18/01/2013
Informe Ensp
O estudo que relaciona a elevação da temperatura ao aumento dos casos de dengue no Rio de Janeiro teve grande repercussão na imprensa brasileira. Desenvolvido pela pesquisadora do setor de Epidemiologia da UFRJ Adriana Fagundes Gomes e tema de sua dissertação de mestrado em epidemiologia em saúde pública na Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), com o título Análise espacial e temporal da relação entre dengue e variáveis meteorológicas na cidade do Rio de Janeiro no período de 2001 a 2009, o trabalho foi divulgado em diversos meios de comunicação, sendo pauta dos principais jornais das emissoras de TV, rádio e internet do país.
Na pesquisa, Adriana aponta que o aumento de um grau na temperatura mínima em apenas um mês ocasiona elevação de 45% no número de casos de dengue no mês seguinte, enquanto o aumento da precipitação em 10 milímetros resulta na elevação de 6% no número de casos da doença no mesmo período. Além disso, revela que o clima é um importante fator na distribuição temporal e espacial das doenças transmitidas por vetores.
Ainda de acordo com a autora, os estudos sobre as variáveis climáticas podem aperfeiçoar os conhecimentos a respeito da sazonalidade e da predição de epidemias, uma vez que a relação vetor-clima é tão importante quanto a relação vetor-homem. "A incidência de casos de dengue flutua com as condições climáticas, estando associada ao aumento da temperatura e da pluviosidade. Estas condições favorecem o aumento do número de criadouros disponíveis, assim como o desenvolvimento do vetor. Portanto, aumenta a probabilidade de interação vetor-homem e, consequentemente, homem-vírus", afirma a pesquisa. A dissertação pode ser considerada um instrumento para a prevenção da dengue. Para explicar seus desdobramentos e a repercussão, Adriana concedeu entrevista ao Informe Ensp e comentou a relação entre o clima e o desenvolvimento da doença. Confira.
A dissertação de mestrado analisou a relação entre o risco da dengue e as variáveis climáticas (temperatura e precipitação) na cidade do Rio de Janeiro no período de nove anos. Quais as principais conclusões do estudo?
Adriana Fagundes Gomes: As principais conclusões foram que, na cidade do Rio de Janeiro, durante o período de estudo, a variável temperatura (principalmente a temperatura mínima) tem relação maior com o número de casos de dengue do que a precipitação. Isso pode ser explicado a partir da constatação de que o aumento de um grau na temperatura mínima em um mês ocasiona elevação de 45% no número de casos de dengue no mês seguinte, enquanto o aumento da precipitação em 10 milímetros resulta na elevação de 6% no número de casos da doença no mesmo período.
Qual a importância do clima na transmissão da dengue? Quais os meses e temperaturas mais adequados para o desenvolvimento do mosquito?
Adriana: As condições climáticas estão diretamente relacionadas ao desenvolvimento do mosquito vetor ao proporcionar maturação mais rápida (no caso da temperatura) e elevação no número de criadouros (no caso da chuva), aumentando a probabilidade de interação vetor-homem e, em consequência, homem-vírus. Estudos mostram que a temperatura ambiente é inversamente proporcional ao tempo de desenvolvimento do Aedes aegypti para a fase adulta. Porém, acima de 40°C, a expectativa de vida do mosquito diminui, ao mesmo tempo que sua capacidade de transmitir o vírus. As taxas máximas de sobrevivência estão na faixa de 20 a 30°C. Contudo, o Aedes aegypti sobrevive acima dos 30°C com o mínimo de impacto, desde que esteja abrigado. Assim, no Rio de Janeiro, o mosquito encontra, na maior parte do ano, a temperatura ideal. Mas, sendo uma doença sazonal, o número de casos se concentra no verão.
De que forma a pesquisa pode contribuir para a prevenção da dengue?
Adriana: Devido às dificuldades no desenvolvimento de uma vacina, o combate à doença ocorre por meio da prevenção. O desenvolvimento de um sistema de intervenção precoce envolveria a utilização de parâmetros que possam prever o risco da doença. A pesquisa envolve análise de parâmetros climáticos, o que pode ser realizado com baixo custo, pois necessita apenas de dados que já são coletados normalmente. Mas existem outros parâmetros, pois a dengue é uma doença complexa. Então, a pesquisa contribui ao tentar entender o impacto do clima, fornecendo informações para que o desenvolvimento de ferramentas estatísticas para a análise de risco seja efetuado.
A pesquisa teve grande repercussão, sendo tema de reportagem em diversos veículos de comunicação. Como vê a importância de ampliar o debate e informar a população? De que forma a divulgação de pesquisas como a sua pode auxiliar o desenvolvimento de políticas públicas?
Adriana: Atualmente, a prevenção só é possível pelo combate ao vetor. Os hábitos do mosquito estão adaptados à vida urbana; então, a população também precisa estar ciente do quão importante é sua participação na prevenção. O desenvolvimento de políticas públicas é auxiliado sempre que há um contato entre quem faz tais políticas e as pesquisas acadêmicas, o que acontece por meio de parcerias e trocas de dados e informação.
Publicado em 18/1/2013.