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06/07/2009

Museu que recupera a história da patologia no país ganha versão online

Pâmela Pinto e Renata Fontoura


Acervos de valor inestimável para a saúde pública brasileira estão sendo recuperados e passaram a ser ofercidos ao público por meio de um museu virtual. De órgãos humanos de importantes casos médicos, coletados pelo próprio Oswaldo Cruz e por grandes nomes da ciência nacional, a maior coleção de febre amarela do mundo estarão disponíveis na versão online do Museu da Patologia do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz). São três coleções científicas que abrigam peças anatômicas reunidas desde 1903 e, aproximadamente, 500 mil amostras de fígado coletadas durante campanhas para controle da febre amarela no país. O site do Museu da Patologia também oferece suporte pedagógico, na seção Espaço do Professor, com roteiros para o uso de seu conteúdo em sala de aula e atividades online.


 José Carvalho Filho, 73 anos, integra equipe de restauradores do museu (Fotos: Gutemberg Brito)

José Carvalho Filho, 73 anos, integra equipe de restauradores do museu (Fotos: Gutemberg Brito)


Há aproximadamente quatro anos, iniciou-se o processo de restauração do acervo do museu. As peças anatômicas das coleções da Seção de Anatomia Patológica já foram recuperadas com a limpeza dos vidros e a troca do fixador utilizado para conservação das peças. Neste momento, o trabalho está concentrado no resgate das lâminas com cortes histológicos da Coleção de Febre Amarela, já com 50% das amostras de fígado restauradas. “Cada coleção tem uma especificidade, mas todas têm aspectos importantes da memória do que foi realizado pela Patologia do Instituto durante estes anos”, avalia o pesquisador Marcelo Pelajo Machado, chefe do Laboratório de Patologia do IOC. “Além de recuperar a memória, o trabalho de recuperação possibilita que este material seja estudado com as novas tecnologias de que dispomos hoje”, ressalta.


Integrante da equipe que atua na restauração, o auxiliar de necrópsia Nelson Araújo Silva, de 66 anos, se emociona ao falar da recuperação das peças. “Entrei na Patologia do IOC em 1968 e conheço todo o material. Estou muito orgulhoso de trabalhar no projeto, de ter iniciado a recuperação”, afirma. Já aposentado, com mais de cinco décadas de vida dedicadas à Fiocruz, o técnico José Carvalho Filho, de 73 anos, se juntou à equipe em 2008. “Sou um apaixonado pelo IOC e rever este material é uma sensação muito boa”, comemora. Em média, cerca de 2,5 mil lâminas estão sendo restauradas por semana e 90 mil já foram digitalizadas.


 O auxiliar de necrópsia Nelson Silva restaura lâminas do Museu da Patologia

O auxiliar de necrópsia Nelson Silva restaura lâminas do Museu da Patologia


O técnico em processamento de dados Newton Marinho da Costa Júnior, de 29 anos, representa a geração mais nova envolvida no projeto. “Meu campo de ação sempre foi matemática, tecnologia, informação. Trabalhando com Nelson e com José estou ampliando meus conhecimentos. Além das teorias laboratoriais, estou aprendendo muito com a vivência deles”, reconhece.


Para a pesquisadora Barbara Dias, do Laboratório de Patologia, umas das responsáveis pelo projeto, o IOC está cumprindo seu papel em manter o patrimônio cultural da ciência. “A restauração das coleções rcupera o perfil empreendedor de Oswaldo Cruz. Ele acreditava que, para fazer pesquisa séria no país, seria necessário ter o próprio acervo biológico interno. Não adianta querer estudar febre amarela no Brasil, como ele fez, trazendo peças de outros lugares do mundo”, exemplifica.


Cada peça anatômica do acervo da Coleção da Seção de Anatomia Patológica corresponde a um caso estudado para investigação de mortes em decorrência de doenças como Chagas e malária. A documentação é preservada pela Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz). “Na ditadura militar, no episódio conhecido como Massacre de Manguinhos, em 1970, parte da documentação das coleções que compõem o Museu foi destruída, assim como grande parte das peças históricas. Muitas das peças que compõem hoje o acervo se salvaram porque foram escondidas pelos pesquisadores em outras partes do campus ou até em suas residências”, conta Barbara.


Acesse aqui o Museu Virtual da Patologia.

 

Coleção da Seção de Anatomia Patológica


Composto atualmente por mais de 850 peças anatômicas, o acervo da Seção de Anatomia Patológica foi iniciado por Oswaldo Cruz em 1903 e é resultado do trabalho de grandes nomes da ciência nacional desenvolvido até a década de 1970.  Embora tenham ocorrido perdas de material principalmente durante os anos de 1960 e 1970, as peças anatômicas remanescentes constituem o próprio documento histórico do trabalho de famosos patologistas de Manguinhos.


Coleção de Febre Amarela


Composta por 498 mil casos - amostras de fígado coletadas por viscerotomia - o acervo foi gerado pelo Laboratório de Histopatologia implantado em 1931, quando o contrato entre o governo Brasileiro e a Fundação Rockfeller foi renovado, e os norte-americanos, por meio do Serv iço Cooperativo da Febre Amarela, assumiram a responsabilidade pela campanha anti-amarílica em quase todo o país. O acervo foi transferido para o IOC em 1949 e uma vasta documentação escrita, impressa e iconográfica, preservada pelo Departamento de Arquivo e Documentação da Casa de Oswaldo Cruz da Fiocruz, acompanha o material. Protocolos de pesquisas, registros de casos da doença, fichas com laudos da histopatologia, além de fotos de indivíduos ou locais de coleta, fazem parte da documentação.


Coleção do Departamento de Patologia do IOC


Reunido a partir de 1984, o acervo remete às atividades do Departamento de Patologia do IOC e é composto por material biológico e documental humano e de animais de experimentação. A coleção guarda a história de pesquisas científicas que vêm resultando em contribuições importantes para o entendimento da fisiologia humana e de algumas doenças, como a esquistossomose e a angiostrongilíase.


Publicado em 3/7/2009.

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