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28/01/2006

Profilaxia para gestantes portadoras do HIV-1 pode induzir resistência aos medicamentos anti-retrovirais

Catarina Chagas


Embora o uso de terapia anti-retroviral como profilaxia para mulheres grávidas infectadas pelo HIV-1 tenha representado um importante avanço na prevenção da transmissão do vírus para o recém-nascido, o amplo uso desses medicamentos pode constituir a raiz de um novo problema: o aumento do número de cepas resistentes a tais drogas. Avaliar a relação entre o tratamento de gestantes com anti-retrovirais e o surgimento de resistência do vírus HIV-1 aos medicamentos é o principal objetivo do projeto do médico José Henrique Pilotto, doutorando e pesquisador do Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas (Ipec), uma unidade da Fiocruz.


Atualmente, a profilaxia com anti-retrovirais durante a gravidez é recomendada pelo Ministério da Saúde para gestantes portadoras do HIV que ainda mantêm imunidade íntegra e, por isso, não necessitam de tratamento. "Na maior parte dos casos, são mulheres que se descobrem infectadas durante a gravidez e precisam apenas evitar a transmissão do vírus ao bebê", pondera Pilotto. Com a proximidade do parto, a medicação é suspensa e, após o nascimento, o recém-nascido é tratado com um xarope de AZT (medicamento anti-retroviral) durante seis semanas.


Com a análise dos vírus encontrados em mulheres que passaram por esses procedimentos, pesquisadores descobriram algumas mutações que conferem resistência às drogas utilizadas. O dado é preocupante porque caso a paciente precise, no futuro, de tratamento ou nova profilaxia para uma segunda gravidez, os medicamentos já não terão o efeito desejado.


Segundo o pesquisador, o problema é que a medicação é interrompida sem que os médicos tenham certeza sobre a carga viral exata da paciente. "Teoricamente, se a gestante tomou a medicação correta e não tem vírus circulando no sangue, não há problemas em suspender a medicação logo após o parto", explica. "No entanto, se ainda houver vírus em circulação, ele poderá adquirir mutações que conferem resistência aos anti-retrovirais. Medicamentos como a Nevrirapina, por exemplo, têm meia-vida longa e continuam presentes no sangue materno por alguns dias, o que coloca o vírus em contato com uma dose de medicação abaixo do que é necessário para inibi-lo".


Pilotto explica que a principal dificuldade dos médicos é a procura tardia pelo acompanhamento pré-natal. Em média, as gestantes procuram o hospital já com mais de seis meses de gravidez. "Dessa forma, nem sempre temos os resultados da carga viral e de todos os aspectos necessários à avaliação antes do parto", conta o médico.


Nessa pesquisa, serão avaliadas as gestantes virgens de tratamento atendidas no Instituto Fernandes Figueira (IFF), outra unidade da Fiocruz, e no Hospital Geral de Nova Iguaçu, que presta assistência à população da Baixada Fluminense - neste, o trabalho já foi iniciado, com 45 mulheres. A previsão é de que, ao longo de um ano de acompanhamento de toda a população de gestantes portadoras do HIV e virgens de tratamento atendidas nos dois hospitais, sejam analisados os casos de 120 pacientes. Os resultados devem ficar prontos no fim deste ano.



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