Início do conteúdo

23/03/2010

Nutricionista esclarece dúvidas sobre alimentação na infância

Roberta Monteiro


Para muitos pais, a hora da refeição é um momento que envolve tensão e preocupação. Isso porque a recusa dos pequenos em ingerir alimentos nutritivos e saudáveis tira o sossego dos pais que muitas vezes não sabem como agir nesta situação. A nutricionista Ana Lúcia Pereira da Cunha, do Instituto Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), explica que o medo de consumir alimentos novos, que inicialmente são considerados estranhos, é conhecido como neofobia alimentar e é bastante comum em crianças com idade entre 1 e 7 anos. Segundo a nutricionista, a criança pode chegar a rejeitar determinados alimentos sem nem sequer prová-los, o que não significa que ela sempre vai recusá-los. Os hábitos alimentares são formados na infância e os pais são os principais colaboradores para sua formação. Na entrevista a seguir, Ana Lúcia esclarece sobre quais alimentos não devem faltar nas refeições das crianças e sugere como os pais devem agir quando seus filhos se recusarem a comer alimentos saudáveis.


 Ana Lúcia: o consumo de sal e o de açúcar refinado deverão ser controlados em todas as faixas etárias, principalmente visando à prevenção de doenças crônicas não transmissíveis

Ana Lúcia: o consumo de sal e o de açúcar refinado deverão ser controlados em todas as faixas etárias, principalmente visando à prevenção de doenças crônicas não transmissíveis


Quais alimentos merecem mais atenção em cada fase da criança?



Ana Lúcia Pereira da Cunha:
Os alimentos são fundamentais para o crescimento e desenvolvimento das crianças em todas as faixas etárias. Nos primeiros 6 meses de vida, o leite materno é considerado o melhor alimento para o bebê. Após este período, o leite materno já não é mais suficiente para atender a todas as necessidades nutricionais da criança. Assim, outros alimentos devem ser introduzidos gradativamente para complementar as recomendações de energia e de nutrientes como proteínas, vitaminas e minerais, evitando possíveis deficiências. É preciso ficar atento à alimentação da criança, já que a oferta de alimentos em excesso também pode ser prejudicial na hora de preparar as refeições, já que a oferta de alimentos em excesso também pode ser prejudicial à saúde e favorecer o aparecimento da obesidade.



O que não pode faltar nas refeições das crianças?



Ana Lúcia: Como fonte de energia, as refeições das crianças devem conter pelo menos um alimento do grupo do arroz, farinhas, batata inglesa, batata baroa, batata doce, aipim, cará ou inhame. Os óleos vegetais (soja, azeite) são complementos energéticos e fonte de ácidos graxos. Os feijões e as carnes (boi, frango, peixe e vísceras) são fontes de ferro e proteínas, enquanto as frutas, legumes e verduras são importantes pela presença de vitaminas, minerais e fibras. É recomendado que a alimentação complementar, a partir do sexto mês, seja introduzida gradualmente, ou seja, um alimento novo a cada dia, para que seja observada a tolerância da criança.    


Quantas refeições devem ser feitas por dia?



Ana Lúcia: Após a introdução gradativa dos alimentos complementares, o ideal é que aos 7 meses de vida a alimentação da criança seja composta por duas grandes refeições (almoço e jantar), contendo alimentos fontes de vários nutrientes. Nos intervalos devem ser oferecidas pelo menos duas pequenas refeições, contendo principalmente frutas. O leite materno também deverá ser mantido pelo menos de manhã e à noite ou em mais horários, conforme a disponibilidade da mãe. Inicialmente, a consistência dos alimentos deve ser pastosa, os mesmos devem ser amassados com garfo e depois desfiados e picados em pequenos pedaços. Aos poucos a alimentação da criança deverá se aproximar da alimentação da família.

 

O consumo de sal é um vilão para a saúde das crianças? E o de açúcar?



Ana Lúcia: Tanto o consumo de sal quanto o de açúcar refinado deverão ser controlados na alimentação da criança em todas as faixas etárias, principalmente visando à prevenção de doenças crônicas não transmissíveis como obesidade, diabetes e hipertensão. No preparo das refeições, o sal deve ser usado com moderação. Podem ser utilizados temperos frescos e suaves, como cebola, alho, salsa e cebolinha. O consumo de açúcares e doces em geral também deve ser controlado. Os alimentos industrializados e artificiais, ricos em sal, tais como açúcares, corantes, conservantes, gorduras saturadas e trans deverão ser evitados ao máximo, principalmente nas crianças menores de 2 anos.


O que fazer quando a criança se recusar a comer?



Ana Lúcia:
Quando ocorre recusa de um novo alimento não se aconselha obrigar que a criança o consuma. Recomenda-se que o mesmo seja oferecido em uma nova oportunidade e se possível em outra forma de preparo e apresentação. A aceitação dos novos alimentos é um processo de aprendizagem e muitas vezes são necessárias repetições da oferta de um determinado alimento até que a criança passe a aceitar e a gostar. É importante que a formação dos hábitos alimentares seja feita de forma tranquila, sem brigas, castigos ou com recompensas. Em geral, o uso de medicamento nestes casos é contraindicado e só deverá ser feito com prescrição e supervisão médica.


Publicado em 23/3/2010.

Voltar ao topo Voltar