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24/07/2009

Rede de Investigação em Sistemas e Serviços de Saúde do Cone Sul (RED) tem nova presidência

Informe Ensp


Depois de quatro anos e duas gestões, a pesquisadora Lígia Giovanella, da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), deixa a presidência da Rede de Investigação em Sistemas e Serviços de Saúde do Cone Sul (RED). Para o posto, foi eleita Ivani Bursztyn, do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que terá como vice Marcia Cristina Fausto, também da Ensp. A RED é uma organização não-governamental, criada em agosto de 1994, com o objetivo de criar vínculos para colaboração mais efetiva entre Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. Também se associa a projetos de outros países, em colaboração na área de investigação de sistemas e serviços de saúde. A RED desenvolve atividades em três linhas principais: programas e projetos de investigação, formação de capacidades em investigação de sistemas e serviços de saúde, e informação e difusão. A seguir, Ligia Giovanella faz um balanço das atividades da sua gestão, enquanto Ivani Bursztyn e Marcia Fausto falam dos desafios e do futuro da RED.


 Da esquerda para a direita, as pesquisadoras Marcia Fausto, Ivani Bursztyn e Lígia Giovanella (Foto: Virginia Damas/Ensp/Fiocruz) 

Da esquerda para a direita, as pesquisadoras Marcia Fausto, Ivani Bursztyn e Lígia Giovanella (Foto: Virginia Damas/Ensp/Fiocruz) 


Você poderia fazer um balanço dos quatro anos em que esteve na presidência da Rede?

Lígia Giovanella:
Uma das primeiras iniciativas da minha gestão, que começou em 2005, foi iniciar uma discussão no âmbito da RED sobre políticas de saúde no contexto da integração regional dos países do Mercosul. Como concretização deste debate, realizamos, em 2006, o Fórum Mercosul de Integração Regional e Sistemas de Saúde. A atividade resultou em uma publicação especial temática da revista Cadernos de Saúde Pública da Fiocruz, que circulou em 2007 e inclui uma agenda de pesquisas específica na temática.


Outra iniciativa importante foi trabalhar a investigação em sistemas e serviços de saúde de forma mais direcionada. Nossa preocupação era envolver os núcleos de cada um dos países que compõem a RED (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai) e suas instituições, realizando atividades de investigação em conjunto. Nas atividades em rede, o difícil é manter a interconectividade, a interação entre os participantes e a multipolaridade das iniciativas. Numa rede não existe hierarquia; as iniciativas devem partir de todos os componentes.Buscamos financiamento e conseguimos elaborar um projeto comum de análise da atenção primária nos quatro países, tendo como problema de investigação a questão da segmentação da proteção social e a fragmentação do sistema de saúde. Este fora um dos temas destacados de nossa agenda de pesquisa no contexto da integração regional.


O projeto multicêntrico está em desenvolvimento nos quatros países com apoio financeiro do Internacional Development Research Centre (IDRC), do Canadá. Constituímos equipes e apoios institucionais em cada um dos países e realizamos a primeira fase de trabalho de campo, que incluiu entrevistas, revisão bibliográfica, análise documental e reuniões com gestores. No momento, estamos analisando os primeiros resultados do estudo panorâmico e pretendemos organizar um seminário temático de comparação em dezembro de 2009.


Outra ação rotineira foi a continuidade da publicação dos boletins anuais (quatro fascículos do Correo Salud), com informações sobre as atividades da rede em cada um dos países integrantes, como convênios, pesquisas, eventos etc. Também destaco a elaboração de material para curso de Metodologia de Investigação de Sistemas de Serviços de Saúde. O projeto ainda não foi implementado por dificuldade de financiamento, mas permanece na agenda da RED.


Como você classificaria o momento atual da rede?

Lígia Giovanella:
Eu diria que este é um momento de revitalização. A RED se manteve atuante durante todo esse tempo, principalmente, devido ao apoio fundamental da Ensp e da Fiocruz. Houve, porém, períodos de menor participação dos núcleos dos países. Com o desenvolvimento do projeto multicêntrico, os núcleos nacionais tornaram-se mais atuantes. E, por meio das equipes de investigação, articulou-se um número maior de pessoas envolvidas na RED em outros países. No Paraguai, as instituições envolvidas criaram uma organização não-governamental para dar sustentação à RED, por conta dessa revitalização. Em cada um dos países foram realizadas reuniões com gestores para discutir a ampliação da RED. É sempre muito importante o apoio de cada uma das instituições envolvidas para o desenvolvimento de atividades regulares. Nesse momento, também estamos em processo de atualização das instituições envolvidas em cada país: são atualmente 17 instituições na Argentina, 39 no Brasil, oito no Paraguai e nove no Uruguai, e contamos com uma lista de discussão com mais de mil profissionais e/ou instituições.


Em relação à nova presidência da RED, quais são as novas orientações?

Ivani Bursztyn:
Vamos dar continuidade ao trabalho que já vem sendo realizado. Tenho trabalhado nos projetos da RED desde o início da investigação sobre atenção primária nos quatro países. Essa investigação mexeu com a dinâmica da rede, pelo interesse que provocou nas instituições internacionais. Participamos de reuniões e articulações entre pesquisadores, gestores e formuladores de políticas públicas nos diversos países. E isso vem acontecendo de forma importante. Cada país realizou reuniões para discutir a investigação. Estive em todos os países componentes da RED para participar das discussões. A RED tem avançado muito. E essa renovação que a Lígia fala acontece muito por conta deste movimento, que ganhou impulso nos últimos meses.


Quais são os desafios atuais da RED?

Ivani Bursztyn:
Um dos desafios será a implementação de uma comunidade virtual dentro da Rede Panamazônica, resultante de uma articulação com a Organização Pan-americana da Saúde (Opas). Seria uma cooperação entre as duas redes. Uma cooperação que deverá ampliar o papel da nossa rede, agregando mais oito países que fazem parte da Rede Panamazônica. O projeto está bem avançado. O objetivo é introduzir na Rede Panamazônica - que extrapola a área da saúde - uma comunidade de investigação de serviços de saúde. A idéia é que possamos não só dar treinamento, mas trabalhar a questão da difusão da informação e também acompanhar projetos de pesquisa e capacitar pesquisadores da Região Amazônica, de maneira que possamos monitorá-los e apoiá-los. Isso agrega uma atividade nova pra nós: o acompanhamento de pesquisas à distância.


E quanto ao curso de Metodologia de Investigação de Sistemas de Serviços de Saúde?

Marcia Cristina Fausto:
O curso é um grande desafio. Trata-se de uma atividade já prevista durante a gestão da Lígia, como ela destacou, mas que não avançou até por falta de recursos. Nosso objetivo é dar continuidade ao projeto, com um curso à distância.


Daqui pra frente, você será a representante da Ensp, na vice-presidência da rede. Como será a participação da Escola nesta nova configuração?

Marcia Cristina Fausto:
A Ensp continuará apoiando a RED, como sempre fez, tanto financeiramente quanto institucionalmente. O curso de Metodologia de Investigação de Sistemas de Serviços de Saúde, por exemplo, é de responsabilidade da Escola, com apoio da rede. Esse é um dos nossos grandes desafios: colocar o curso em prática, pois há interesse dos participantes de que esse curso, de fato, aconteça, pois vai agregar conhecimento e informação para as pessoas envolvidas com essa temática. A experiência com a Rede Panamazônica poderá contribuir para reformatar a proposta inicial do curso.


Como ocorreu a eleição da nova presidência da RED?

Marcia Cristina Fausto:
A eleição se deu pelo Conselho Diretor após consultas aos membros nos países. O Conselho Diretor é a instância de decisão e é composto por representantes nacionais da RED na Argentina, no Brasil, no Paraguai e no Uruguai (eleitos pelos respectivos membros de casa país), que ficam sob uma presidência, eleita pelos representantes nacionais. A instância de coordenação da RED é a presidência, ocupada agora pela Ivani. A Ensp tem participação fundamental na indicação da presidência da RED, pois garante a sustentabilidade da rede. A última eleição ocorreu em Montevidéu, em abril, quando foram eleitas as novas presidente e vice-presidente, com o apoio do diretor da Escola, Antonio Ivo de Carvalho. Sempre há um processo de consulta devido a essa proximidade das Ensp com a RED.


De que maneira a Ensp se beneficia na Red?

Lígia Giovanella:
Não apenas pela participação dos seus diversos investigadores e profissionais na RED, desenvolvendo novos contatos e conhecimentos com outros países, mas devido a uma maior presença da rede nos demais países. Acho que existe um processo de aprendizagem do trabalho em rede que traz benefícios para a atuação da Ensp. A Escola sempre atuou no sentido de uma interlocução com seus pares na América Latina, especialmente. Para a Ensp, apoiar a RED significa também ganhar projeção, atuar, interagir com outras instituições da América Latina na formação, na parceria de projetos comuns. Esse é um perfil da instituição; não só da Ensp, mas da Fiocruz de um modo geral. Apoiando a RED, a Ensp também está fortalecendo essa missão.


Como é feita a articulação da Red no Brasil?

Ivani Bursztyn:
A coordenação da RED do Brasil fica a cargo de Luiza Heimann, diretora do Instituto de Saúde de São Paulo, que está liderando iniciativa para organizar uma reunião nacional da rede durante o congresso da Associação Brasileira de Pós Graduação em Saúde Coletiva (Abrasco), em novembro, no Recife. Esse é um outro desafio: ampliar a participação de instituições brasileiras na RED. Temos aqui muitas iniciativas de grupos relacionados à investigação de sistemas de serviços de saúde.


Qual é o diferencial da investigação de sistemas e serviços em saúde?

Ivani Bursztyn:
Trata-se de um tipo de investigação que se propõe não apenas a produzir conhecimento, mas também incidir na transformação da qualidade dos sistemas e serviços de saúde e contribuir para o aprimoramento das políticas públicas. Há um direcionamento muito claro no sentido de influenciar a prática. Essa pesquisa, esse estudo multicêntrico, tem favorecido muito isso, com a participação de gestores nas discussões metodológicas. Por meio de entrevistas, além de conhecer, discute-se a realidade do país no que diz respeito à atenção primária e incide-se na intervenção. No momento em que se discute a metodologia do estudo, pensamos a própria realidade e os resultados podem orientar intervenções. Estivemos em um encontro no Uruguai destinada a reunir pesquisadores e gestores do sistema de saúde, com o objetivo de discutir a pesquisa e a atenção primária. Foi um momento de discussão da própria pesquisa, o seu formato, e também de reflexão sobre a realidade. 


Quais sãos os próximos passos?

Lígia Giovanella: Nos dias 1º, 2 e 3 de dezembro de 2009 organizaremos um seminário internacional de atenção primária no contexto da América Latina. Vamos fazer a discussão do processo de renovação da atenção primária à saúde para apresentar e discutir resultados dos estudos de casos de cada um dos países. Vamos discutir e analisar, comparativamente, traçando paralelos entre os países. Na ocasião, teremos a participação de pesquisadores espanhóis, consultores do projeto e de equipes de investigação em cada um desses países. O evento será aberto a alunos de mestrado e de doutorado da Ensp.



Publicado em 24/07/2009.

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