instituto Butantan, em São Paulo. Em breve, elas serão usadas para a produção, em escala piloto, de uma vacina contra a doença. A tecnologia será similar à empregada na fabricação das vacinas contra raiva e rotavírus. A Fiocruz também participa do projeto.


Juntamente com a Universidade George Washington e o Instituto Sabin de Vacinas, ambos dos Estados Unidos, Butantan e Fiocruz estão juntos em outra iniciativa, que visa a uma vacina contra o verme Necator americanus, causador de uma doença popularmente conhecida como amarelão. Tecnologia norte-americana foi transferida para o Butantan, que já produziu uma das duas proteínas que podem compor a vacina. A fabricação do segundo antígeno deve ocorrer dentro de alguns meses e, em seguida, serão realizados os ensaios clínicos, conduzidos pela Fiocruz, com o objetivo de comprovar a segurança e a eficácia da vacina.


Além disso, em 2008, o Butantan começará a produzir uma vacina contra o H5N1, agente responsável pela gripe aviária. Os lotes iniciais se destinarão a ensaios clínicos. O novo imunizante será fabricado a partir de adaptações na tecnologia utilizada para produzir a vacina contra influenza.


Com essa tecnologia, transferida pela indústria farmacêutica Sanofi, da França, o Butantan poderá fornecer, em uma produção de quatro meses, 20 milhões de doses da vacina contra influenza. Os pesquisadores de São Paulo estudam a combinação dessa vacina com adjuvantes, o que permitiria aumentar em cinco vezes a capacidade produtiva.


Proteção contra várias doenças de uma só vez


Já em fase de registro, o Butantan tem três novos imunizantes: a vacina anti-rábica produzida de forma mais “limpa”, usando culturas de células em vez de camundongos; a vacina BCG (contra tuberculose) combinada à vacina contra hepatite B; e a vacina DTP (contra difteria, tétano e coqueluche) também combinada à vacina contra hepatite B.


Em relação ao componente contra coqueluche da DTP, ainda que raramente, ele pode provocar efeitos colaterais. Pos isso, os pesquisadores de São Paulo retiraram do imunizante, por extração orgânica, uma molécula chamada LPS, associada a essas reações indesejadas. O produto aprimorado já passou por ensaios clínicos e, agora, os pesquisadores estão analisando os resultados, bastante promissores.


Na mesma linha de vacinas que protegem contra várias doenças de uma só vez, está em desenvolvimento, por meio de uma parceria entre o Butantan e a Fiocruz, uma vacina pentavalente, que combinaria a DTP com os imunizantes contra hepatite B e Haemophilus influenzae tipo b, bactéria que pode causar meningite e outras doenças infecciosas.


Salvação para bebês prematuros


Cooperações internacionais para a produção de vacinas contra leishmaniose canina e papiloma vírus humano (HPV) também estão em andamento no Butantan, que, além dos imunizantes, desenvolve outros insumos para a saúde. Entre eles, destaca-se o surfactante pulmonar, que pode salvar a vida de bebês prematuros. O pulmão desses recém-nascidos não está amadurecido e pode se fechar. Para a entrada do ar, é preciso administrar, por via nasal, a substância, obtida a partir de pulmão de porco.


O surfactante pulmonar, atualmente, é importado e uma dose custa US$ 250, preço proibitivo para que esteja disponível no sistema público de saúde. O produto desenvolvido pelo Butantan, que já passou com sucesso pelos ensaios clínicos, começará a ser fabricado em escala industrial em 2008 e custará três vezes menos, possibilitando que as maternidades públicas sejam abastecidas com a substância.

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