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10/05/2010

Lançado o primeiro número de 2010 da revista 'Trabalho, Educação e Saúde'

Paulo Guanaes


O primeiro número do oitavo volume do periódico Trabalho, Educação e Saúde, editado pela Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz), aprofunda a proposta editorial de oferecer ao leitor textos que tragam como centralidade a relação entre formação e trabalho, bem como produções que abordem discussões que são primordiais para a reflexão sobre essa temática. O conteúdo do periódico está disponível para acesso livre aqui.



Assim, o ensaio de Regina Helena Simões Barbosa, A ‘teoria da práxis’: retomando o referencial marxista para o enfrentamento do capitalismo no campo da saúde, apresenta-se como uma provocação acadêmica, de ordem política e epistemológica, sobre o silenciamento que se estabelece em torno do marxismo e também do capitalismo em um campo específico, o da saúde. O texto nos convida a recuperar o conceito de práxis para pensar e atuar na saúde coletiva.


O primeiro número do ano conta com seis artigos. O primeiro, de Camila Furlanetti Borges e Tatiana Wargas Baptista (A política de atenção básica do Ministério da Saúde: refletindo sobre a definição de prioridades), examina a relação entre  a produção do discurso e o processo de  implementação de uma política, enunciada como prioridade. O contexto é a reestruturação do modelo de atenção posta em curso nos anos 90, e as autoras analisam, criticamente, a institucionalidade que vem sendo alcançada pela política de atenção básica, apontando essa dimensão, a da institucionalização, como aquela que melhor nos permite apreender o que se efetiva ou não como prioridade de governo.


Os quatro artigos que se seguem têm como tema principal as relações entre formação e trabalho. Neste conjunto, o texto A inserção dos trabalhadores mais escolarizados no mercado de trabalho brasileiro: uma análise de gênero, de Moema de Castro Guedes, toma por base uma pesquisa que abarca três décadas de dados do IBGE. A autora nos proporciona reflexões sobre a inserção de mulheres, especificamente as universitárias, no mercado de trabalho e demonstra que algumas variáveis, como o salário, acompanham a manutenção do padrão de desigualdade de gênero.


O artigo de Elzimar Pinto, Maristela Dalbello, Silvia Matumoto, Ângela Aparecida Capozzolo, Maria Rosa Cardoso e Silvana Martins Mishima (Desdobramentos da educação permanente em saúde no município de Vitória) traz, entre as indagações desenvolvidas pela pesquisa, os entendimentos sobre a educação permanente em saúde que vêm sendo construídos e tomados como norteadores de ações implementadas no cotidiano dos serviços. A discussão é relevante e oportuna, pois esta estratégia de formação de profissionais para o SUS foi assumida, nacionalmente, como principal mecanismo indutor de mudanças na relação ensino-serviço.


Em um cenário de grande expansão do ensino a distância, os autores do artigo A experiência de aprendizagem on-line em um curso de qualificação profissional em saúde, Josué Laguardia, Ângela Casanova e Rejane Machado, dirigem-se aos principais atores destas experiências, tutores e alunos, para efetivar uma pesquisa em torno de elementos centrais desta modalidade de formação. A partir desse diálogo, os autores ressaltam dificuldades e potencialidades dessas experiências, concluindo com indicações sobre a necessidade de atualizar e adequar permanentemente as formas de acesso, os conteúdos do curso e os procedimentos de avaliação.


O texto Trabalho, educação e saúde na perspectiva das concepções de enfermeiros em atividade docente, de Simone Carvalho, Graciele Oroski e Josete Luzia Leite, busca investigar de que modo profissionais da saúde, especificamente enfermeiros que atuam no ensino, elaboram compreensões que atravessam sua prática como docentes e que são fundamentais para a formação em saúde. Os resultados indicam que os entrevistados não reiteram uma compreensão de saúde restrita à dimensão biológica, bem como refletem sobre o processo de educação como construção compartilhada e não apenas transmissão de conhecimentos.


Ainda que exista um discurso, socialmente difundido, em que  o trabalho infantil figure como  uma violação do direito à infância, o artigo de Laura Souza Fonseca (Trabalho infanto-juvenil e formação humana: limites na potência ontológica e banalização do sujeito de direitos) demonstra  que temos nos distanciado da capacidade de erradicá-lo, na medida em que o modelo de gestão do Estado, propugnado pela política atual, fragiliza os movimentos da legislação trabalhista. Além disso, o processo de acumulação capitalista reitera o trabalho infanto-juvenil em sua dupla face: de produto e motor dessa acumulação.


Na sessão Relato, a experiência Educação popular em saúde a partir de um jogo: reflexões sobre participação na gestão e cuidado em uma unidade de Saúde da Família, de Bruno Bechara, Aline Almeida, Lucas Silveira, Carla Soleman e Márcia Nituma Ogata, é discutida a partir de seus pressupostos teóricos, sustentados na pedagogia freiriana. Seu processo de implementação é detalhado e permite ao leitor acompanhar a forma como questões específicas da saúde podem se articular com temas localizados no plano das determinações e dos condicionantes sociais, potencializando uma educação em saúde que garante aos integrantes da  população, e não aos profissionais de saúde, o protagonismo desse processo.


Duas resenhas encerram o fascículo: a primeira, de Eurelino Coelho, sobre o livro Os marxismos do novo século, de Cesar Altamira, e a segunda, de Gustavo Matta e Sylvia de Lima, sobre o livro O que é o SUS?, de Jairnilson Paim.


Publicado em 7/5/2010.

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