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16/08/2017

Pesquisadores da Fiocruz participam de seminário sobre gênero

Aline Câmera (IFF/Fiocruz)


A Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) foi palco, entre 30 de julho e 4 de agosto, de uma das principais agendas de discussão sobre o feminismo. Sediando concomitantemente a 11ª edição do Seminário Internacional Fazendo Gênero e o 13º Congresso Mundos de Mulheres, a UFSC reuniu cerca de nove mil participantes, em múltiplos espaços de diálogo e compartilhamento de experiências em torno da temática de gênero e as perspectivas da atualidade. Durante a semana, conferências, plenárias, fóruns, manifestações artísticas e até mesmo uma marcha de mulheres, que tomou conta das ruas do centro de Florianópolis, uniram os mais diversos grupos.

Entre as diversas atividades organizadas, profissionais do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz) marcaram presença na coordenação de simpósios temáticos e na apresentação de trabalhos. Docentes e alunos tiveram a oportunidade de presenciar o intercâmbio da academia com os movimentos sociais de diversas parte do mundo. Além de grupos da América Latina, o evento também reuniu delegações africanas.  O lançamento do livro Homens e Violência contra as mulheres foi outro destaque na programação.

Tendo como pano de fundo o movimento que ficou conhecido popularmente como a revolução sexual dos anos 60, a partir do surgimento da primeira pílula anticoncepcional, o simpósio Tecnologias em Saúde Sexual e Reprodutiva: Transformações, Conexões e Deslocamentos de Corpos, Gêneros e Práticas de Saúde, reuniu uma equipe multidisciplinar. A atividade coordenada pela pesquisadora do IFF Claudia Bonan, junto com Cristiane Cabral, da Universidade de São Paulo (USP), contou ainda com a participação de outros profissionais, entre alunos e docentes, do IFF: Cristiane da Silva, Andreza Nakano e Tânia Dias.

As formas de incorporação dessas técnicas e tecnologias são variadas, suas trajetórias múltiplas, dentro e fora de serviços de saúde, e os grupos envolvidos e seus usos sociais são heterogêneos. Os trabalhos apresentados neste simpósio temático tiveram o propósito de investigar aspectos convergentes e divergentes das biografias dessas inovações médicas, os modos de constituição entre usuários e tecnologias/técnicas, e seus efeitos sobre práticas, culturas corporais, normas e hierarquias sociais de gênero, classe, raça, etnia, idade, capacidade física, entre outras.

Ainda como reflexo dos movimentos do século 20, a bandeira do feminismo e a luta pela aceitação social das diversas expressões de gêneros ganhou força. “Esta nova realidade exigiu uma leitura para além da dicotomia sexo-gênero e de uma perspectiva normativa heterossexual. É neste contexto que discutimos, de forma multidisciplinar, aspectos como paternidade e cuidado; violência de gênero, incluindo a violência contra a mulher; a relação dos homens no mundo do trabalho; sexualidade e diversidade sexual; a medicalização e a saúde do homem, além das relações entre masculinidades, feminismo e capitalismo”, aponta o coordenador do simpósio Homens, Masculinidades e outras Expressões de Gênero e pesquisador do IFF, Marcos Nascimento.

Ao lado do professor Benedito Medrado, da Universidade Federal de Pernambuco, Nascimento moderou a apresentação de 35 trabalhos, a partir de pontos de vista diversificados que envolveram os campos da Sociologia, Antropologia, Psicologia, Direito, Saúde Coletiva, entre outros. Todas as regiões do país estiveram representadas nas explanações, que tiveram como objetivo dar visibilidade à diversidade de produções sobre homens e masculinidades na América Latina, reunindo trabalhos na interface entre a produção acadêmica e a militância feminista de gênero. Pesquisadores da Colômbia, Argentina e Chile também participaram do debate.

Temática que esteve presente em muitos painéis durante o evento, a transexualidade pautou o debate do terceiro simpósio coordenado pelo IFF. Sob o comando das docentes Paula Gaudenzi, do Instituto, e Nelma Cabral, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a (Des)ordem do Sexual: Identidades Trans no Diálogo entre Psicanálise e Gênero promoveu a interação entre os saberes psicanalíticos e os estudos de gênero no que se refere às identidades e modalidades das relações que se apresentam na atualidade.
A proposta surgiu a partir da percepção de que, nos dias atuais, ao mesmo tempo em que há maior diversificação das expressões sexuais, práticas violentas marcam a radicalização da intolerância à diferença. “Pensamos em reunir trabalhos que de alguma forma pudessem promover encontros entre diferentes saberes, em que um pudesse se deixar afetar pelo outro, prática necessária para o fortalecimento do ativismo aberto para a reinvenção contínua”, ressalta Paula.

Os alunos Pamella Pereira, Marina Paulino, Daniely de Araujo, Kátia de Souza, Maria Amélia Saad e Rafael Gonçalves também apresentaram trabalhos durante a programação do seminário. Finalizando a participação do IFF no evento, no dia 4, aconteceu o lançamento do livro Homens e Violência contra as mulheres. Reunindo a experiência de grupos de homens autores de violência, a publicação é fruto do trabalho de um ano de mapeamento dos pesquisadores Marcos Nascimento, do Instituto, e Adriano Beiras da UFSC. A partir do interesse dos dois em coletar diferentes abordagens sobre esta realidade, foi feito o convite para que pesquisadores ligados a programas de pós-graduação do país narrassem os resultados de suas teses e dissertações sobre a temática.

De forma crítica e atual, ao longo dos oito capítulos do livro, os autores propõem um debate sobre ações concretas, que servem como ponto de partida para a promoção de políticas públicas que possam dar conta de uma realidade tão complexa. “Com as diversas visões sobre as iniciativas voltadas para os homens autores de violência, buscamos desconstruir a prevalência de padrões violentos e desiguais nas relações interpessoais. As intervenções apresentadas visam promover a criação de novos serviços e programas em diversos locais, bem como fortalecer os já existentes, a partir da capacitação de profissionais e da consolidação de ações integradas com as redes de enfrentamento, evitando ações muito pontuais, lineares, ou ainda, pouco qualificadas diante da complexidade do problema”, conclui Marcos Nascimento.

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