Início do conteúdo

05/05/2016

Livro destaca a importância de sequências genéticas móveis

Alessandra Eckstein (Editora Fiocruz)


A coletânea Elementos de Transposição – Diversidade, evolução, aplicações e impacto nos genomas dos seres vivos, lançamento da Editora Fiocruz, representa um projeto desafiador: o estudo de sequências genéticas repetidas que são capazes de se mover, tornando os genomas dinâmicos e flexíveis. Os elementos de transposição (TEs) têm a capacidade de se multiplicar e mudar de lugar no genoma, levar consigo genes, promover rearranjos cromossômicos e alterar a expressão de genes vizinhos.

Hoje, especialmente com os avanços dos estudos sobre genoma humano, sabe-se que os TEs estão associados à variedade genética e também a algumas doenças. No campo da biotecnologia, eles podem ser empregados como vetores de terapia gênica e em programas de melhoramento genético de plantas, entre outras aplicações. Os TEs representam um dos tópicos mais instigantes na área da genética, que durante décadas não recebeu o devido reconhecimento.

TEs: o que são?

Os chamados elementos de transposição (TEs) foram descobertos no milho, no final da década de 1940 pela botânica especialista em genética norteamericana Barbara McClintock. E, desde então, foram identificados em praticamente todos os organismos estudados. Porém, os cientistas não conseguiam entender como os elementos de transposição se mantinham nos genomas e nem quais impactos poderiam ter na evolução dos organismos. Durante muito tempo os TEs foram considerados 'DNA parasita' ou 'DNA lixo', sem interesse relevante. Essa decisão paralisou os avanços dos estudos da área por décadas. (Em 1983, a descoberta rendeu a McClintock o Prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina.)

O sequenciamento do DNA humano, no entanto, mudou a forma como os TEs eram vistos. Eles representam pelo menos 50% do genoma humano – o que é por si só razão suficiente para que sejam estudados em detalhes. A partir desse momento, o impacto dos elementos de transposição na evolução do genoma passou a ser mais estudado. Hoje, existe um consenso na comunidade científica de que os TEs, apesar de sua natureza instável, geram inovações que propiciam a plasticidade necessária para evolução estrutural e funcional dos genomas.

Publicação

Elementos de Transposição – Diversidade, evolução, aplicações e impacto nos genomas dos seres vivos é uma coedição da Editora Fiocruz com a Sociedade Brasileira de Genética. O livro surgiu de uma reunião de integrantes do grupo de pesquisa Elementos de Transposição como Agentes de Diversidade, do CNPq, que consideram indispensável disponibilizar a pesquisadores e estudantes informações que permitam compreender a dinâmica e a plasticidade dos genomas em decorrência da presença dos TEs. “O livro não esgota as inúmeras informações e implicações decorrentes da interação genoma-TE, mas propicia aos leitores o contato atualizado e a compreensão dos principais temas relacionados à estrutura e funcionamento dessas sequências genéticas móveis e sua relação com a evolução dos organismos”, afirmam as organizadoras.

O livro é resultado do empenho de pesquisadores que se dedicam ao estudo dos elementos de transposição no Brasil e traz resultados de pesquisas desses autores também reportadas na literatura internacional. Inicialmente, o livro trata da caracterização dos TEs com ênfase em aspectos de sua composição e estrutura molecular como, por exemplo, os mecanismos necessários para o processo de movimentação dentro dos genomas. A seguir, são abordadas questões diversas, como o papel relevante dos TEs no aumento da complexidade estrutural e funcional dos genomas, por propiciarem o aumento do número de genes e o enriquecimento das vias de regulação gênica, assim como os mecanismos moleculares que controlam a atividade dos TEs.

O livro traz ainda um estudo sobre a influência dos TEs com foco no genoma humano, desde a variedade genética que provocam até doenças que estão associadas à sua movimentação. Encerra o livro um artigo que trata de como os TEs têm sido utilizados em diversos campos da biotecnologia como, por exemplo, em processos que originam mutações em organismos eucariotos e procariotos, como vetores de terapia gênica e como marcadores de seleção em programas de melhoramento vegetal e para estudos evolutivos.

Organizadoras

Claudia Marcia Aparecida Carareto: professora titular em Evolução, do Departamento de Biologia do Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas da Universidade Estadual Paulista.

Claudia Barros Monteiro-Vitorello: professora assistente em Genética, do Departamento de Genética da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” da Universidade de São Paulo.

Marie-Anne Van Sluys: professora titular em Botânica do Departamento de Botânica do Instituto de Biociências Universidade de São Paulo. 

Voltar ao topo Voltar