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31/10/2006

Prêmio Capes inclui teses de doutorado feitas na Fiocruz entre as melhores do país

Bel Levy


Estudos sobre a epidemiologia da malária na região amazônica e a miocardite chagásica renderam dois prêmios ao Instituto Oswaldo Cruz (IOC) da Fiocruz, em concurso realizado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior do Ministério da Educação (Capes/MEC). Em sua primeira edição, o Prêmio Capes, que destaca as melhores teses de doutorado aprovadas por cursos reconhecidos pelo MEC, afirmou a excelência do IOC em pesquisa biomédica ao premiar dois trabalhos desenvolvidos pelo Instituto: Aspectos epidemiológicos da malária no Parque Nacional do Jaú, Amazonas, Brasil, do Programa de Pós-graduação em Medicina Tropical, e Migração de células inflamatórias para o tecido cardíaco durante a fase aguda precoce da infecção experimental pelo Trypanosoma cruzi: identificação de alvos terapêuticos, do Programa de Pós-graduação em Biologia Parasitária. A cerimônia de entrega dos prêmios ocorrerá em 9 de novembro.


Estudo discute realidade epidemiológica da malária na região amazônica


A prevalência da malária no Parque Nacional do Jaú (PNJ) , localizado a 220 km de Manaus, foi o tema da tese Aspectos epidemiológicos da malária no Parque Nacional do Jaú, Amazonas, Brasil. Orientada por José Rodrigues Coura, chefe do Departamento de Medicina Tropical do IOC, a pesquisadora Simone Ladeia Andrade analisou 540 indivíduos das 14 comunidades que habitam os dois rios do parque, entre novembro de 2002 e julho de 2003. Além de dados entomológicos, foram investigadas informações sobre endemicidade local, prevalência e fatores associados à infecção, apresentação clínica e resposta humoral da população às diferentes espécies de parasito do gênero Plasmodium – agente etiológico da malária.


A pesquisa indicou a distribuição heterogênea da doença, a despeito da proximidade entre as áreas do PNJ, a intensificação do número de casos nos últimos anos, transmissão intradomiciliar e alta prevalência de infecção em períodos fora do pico de transmissão. A apresentação clínica também foi analisada pelo estudo.“Entre os infectados houve 60,8% de assintomáticos, alguns, inclusive, com microscopia convencional positiva, o que atenta para a importância da realização do exame em todos os indivíduos de uma área sob busca ativa e não somente entre aqueles que apresentarem sintomas”, resume a pesquisadora, referindo-se à rotina de ação de técnicos da Secretaria de Vigilância em Saúde no controle da endemia.


Uma avaliação longitudinal evidenciou a necessidade de acompanhamento prolongado de infectados assintomáticos antes de defini-los como tal, além de ausência de infecção e infecção assintomática como prováveis conseqüências de certo grau de imunidade adquirida pela população, ainda que a área não seja hiperendêmica nem de transmissão contínua da malária. Quanto à avaliação entomológica, foi constatado que o Anopheles darlingi é o principal vetor da malária no Parque Nacional do Jaú, com predomínio intradomiciliar, pouso nas redes e picos de atividades entre 18h e 23h, o que pode ajudar a orientar ações antivetorias no controle da endemia.


Definição de alvos terapêuticos na miocardite chagásica


Migração das células inflamatórias para o tecido cardíaco durante a fase aguda precoce da infecção experimental pelo Trypanossoma cruzi: alvos terapêuticos é o tema da tese de doutorado que conquistou o Prêmio Capes pelo Programa de Pós-graduação em Biologia Parasitária do IOC. Orientada por Joseli Lannes, chefe do Laboratório de Pesquisas em Auto-imunidade e Imuno-regulação, a pesquisadora Ana Paula Maia Peixoto Marino investigou a ocorrência de miocardite durante a fase crônica da doença de Chagas. A miocardite é a principal causa de óbito entre pacientes chagásicos e atinge de 20 a 30% dos infectados.


Ana Paula acompanhou a evolução da doença em modelos experimentais da fase aguda da infecção e constatou o predomínio de células CD8 e a presença de moléculas como VCAM-1 e ICAM-1, expressas pelo endotélio dos vasos sanguíneos do coração dos animais infectados, que têm importante papel para a entrada de células durante a infecção no tecido cardíaco. “Detectamos algumas moléculas quimiotáticas, que participam da atração seletiva das células, que justificariam o predomínio das células CD8 no tecido cardíaco”, explica a pesquisadora. “No próprio tecido cardíaco havia o aumento da expressão dessas moléculas e de células inflamatórias, que expressam o receptor que as reconhece. Se conseguirmos bloquear estes receptores, poderemos amenizar a inflamação”, completa, indicando uma possível estratégia terapêutica.


A pesquisa indicou o bloqueio da migração mediada por receptores de quimiocinas, no caso, CCR1/CCR5, como alvo terapêutico. Além disso, apontou a utilização de met-RANTES, antagonista parcial de RANTES, como potencial imunomodulador para a miocardite chagásica – utilizado experimentalmente na modulação da inflamação em modelos de artrite e alergia, reduzindo a inflamação. “São alvos interessantes para serem estudados, mas, de qualquer forma, já desponta uma nova oportunidade de tratamento para a miocardite na doença de Chagas”, avalia Ana Paula.


"Nosso trabalho é importante porque vai além de sua área e abre novos caminhos para o estudo de inflamações ao dissociar o processo inflamatório exarcebado que leva à disfunção do órgão-alvo da resposta imune protetora, o que também é desejado em miocardites de origem viral e bacteriana", observa Joseli. "Álém disso, a pesquisa alia inovação tecnológica ao compromisso de retorno à sociedade, pois ao mesmo tempo em que utiliza ferramentas modernas de biologia molecular e celular, farmacologia e imunologia, tem a doença de Chagas como objeto de estudo, um agravo importante para a população brasileira e da América Latina", conclui.

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