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01/04/2006

Quando trabalhar adoece

Raquel Aguiar






Os efeitos nocivos da exposição humana a substâncias químicas presentes no ambiente de trabalho é antigo, mas apenas há pouco tempo surgiu o interesse pela influência do sistema de trabalho no desenvolvimento de doenças. "Os médicos, de forma geral, não reconhecem que certas patologias estão ligadas à ocupação profissional", alerta o endocrinologista da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp) da Fiocruz William Waissman. "Por isso a preocupação em criar protocolos que demonstrem que doenças comuns, causadas por uma diversidade de fatores, podem estar associadas a condições de trabalho. Assim os médicos podem ter orientação não só para o diagnóstico, como também para identificar condições de trabalho que podem causar doenças". Segundo Waissman,é impossível isolar um único fator causal na geração de doenças relacionadas ao trabalho. "Mesmo em eventos agudos é muitas vezes difícil estabelecer uma relação direta entre a patologia e uma causa ligada ao trabalho", explica. "É comum que o efeito do trabalho sobre o organismo seja cumulativo e, portanto, resulte em doenças crônicas, o que pode dificultar o estabelecimento de relações inequívocas entre patologia e trabalho".

O sistema endócrino, importante elo de ligação entre o meio ambiente e a carga genética de cada pessoa, pode ser afetado pelo ambiente e pelas demandas do trabalho. Já é reconhecido que capacidade decisória, exaustão física e ruído excessivo podem estar relacionados a altas taxas de colesterol. A obesidade está associada ao estresse e é mais comum entre profissões de baixo status social, mas também pode ser resultado de uma alimentação saborosa, que busca atenuar conflitos no ambiente de trabalho. A jornada noturna está ligada a distúrbios alimentares e do sono. A irradiação pode levar ao desenvolvimento de tumores, geralmente após longo período de latência. Em profissões que exigem a posição sentada por tempo prolongado ocorre redução da densidade óssea. Já o trabalhador sujeito a calor excessivo, exposto a agrotóxicos, metais ou outros agentes químicos pode sofrer redução da produção de espermatozóides.


Para minimizar o efeito nocivo do trabalho sobre a saúde humana, o especialista aconselha a revisão das relações profissionais. "Os trabalhadores não devem ser adaptados às necessidades da empresa, mas o sistema de trabalho deve ser compatível com as possibilidades do indivíduo", critica. "No caso do trabalho noturno, por exemplo, é comum impor ao trabalhor o mesmo ritmo exigido no turno do dia. Mas como somos uma espécie diurna, trabalhar à noite é, por si, uma sobrecarga. Seria conveniente ampliar o número de trabalhadores para reduzir a jornada noturna". Waissman considera o acompanhamento médico fundamental para qualquer trabalhador, mas chama atenção para o perigo de exclusão. "Ao avaliar um grupo de trabalhadores, pode-se encontrar pessoas especialmente bem condicionadas às condições daquele trabalho. Infelizmente, isto pode ser explicado muitas vezes não pela ausência de doença, mas porque os individíduos que apresentaram problemas de saúde já foram dispensados".





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