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10/06/2011

Livro situa promoção da saúde como movimento político sanitário

Fernanda Marques


O livro Promoção da saúde: conceitos, reflexões, tendências, da Editora Fiocruz, que recentemente ganhou uma nova edição, revista e ampliada, foi novamente impresso após ter sua primeira impressão esgotada. Organizada pelos pesquisadores da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) Dina Czeresnia e Carlos Machado de Freitas, a coletânea oferece uma rica diversidade de reflexões teóricas sobre conceitos que estão na base dos discursos e das práticas da promoção da saúde contemporânea.



As discussões incluem conceitos diretamente ligados aos desafios para transformar as práticas de saúde, como risco, vulnerabilidade, território, intersetorialidade, participação e vigilância. Como ponto de partida comum a todos os autores, está a certeza de que essa reflexão conceitual é de grande importância para operacionalizar projetos de saúde e cidadania. No entanto, “o discurso de promoção da saúde não é homogêneo”, avisam os organizadores logo na apresentação do livro. “Há uma extensa produção de trabalhos sobre o tema que torna evidente o quanto as estratégias em promoção da saúde contemplam perspectivas das mais conservadoras às mais progressistas”, completam.


Para fazer jus a essa heterogeneidade de pontos de vista, os capítulos do livro, por vezes, apresentam visões divergentes, demonstrando a riqueza e a vivacidade dos debates. Uma das principais divergências gira em torno do próprio conceito de saúde: enquanto alguns autores propõem uma teoria geral da saúde com estrutura científica, outros defendem a saúde como estado singular, impossível de ser definido, generalizado e reduzido por meio de um conceito científico.


O conceito de promoção da saúde começou a ganhar força a partir dos anos 1970, como reação à crescente medicalização da sociedade, questionamento da ênfase dada a assistência médica curativa de alta tecnologia e resgate do pensamento médico social do século 19. Essa força conduziu a um posicionamento científico e político sobre as relações entre saúde e sociedade. Neste novo contexto, torna-se premente discutir o papel da promoção da saúde em sociedades atravessadas por desigualdades sociais e problemas ambientais emergentes. Em outras palavras, é necessário pensar as ações de saúde de forma mais abrangente, levando em conta as condições de vida, em seus aspectos físicos, psicológicos e sociais, e incluindo o ambiente local e global.


Alguns autores propõem uma articulação de saberes técnicos e populares e uma mobilização de recursos institucionais e comunitários, públicos e privados. Outros criticam a organização das práticas de saúde fundamentadas no conceito de doença e afirmam a necessidade de uma aproximação complementar com a arte, a filosofia e a política. Outros ainda destacam que saúde não é apenas fornecer segurança contra riscos, mas também maximar a capacidade de indivíduos e grupos tolerarem, enfrentarem e corrigirem os problemas – o que não deve ser confundido com reduzir o papel do Estado e delegar aos sujeitos toda a responsabilidade de cuidarem de si mesmos.


“Este interessante painel permitirá aos profissionais da saúde, docentes e pesquisadores da saúde coletiva brasileira aprofundar a reflexão crítica sobre a promoção da saúde não apenas como movimento político sanitário, mas também como temática de investigação”, opina a doutora em medicina preventiva Rita Barradas Barata, professora da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. “Recomendo a todos que não percam a oportunidade de desfrutar dos diferentes desenhos e configurações que este brilhante e colorido caleidoscópio de ideias pode proporcionar”.


Publicado em 9/6/2011.

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