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05/09/2011

Livro recupera história da saúde e do patrimônio arquitetônico de Minas

Haendel Gomes


A perspectiva histórica é um dos fatores importantes para se compreender a relação entre o pensamento médico-científico e a arquitetura das instituições médico-hospitalares. Levar o leitor a entender esse processo é a proposta da coleção História e Patrimônio da Saúde, que ganha mais um volume com o lançamento do livro História da Saúde em Minas Gerais: instituições e patrimônio arquitetônico (1808-1958), organizado por Rita de Cássia Marques, Anny Jackeline Torres Silveira e Betânia Gonçalves Figueiredo. Os autores concluem que um aprendizado importante da pesquisa realizada para o inventário mineiro foi a compreensão da obrigatoriedade de se abordar o tema do patrimônio com enfoque interdisciplinar.



Os artigos que compõem a publicação oferecem a oportunidade de uma análise mais ampliada sobre o contexto do surgimento, da implantação e da consolidação das instituições de saúde em Minas Gerais. A obra convida o leitor a conhecer a construção dessa história, concentrando-se em três cidades mineiras: Ouro Preto, Mariana e Belo Horizonte. Por meio de textos, verbetes e imagens, os autores apresentam uma cartografia – não exaustiva e dividida em duas partes – das instituições que, por diferentes maneiras e em distintos períodos, estiveram vinculadas à saúde. O livro destaca Ouro Preto e Mariana em razão do marco temporal, da proximidade e por serem tombadas pelo patrimônio do país. Embora contempladas por tombamento, no campo da saúde não houve preservação, sendo que em Mariana as duas instituições inventariadas pelo estudo agora publicado não são mais de saúde. Os prédios de Ouro Preto também não cumprem mais as funções originais.


No entanto, é fácil constatar a importância de sua história para os moradores. O antigo prédio da Santa Casa de Ouro Preto é um exemplo. Mesmo depois de desocupado, continuou sendo tratado por grande parte da população como o prédio daquela instituição. O caso ainda mais surpreendente é o do Hospital da Passagem de Mariana. Segundo Rita de Cássia Marques, historiadora e coordenadora regional da obra, o prédio já foi demolido, a unidade não foi reconstruída, mas as pessoas que o usaram continuam se referindo ao lugar como o hospital da comunidade. “O hospital é patrimônio das pessoas que viveram no tempo do hospital. Elas sentem saudade, lamentam sua ausência, descrevem seus serviços, guardaram fotos, histórias etc. Isso é patrimônio!”, ressalta. A pesquisadora acrescenta que, pela história da saúde, é possível contar muito sobre a cidade e sobre as pessoas que nela habitavam ou habitam.


Por outro lado, Belo Horizonte caracteriza-se por ser “uma cidade que nasceu colada ao signo da modernidade; ela se reinventa. Fazer o prédio mais moderno é sempre mais desejado que a preservação, daí a importância de fazer um projeto como esse”, defende Rita de Cássia. “Um verbete teve que ser reelaborado porque o prédio foi destruído e outro construído entre a realização do projeto e o lançamento do livro: Ambulatório Carlos Chagas que virou Instituto Jenny Faria”, lamenta. A pesquisadora acrescenta que o destaque dado aos sanatórios está relacionado às características da cidade, que foi escolhida no final do século 19 para ser capital seguindo os preceitos higienistas em voga, que preconizavam uma terra de bons ares.


“Esses preceitos também favoreceram a localização dos primeiros hospitais nas imediações e mesmo dentro do Parque Municipal. A região hospitalar mais famosa da cidade está abrigada em um quarteirão retirado desse parque”, explica. “Belo Horizonte foi por longos anos tratada como cidade-sanatório, por causa do grande número de tuberculosos que aqui chegavam em busca de tratamento. Assim, doença-saúde e cidade são termos interligados e compõem uma das chaves de interpretação da história do lugar. Além do mais, as fontes são escassas e, consequentemente, existem poucas publicações sobre o tema. Neste sentido, o livro é uma boa contribuição para o debate e a historiografia. Esperamos que seja estímulo para outras publicações do gênero”, finaliza. Acompanha a obra um CD, que inclui informações históricas e arquitetônicas sobre as instituições descritas no projeto Rede Brasil: Inventário Nacional do Patrimônio Cultural da Saúde em Minas Gerais.


Nas três cidades, foram pesquisadas 60 instituições, entre escolas, institutos de pesquisa, hospitais e órgãos da burocracia. Cinco delas foram descartadas por motivos diversos, como o caso do Hospital do Pênfigo. Este hospital - especializado no tratamento do pênfigo foliáceo, ou ‘fogo selvagem’, doença com grande incidência em Minas Gerais, apesar de terem sido resgatados projetos e informações sobre sua construção, acabou não sendo efetivamente edificado e, por isso, não teve seu verbete.


A coleção História e Patrimônio da Saúde


Disseminar o conhecimento e imortalizar as construções. Estes são alguns dos objetivos da coleção de livros História e Patrimônio da Saúde. Criada pela Fiocruz, por meio da Casa de Oswaldo Cruz (COC), com apoio da Pfizer, a coleção integra o projeto da Rede Brasil do Patrimônio Cultural da Saúde. As obras são divididas em duas partes. A primeira é composta de artigos escritos por autores convidados, acompanhados de ilustrações. Já a segunda parte traz histórias das instituições e ilustrações de hospitais, maternidades e casas de saúde, cujo papel foi preponderante para a arquitetura desses locais. Os livros são editados em uma parceria entre as Editoras Fiocruz e Manole. Além das obras dedicadas aos estados de Minas Gerais e Bahia, ainda este ano mais dois volumes serão incorporados à coleção: os dedicados a Florianópolis (15 de setembro) e São Paulo (20 de outubro).


Serviço


Título: História da saúde em Minas Gerais: instituições e patrimônio arquitetônico (1808-1958)

Páginas: 190

Editoras: Fiocruz e Manole

Valor: R$ 78


Publicado em 2/9/2011.

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