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30/01/2006

Obesidade na gravidez é tema de pesquisa no IFF

Joyce Santos


O dito popular que a gestante deve "comer por dois" é uma idéia bastante equivocada, que pode oferecer riscos durante a gravidez. Atenta aos perigos que uma alimentação inadequada pode causar à saúde da mulher e do bebê, a nutricionista Rosane Rito desenvolveu o tema Obesidade e gravidez: mulheres obesas e seus hábitos alimentares durante a gravidez, em sua dissertação de mestrado no Instituto Fernandes Figueira (IFF), unidade materno-infantil da Fiocruz.


O estudo tem como base a percepção de que o apetite da gestante não corresponde apenas a uma necessidade fisiológica, mas está associado a alterações psicológicas, aspectos sócio-culturais e emocionais. "Cada elemento presente na alimentação humana carrega, além dos nutrientes, uma carga expressiva de símbolos, significados e crenças", esclarece a nutricionista. O estudo avalia ainda a importância do controle nutricional no sentido de minimizar as queixas relacionadas aos aspectos emocionais, inclusive os desejos e aversões a determinados alimentos.

 


O trabalho foi desenvolvido a partir da análise de entrevistas feitas com dez gestantes obesas, atendidas em unidades de saúde pública do Rio de Janeiro, que apresentavam escolaridade média de oito anos e renda familiar mensal de um a três salários-mínimos. "Estudos apontam que quanto menor o tempo de escolaridade, maior a idade e o número de filhos, maiores são as chances da mulher reter o excesso de peso após a gestação", diz a pesquisadora. Dados do relatório do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados em 2004 confirmaram esta tendência de comportamento, devido à constatação de que entre os 20% mais pobres do Brasil, 38,2% das mulheres apresentavam peso acima do adequado.


De uma forma geral, as gestantes entrevistadas valorizaram o consumo de alimentos como arroz, feijão e carne, enfatizando os vegetais. A preocupação com o feto pareceu constituir a principal motivação para que verduras, legumes e frutas fossem incluídos na alimentação. Carboidratos, principalmente doces e produtos industrializados, mesmo sendo considerados prejudiciais à saúde das gestantes, por serem "engordativos", continuaram a fazer parte do cardápio das entrevistadas. Também foi dado destaque para o consumo de leite, sempre relacionado à idéia de favorecer a amamentação. "A partir dos depoimentos, podemos perceber que o principal foco da gestante obesa é a saúde do seu bebê, sem relacionar os riscos eminentes da própria obesidade. Além disso, as gestantes associaram o atendimento nutricional à noção de controle e restrição", destaca a nutricionista.


A pesquisadora destaca que a alimentação da gestante segue os mesmos preceitos de uma alimentação equilibrada, incluindo frutas, verduras e legumes, principalmente os ricos em ferro e vitamina C. Fracionar as refeições em seis vezes ao dia e tomar líquidos entre elas são outras medidas indicadas durante a gravidez.


Rosane atualmente integra o quadro técnico da Gerência de Programas de Saúde da Criança da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) do Rio, que em parceria com a Gerência de Saúde da Mulher, também da SMS, vem discutindo e articulando estratégias para a promoção do cuidado do estado nutricional durante a gravidez: "Pretendemos, com a implantação do Sisvan-Gestante, melhorar a atenção prestada, em especial para o acompanhamento das mulheres em risco nutricional", ressalta Rosane. O Sisvan (Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional) é um programa do Ministério da Saúde que concentra sua atenção no monitoramento da situação alimentar e nutricional de grupos específicos.


 

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