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13/11/2009

Mudança cultural pode melhorar a segurança do paciente, diz representante da OMS

Informe Ensp


Eventos adversos são aqueles definidos como complicações indesejadas decorrentes do cuidado prestado aos pacientes, não atribuídas à evolução natural da doença de base. Essa é uma questão na qual a Organização Mundial da Saúde (OMS) vem focando suas ações mais recentemente, visando melhorar a segurança do paciente. Para tanto, lançou a Aliança Mundial para a Segurança do Paciente, com o objetivo de despertar a consciência e o compromisso dos países no desenvolvimento de políticas públicas e práticas nessa área. A coordenadora do Programa Mundial de Segurança do Paciente da OMS, Itziar Larizgoitia, comenta essa e outras questões ligadas à segurança do paciente.


Quando a OMS começou a desenvolver essa linha de cuidado com relação à segurança do paciente? Quando foi criado o grupo que você coordena?

Itziar Larizgoitia:
Em 2002, a Assembleia Mundial de Saúde aprovou uma resolução pedindo a Organização Mundial de Saúde para desenvolver um programa de segurança do paciente para apoiar os países a criarem tais medidas. Em 2004, seguindo esta resolução, foi criada a 'Aliança Mundial para a Segurança do Paciente'. Desde então é quando estamos trabalhando nessa linha.


No que consiste essa Aliança?

Itziar Larizgoitia:
A Aliança Mundial para a Segurança do Paciente desperta a consciência e o compromisso dos países integrantes da OMS em desenvolver políticas publicas e práticas para segurança do paciente. A cada ano, nós organizamos programas que abrangem aspectos sistêmicos e técnicos para melhoria da segurança do paciente pelo mundo.


Logo que foi criada, a Aliança identificou seis áreas primordiais de atuação para melhorar a segurança do paciente. São elas: identificar os pacientes corretamente; melhorar a efetividade da comunicação entre profissionais da assistência; melhorar a segurança de medicações de alta vigilância; assegurar cirurgias com local de intervenção correto, procedimento correto e paciente correto; reduzir o risco de infecções associadas aos cuidados de saúde; e reduzir o risco de lesões ao pacientes, decorrentes.


Existe um protocolo internacional que vem sendo aplicado em alguns países sobre essa questão da segurança do paciente. Que protocolo é esse?

Itziar Larizgoitia:
O protocolo de pesquisa está sendo aplicado em cinco países da América Latina - Argentina, Costa Rica, Colômbia, México e Peru -, esperamos que o Brasil siga nesse processo conosco. Também foi aplicado em outros países do Mediterrâneo e sul da África. A medida que países apresentem interesses explícitos sobre sua implementação, nós apoiaremos a iniciativa e faremos o trabalho.


O protocolo trabalha buscando identificar riscos potenciais aos quais os pacientes estão sujeitos ao longo do processo assistencial e preveni-los por meio da instituição de ações, além do monitoramento de sua ocorrência por meio do gerenciamento do risco. Nesses cinco países da América Latina fizemos uma pesquisa com 11.555 pacientes e 58 hospitais.


Por exemplo, na Espanha, nove em cada cem pacientes que ingressam nos hospitais do país sofrem um evento adverso relacionado com a vigilância sanitária. Outro exemplo, em um hospital com mil camas, a cada dia são produzidos 14 novos eventos adversos, sento sete considerados de moderados a graves.


Com relação ao paciente, como é feita a comunicação entre o paciente e a instituição de saúde, no caso de um evento adverso?

Itziar Larizgoitia:
Essa é uma questão muito importante e estamos trabalhando para criar uma resposta geral para ajudar os sistemas de saúde a desenvolverem respostas locais nessa questão da comunicação com o paciente. No momento, não temos uma resposta exata sobre isso.


Quero ressaltar que é fundamental, na medida em que os sistemas de saúde dos países vão criando essa cultura da segurança do paciente, que desenvolvam respostas para seus profissionais, porque eles têm que aprender como se comunicar com os pacientes nesses casos. É também necessário que os próprios hospitais criem formas para acompanhar seus profissionais nessas questões.


A OMS entende, assim como muitos dos grupos que trabalham com segurança do paciente, que os profissionais da saúde são, na maioria dos casos, vítimas desse sistema, porque quando ocorre o problema, os profissionais são afetados com isso, seja no trabalho diário, seja pessoalmente.


É necessário que os a gestão geral desses hospitais acompanhem seus profissionais, ajudem a compreender a situação e como superá-la. Entretanto, faltam ainda respostas tanto para as vítimas, ou seja, os pacientes, quanto para os profissionais.


A questão da segurança do paciente, do avento adverso, não pode ser vista apenas como uma culpa do profissional ou da instituição. É necessária uma mudança cultural em todo o sistema?

Itziar Larizgoitia:
Exatamente. Falta uma mudança cultural geral. Falta identificar quais as causas latentes do evento adverso, porque muitas vezes são problemas que podemos modificar facilmente ou que têm solução simples. Temos que pesquisar os problemas locais para fazer tais mudanças. Não se trata, efetivamente, de uma mudança apenas no sistema de saúde como um todo, mas sim de mudanças culturais nesse sistema, envolvendo fundamentalmente os profissionais que o integra.


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Publicado em 13/11/2009.

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