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23/03/2015

Livro associa representações da fauna à construção de identidade brasileira

Ascom COC


Amplamente ilustrado e bilíngue (português e inglês), o livro Representações da Fauna no Brasil - Séculos XVI - XX (Andrea Jakobsson Estúdio Editorial) será lançado nesta segunda (23/3), às 19h, na Livraria da Travessa do Leblon, no Rio. A obra — que tem como autores as historiadoras Lorelai Kury (a organizadora) e Magali Romero Sá, da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz), Felipe Vander Velden, Bruno Martins Boto Leite e José Luiz Andrade Franco — demonstra a história da relação estreita que marca as representações da fauna brasileira e a própria constituição da identidade da América portuguesa e do Brasil desde o início da colonização do País.

Os seis ensaios que compõem o livro levantam questões relevantes para a historiografia, como a demonstração de que as práticas humanas são mais bem compreendidas quando associadas aos demais seres vivos. Outro ponto ressaltado são as forças econômicas e culturais em ação desde o início da colonização que estão intimamente relacionadas com a história da fauna, tanto a nativa quanto a exótica. Por outro lado, a presença da fauna brasileira para além do Atlântico desde o século 16 também é destacada.

De acordo com Lorelai Kury, o conhecimento que se estabeleceu sobre os animais nativos é fruto do encontro da experiência, dos usos e do tipo de interesse locais e também dos que foram estabelecidos no exterior. “O saber que chegou até o presente deve-se tanto à atuação de habitantes dos matos e das florestas, viajantes e aventureiros, quanto ao concurso de pessoas que nunca estiveram na América. Estas últimas, porém, transportaram para perto de si fragmentos de mundos exóticos e acabaram por desenvolver habilidades para comparar, observar e interpretar imagens, animais empalhados, relatos, chifres, conchas, penas e plumas”, relata a organizadora no livro.

Lorelai afirma ainda que, com o crescimento do interesse pelos temas ambientais, as pesquisas sobre as trocas de animais e plantas entre os continentes, assim como sobre a alteração das paisagens americanas em função das novas práticas de criação, plantio e mineração sofreram um importante processo de renovação. “Especificamente sobre o Brasil, a historiografia que trata do tema ainda é escassa, mas vem crescendo nos últimos anos. Alguns autores clássicos abordaram a presença animal na história, principalmente o gado, como é o caso de Capistrano de Abreu. Porém, as preocupações recentes com a alteração climática e a extinção sem precedente de espécies da fauna e da flora ainda não foram perfeitamente integradas às pesquisas históricas”, explica.

Os capítulos que compõem o livro são ensaios sobre temas particulares, mas no conjunto formam um panorama ao mesmo tempo variado e articulado. A admiração europeia em relação à fauna brasileira diz respeito a viagens, coletas, coleções e à própria atividade colonizadora. No primeiro capítulo, Felipe Vander Velden aborda um tema muito pouco estudado, que é a domesticação pelos indígenas de animais provenientes do Velho Mundo. No segundo, Bruno Martins Boto Leite trata da presença da fauna brasileira na cultura europeia e demonstra que as coleções e os gabinetes de curiosidades eram efetivamente usados e estudados por filósofos da natureza, naturalistas, médicos, religiosos e pessoas em busca de instrução elevada.

Lorelai Kury apresenta no terceiro ensaio um manuscrito sobre aves amazônicas, escrito em meados do século 18 pelo padre de Belém, D. Lourenço Álvares Roxo de Potfliz. O capítulo redigido por Magali Romero Sá identifica e analisa a presença da fauna brasileira nos museus e nas coleções europeias e dos Estados Unidos, a partir do Iluminismo. O seguinte, também escrito pela organizadora do livro, revisita a ciência romântica das viagens, de matriz humboldtiana, a partir do tema das paisagens sonoras. O último capítulo, com texto de José Luiz de Andrade Franco, aborda a centralidade da onça pintada, o maior carnívoro brasileiro, que já foi objeto de diversos tipos de registro, tanto iconográficos quanto textuais: documentos de sertanistas, crônicas coloniais, relatos de viajantes, lendas que se contavam e se contam até hoje. O medo da onça é uma das principais características do imaginário brasileiro até o século 19.

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