19/10/2015
Para discutir ações de prevenção e resposta aos desastres ambientais no país, diversos especialistas se reuniram no segundo dia (16/10) do seminário internacional sobre o tema, promovido pela Fiocruz. Além de treinamentos com a comunidade local e de ações de vigilância e assistência, uma das preocupações destacadas foi o efeito psicológico à população afetada. Para Ney Bruck, especialista em Psicologia das Emergências, da Universidade Federal de Pelotas (RS), quanto mais amplo o problema, maior a necessidade de dar importância ao micro, ou seja, as pessoas envolvidas nos desastres.
Para discutir ações de prevenção e resposta aos desastres ambientais no país, diversos especialistas se reuniram no segundo dia (16/10) do seminário internacional (foto: Peter Ilicciev)
Após a chuva de 2011, que matou mais de 900 pessoas na região serrana do Rio, diversas ações foram desenvolvidas para agir neste tipo de situação. Segundo Alexandre Pitaluga, da Defesa Civil do Rio de Janeiro, para tratar a psicologia dos desastres, foi realizado um seminário com toda rede de Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) da região. “Apesar de uma pessoa não ter se ferido fisicamente, o atendimento psicológico é muito importante nesses casos”, apontou.
Além dessa iniciativa, a Defesa Civil realizou um treinamento em 31 escolas municipais da região, criou o Centro Estadual de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (Cemaden-RJ), responsável pela avaliação climatológica regional para o monitoramento e alerta de desastres naturais, realizou simulados feitos com os alarmes de alerta entre a população e criou um centro logístico para emergências com a Cruz Vermelha. Após essas ações e diversos seminários internacionais, Pitaluga afirmou que o Brasil está caminhando no mesmo sentido que os países estrangeiros para riscos em desastres.
Ainda no sentido de responder às situações de emergência e reduzir as doenças e danos na infraestrutura de saúde, Cristina Musmanno apresentou o programa Vigidesastres da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS), do Ministério da Saúde (MS). O programa atua nas epidemias, desastres ambientais, eventos de massa, entre outros eventos que causam impacto na saúde e transtornos psicossociais, que afetam também os Direitos Humanos.
Entre as ações do programa destacam-se a elaboração de documentos norteadores, a articulação federal, estadual e municipal, a garantia da disponibilidade de medicamentos e equipamentos e o estabelecimento da rede de referência no SUS. “Ações como essas já estão sendo realizadas para as Olimpíadas de 2016. As equipes de saúde estão sendo preparadas para possíveis ameaças biológicas, químicas, nucleares e radiológicas no país”, acrescentou Cristina.
O Vigidesastres possui ainda comitês em 17 estados fazendo simulados, atuando na prevenção, preparação e respostas com notificação e monitoramento dos eventos que acontecem no Brasil e no mundo, além de produzir informes semanais sobre desastres. “A partir destas informações, hoje conseguimos fazer um trabalho com a secretaria de Defesa Civil para tomada de decisões em municípios em alerta”, explicou.
'Ações institucionais, redes e desafios para cidadania' foi o tema da terceira mesa-redonda do evento (foto: Peter Ilicciev)
Apesar destes esforços a partir do desastre de 2011, Ana Luiza Netto, coordenadora do Laboratório de Geo-Hidroecologia (Geoheco) da UFRJ, afirmou que os movimentos de deslizamentos são fenômenos característicos dessa região, e, por não serem novidade, o país deveria estar preparado há algumas décadas. “O que existe é um grande atraso de prevenção nessas regiões montanhosas. Esses fenômenos não são novidade nesse tipo de local. O problema não é somente a chuva. São condições de chuva antecedente, falta de preparo, planejamento e gestão, a exemplo da construção de casas em áreas de risco, autorizadas por lei”, criticou.
Ana Luiza reforçou ainda a importância da associação dos saberes de organismos públicos, privados e comunitários para a redução de riscos geo-hidrológicos com objetivo de construir um novo modelo de gestão de riscos, promover o desenvolvimento de uma cultura de redução de riscos, estimular o intercâmbio dos conhecimentos entre os diferentes atores e desenvolver mecanismos de geração e difusão de informações e conhecimentos.
Para garantir também a participação social, Rita Correa Brandão do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) apresentou o programa Indicadores de Cidadania (Incid), sistema que analisa a efetividade da cidadania reunindo um conjunto de dados, ferramentas, informações e análises para monitoramento do estado da cidadania. “O programa visa ser uma importante ferramenta para a sociedade civil. Consiste num projeto piloto em parceria com a Petrobras, iniciado no final de 2011. Esse piloto atua em 14 municípios da área de influência do Complexo Petroquímico do Rio (Comperj)”, explicou Rita. O programa, segundo ela, consiste na construção de um sistema de indicadores de cidadania consistente, explicativo, de simples utilização e mobilizador da ação cidadã, que possam ser apropriados por organizações locais, movimentos sociais e grupos territoriais.
A mesa Ações institucionais, redes e desafios para cidadania, do seminário internacional Desnaturalização dos desastres e mobilização comunitária: novo regime de produção do saber, foi mediada pela pesquisadora do Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana (Cesteh/Ensp/Fiocruz) e coordenadora do evento, Simone Oliveira.