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07/08/2006

O útero artificial

Paula Ribeiro


















O útero artificial


Henri Atlan

Editora Fiocruz

128p. R$ 24,00


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 













 


 



Depois da pílula contraceptiva, da inseminação artificial e da fecundação in vitro, o próximo método a ser utilizado poderá ser o útero artificial. Esta técnica, além de ter funções terapêuticas, veio para substituir as atuais incubadoras que mantêm vivos os bebês prematuros. Assim, os úteros artificiais, associados às técnicas atuais de procriação medicamente assistidas, permitirão a qualquer um, homem ou mulher, "procriar" sem recorrer a uma mulher que "empreste" seu útero. É disso que trata O útero artificial, novo lançamento da Editora Fiocruz.


No primeiro capítulo de seu livro, o médico e biólogo Henri Atlan faz alusão ao clássico Admirável mundo novo, de Aldous Huxley. É neste contexto de gestação extracorpórea que deve-se imaginar as conseqüências de um útero artificial e entender que os desempenhos técnicos utilizados não podem estar dissociados do ambiente social no qual estão inseridos.


O útero artificial mostra, de maneira clara, os procedimentos científicos relativos à criação de um útero artificial e o que se entende por isso. O objetivo é criar condições para que um embrião se desenvolva fora da barriga da mãe. A partir da fecundação in vitro e até o nascimento, tudo ocorreria em uma espécie de incubadora que garantiria as funções normais de um útero, da placenta e do próprio organismo materno enquanto aparelho nutritivo e de excreção. Ao mostrar estas condições de criação, Atlan dimensiona as repercussões sociais, culturais, econômicas, políticas, religiosas e mesmo metafísicas da nova técnica. O estudo também aborda um assunto polêmico: as diferenças entre esta técnica de procriação e a clonagem, mostrando o avanço das pesquisas e os julgamentos éticos que elas acarretam.


Fazer nascer uma criança é um assunto individual de cada mulher ou homem? Ou é um assunto que diz respeito também à sociedade? Conforme o tipo de cultura e sociedade, há uma maneira de se encarar a procriação. O capítulo seis é dedicado a estas questões jurídicas e políticas e dá margem ao debate quando o assunto é a quem competiria a tarefa de fazer nascer uma criança e educá-la.


Já os capítulos nove e dez lançam elementos para a discussão cultural quando expõe o pensamento sobre a "condição feminina", diante tanto da contracepção quanto da procriação medicamente assistida. Graças a uma das revoluções civilizatórias que o século 20 testemunhou, as mulheres conquistaram sua liberdade e se beneficiaram da separação entre procriação e sexualidade. Com o útero artificial, a diferença entre os sexos na procriação e filiação pode vir a desaparecer, conduzindo a uma reviravolta na diferença dos sexos no que diz respeito a seus papéis na procriação, mas não ocorreria, entretanto, a desaparição desta diferença.


O autor apresenta, no último capítulo, uma alternativa: a de que, no futuro, as relações afetivas e sociais entre homens, mulheres e crianças sejam construídas num patamar cultural mais elevado. Isso porque a intrusão tecnológica seria um passo a mais na criação de vínculos por afinidade, superando os moldados em bases biológicas das famílias atuais. Este avanço na ordem das relações culturais e morais poderia significar maior abertura nas interações entre diferentes grupos e sociedades e na sua harmonia com um meio ambiente transformado e humanizado pelas técnicas.

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