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06/11/2009

Novo presidente da Abrasco, Luiz Facchini, daUFPel, destaca os desafios da sua gestão

Informe Ensp


O pesquisador Luiz Augusto Facchini, eleito presidente da Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (Abrasco) para o triênio 2009-2012, comemora o sucesso do IX Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva, realizado de 31/10 a 4/11, no Recife. Segundo estimativa de Facchini, cerca de 6 mil pessoas passaram pelos corredores do Centro de Convenções de Pernambuco. Durante os cinco dias do evento, os números expressivos - cerca de 5 mil trabalhos, mais de 4 mil pôsteres e mais de 300 sessões científicas, além da presença do presidente Lula, do ministro da Saúde, José Gomes Temporão, da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, e de vários políticos, profissionais de saúde e população em geral - vieram apenas reafirmar que a agenda da saúde pública está, inegavelmente, em grande evidência no cenário nacional.


Professor associado do Departamento de Medicina Social do Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Facchini agora arregaça as mangas e se prepara para enfrentar os desafios da sua gestão: alinhavar parcerias com instituições importantes, nacionais e internacionais, e planejar mudanças para propor aos novos legisladores que serão eleitos em 2010. "O momento é uma grande oportunidade para a Abrasco, em coordenação com as demais entidades do país que lutam pela Reforma Sanitária. Apresentaremos propostas para um plano de governo que gostaríamos que todos os candidatos, independente de partido e de posição política, se comprometessem a viabilizar, caso eleitos, para que o SUS se consolide, cada vez mais, como uma política de Estado, e não como uma política de um determinado partido, ou um determinado governo", declarou. 


Qual é o balanço que você faz do IX Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva?

Luiz Augusto Facchini:
O congresso atendeu a todas as nossas expectativas. Além de ter aprofundado debates a respeito de temas importantes da agenda da saúde coletiva do país, teve grande relevância política ao contar com as presenças do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, dos ministros José Gomes Temporão (Saúde) e Dilma Rousseff (Casa Civil), do prefeito de Olinda, Remildo Calheiros, do prefeito de Recife, José da Costa Bezerra Filho, do presidente da Assembleia Legislativa de Pernambuco, deputado Guilherme Uchoa, do vice-governador de Pernambuco, João Lira Neto, do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, do presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha, entre outros. O Congresso também mobilizou um grande número de militantes da área - cerca de 100 mil pessoas -, que estiveram em Recife durante todos esses dias apresentando cerca de 10.800 trabalhos selecionados, mais de 4 mil pôsteres, mais de 300 sessões científicas. Então, tanto do ponto de vista político como do ponto de vista científico, acadêmico e do desenvolvimento do sistema de saúde, o Congresso foi um sucesso, com expressiva participação da comunidade científica da saúde pública, da saúde coletiva, de trabalhadores da saúde e também da população. No meio de tantos assuntos, discutimos também a emergência de um novo desafio para a saúde coletiva brasileira: a criação de cursos de graduação em saúde coletiva. Com isso, temos hoje uma estrutura de formação completa em saúde coletiva. A Abrasco, criada há 30 anos como uma associação de pós-graduação em saúde coletiva, avança agora para ter o processo completo, a graduação, os cursos de especialização, as residências e os mestrados, inclusive o mestrado profissional, e o doutorado na área de saúde coletiva, na área de saúde pública.


Então, a Abrasco é favorável à criação de cursos de graduação em saúde coletiva?

Luiz Augusto Facchini:
Totalmente a favor. Inclusive, a nova Diretoria propõe a organização, nos próximos meses, de um fórum de graduação em saúde coletiva, à semelhança do fórum de pós-graduação em saúde coletiva, que reúne todos os programas de saúde coletiva de pós-graduação no Brasil. Por intermédio da representação de seus coordenadores, usaremos a mesma estratégia para a graduação em saúde coletiva, reunindo, portanto, todas as universidades que tenham curso de graduação em saúde coletiva, com seus respectivos coordenadores, para participar de atividades da Diretoria e do Conselho. O objetivo é buscar o diálogo permanente entre as atividades universitárias, seja na graduação ou na pós-graduação, seja na relação desses estudantes, professores, pesquisadores com os serviços de saúde, com envolvimento do SUS.


Qual é a avaliação da Abrasco sobre os 21 anos do SUS?

Luiz Augusto Facchini:
Em 21 anos de SUS, presenciamos um conjunto de avanços impressionantes para um país que tinha uma tradição absolutamente excludente. Durante esse tempo, temos conseguido organizar um sistema que é público, gratuito, que é universal, um desafio impressionante para um país como o Brasil, e que nos coloca no contexto internacional de maneira muito bem posicionada. No entanto, temos ainda uma série de problemas que ainda não foi resolvida, como a dificuldade de ter uma cobertura integral para as necessidades de saúde da população em todos os lugares do Brasil, inclusive nos lugares mais remotos, mais afastados dos centros urbanos, onde há carência de serviços e de profissionais de saúde. Evidentemente, ainda temos problemas importantes nos grandes centros urbanos, nas periferias das capitais e em regiões metropolitanas, dentre eles a necessidade de uma coordenação de rede de saúde melhor desenhada, com fluxos de comunicação e de encaminhamento de pacientes para níveis mais especializados do sistema melhor equacionados. Também precisamos pensar na regionalização do sistema como estratégia para fazer com que, num determinado território, se tenha o maior número possível de estruturas capazes de dar conta das necessidades de saúde da população, fazendo com que o usuário ande menos e receba, num território mais delimitado, a maior quantidade de serviços resolutivos para suas necessidades.


Outro aspecto muito enfatizado pelo presidente Lula, pelo ministro Temporão e pelo governador de Pernambuco foi a questão do subfinanciamento da saúde. O SUS, ao longo da sua história, sempre foi subfinanciado. Os recursos disponíveis estão aquém das necessidades da população e da própria estrutura do sistema. Esse problema precisa ser resolvido para que possamos ter a capacidade de, nos próximos 20 anos, dar um salto de qualidade, prestando serviços de qualidade à população, e, de preferência, que a demanda seja integralmente resolvida num determinado território, numa determinada região de saúde.


Quais são os desafios e as metas da nova Diretoria da Abrasco?

Luiz Augusto Facchini:
Temos, atualmente, o desafio da globalização, a internacionalização da economia, as relações internacionais. Tudo isso alcança a saúde pública, a saúde coletiva. Basta ver a questão da gripe H1N1, chamada de gripe suína, que colocou, em poucos meses - entre abril de 2009 e, agora, setembro desse ano -, o mundo todo num esforço articulado no sentido de enfrentar essa pandemia que se alastrou de maneira impressionante, com uma velocidade muito rápida e que, evidentemente, coloca esse desafio para qualquer país em termos de saúde pública. No caso da nossa associação, esse desafio também nos coloca a necessidade de aumentarmos a nossa articulação, a nossa vinculação com associações de saúde públicas, como a Federação Internacional de Associações de Saúde Pública, dirigida pelo ex-presidente da Fiocruz Paulo Buss. Essa vinculação passa por projetos de intercâmbio com programas de pós-graduação em saúde coletiva, saúde pública de países da América Latina, da América do Norte, da Europa, da China, da Rússia, entre vários outros.



Da mesma forma, no contexto nacional, queremos aumentar a nossa articulação e a nossa coordenação com o Conselho Nacional de Saúde, o organismo mais importante de controle social no país, com o Conasems, que une os secretários municipais de saúde, com o Conass, que reúne os secretários estaduais de saúde, e, evidentemente, com toda a estrutura de gestão dos municípios, dos estados e do governo federal, com o objetivo de apresentarmos propostas objetivas para o desenvolvimento do sistema de saúde. Nesse sentido, é muito importante pensarmos que, no ano que vem, teremos eleições para presidente da República, deputado federal, senador, governador, deputado estadual. O momento é uma grande oportunidade para a Abrasco, em coordenação com as demais entidades do país, como o Cebes, entre outras que lutam pela Reforma Sanitária. Apresentaremos propostas para um plano de governo, que gostaríamos que todos os candidatos, independente de partido e de posição política, se comprometessem a viabilizar, caso eleitos, para que o SUS se consolide, cada vez mais, como uma política de Estado, e não como uma política de um determinado partido, ou um determinado governo.


E em relação ao próximo Congresso da Abrasco? Já existe alguma proposta?

Luiz Augusto Facchini:
O próximo congresso, no ano que vem, será o de Ciências Sociais e Humanas em Saúde. Há uma perspectiva inclusive da área de políticas de saúde e de planejamento de realizar alguma atividade em conjunto. O evento acontecerá em Belo Horizonte, em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais e os nossos companheiros da Abrasco daquele estado. Teremos também o apoio da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte e do Governo do Estado. O objetivo é tornar esse evento um encontro de relevância, como tem sido via de regra, e que dê oportunidade para a apresentação de propostas na perspectiva das eleições do próximo período. Como o evento acontece no fim do mandato presidencial, nossa expectativa é fazer uma análise e um balanço de todas as debilidades, carências e necessidades da área, de maneira que se possa montar um plano estratégico para o enfrentamento de questões mais urgentes.


A Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) continua no Conselho da Abrasco no próximo triênio. Como você vê o papel da Ensp, uma das fundadoras da Abrasco, há 30 anos?

Luiz Augusto Facchini:
A Ensp é uma parceira estratégica para a Abrasco, não apenas por sua história e importância na fundação da associação, como pelo fato de a associação estar sediada na Escola, mas especialmente pela importância do contingente de pesquisadores e trabalhadores de saúde que estão vinculados à Ensp, pela liderança que essa Escola tem tido no contexto nacional em relação às contribuições para o debate da saúde coletiva para o país, agora sob a liderança do professor Antônio Ivo de Carvalho. Vamos fortalecer cada vez mais essa parceria. Na nova Direção da Abrasco, temos nomes ligados a várias instituições importantes, que nos dão grande capacidade de articulação. Apenas a região Norte não está representada nessa Diretoria nem no Conselho. Esperamos que, na próxima administração, possamos contar com um representante do Norte. As presenças da Ensp e da Fiocruz serão sempre de grande relevância na Abrasco, sempre marcada pela sua capacidade de realização e pela sua capacidade de articulação interinstitucional.


Conheça o novo presidente da Abrasco:

Luiz Augusto Facchini é graduado em Medicina pela Universidade Federal de Santa Maria (1979), com mestrado em Medicina Social, na Universidad Autonoma Metropolitana de Xochimilco, México (1986) e doutorado em Medicina: Ciências Médicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1994). Possui pós-doutoramento em Saúde Internacional na Harvard School of Public Health, nos Estados Unidos (1997). Atualmente, é professor associado do Departamento de Medicina Social e do Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Foi secretário municipal de Saúde de Pelotas entre janeiro de 2001 e fevereiro de 2003.


É membro do conselho diretor da UFPel, representando o Ministério da Educação e chefe do Departamento de Medicina Social da UFPel. Representando a Abrasco, é membro titular do Conselho Nacional de Saúde (CNS) e coordenador da Comissão Intersetorial de Ciência e Tecnologia em Saúde do CNS. Tem experiência na área de Saúde Coletiva, com ênfase em Epidemiologia, com atuação predominante em temas sobre saúde do trabalhador, trabalho materno e de menores, doenças relacionadas com o trabalho e avaliação de serviços de saúde, especialmente da atenção básica à saúde. (Fonte: Abrasco)



Publicado em 6/11/2009.

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