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14/06/2011

Resolutivo e acolhedor: livro discute os desafios da humanização do cuidado em saúde

Fernanda Marques


O livro Humanização dos cuidados em saúde: conceitos, dilemas e práticas, da Editora Fiocruz, acaba de ganhar sua segunda reimpressão. Título da Coleção Criança, Mulher e Saúde lançado em 2006, ele já havia sido reimpresso em 2008. A grande procura pela obra revela um interesse crescente pela humanização nas áreas da saúde. Organizado pela pesquisadora Suely Ferreira Deslandes, professora do Instituto Fernandes Figueira (IFF) e colaboradora do Centro Latino-Americano de Estudos de Violência e Saúde (Claves), ambos da Fiocruz, o livro se dirige a todos os profissionais da saúde em suas distintas especialidades e formações, gestores, estudantes de graduação e pós-graduação e pesquisadores da área.



A humanização em saúde é uma diretriz que tem norteado várias iniciativas, inclusive a Política Nacional de Humanização (HumanizaSUS), do Ministério da Saúde, vigente desde 2003. Trata-se de uma noção associada à qualidade da assistência, aos direitos dos pacientes, ao protagonismo dos sujeitos e à gestão participativa, entre outros aspectos dos cuidados em saúde. No entanto, mais do que delimitar a temática, o livro busca problematizá-la e evitar que a humanização se transforme em um discurso banalizado: o objetivo último é refletir de que forma praticá-la nos serviços de saúde, com profissionais e usuários, nos âmbitos da atenção, da gestão e da formação.


Dividida em três partes, a publicação faz um balanço crítico dos conceitos e perspectivas sobre humanização em saúde. Os 16 capítulos que compõem o livro não têm o intuito de produzir um consenso sobre o tema. Eles instigam um debate rico e intenso, capaz de oferecer bases teóricas para a análise dos limites e das possibilidades de ações autodenominadas "humanização" – e estas já mobilizam milhares de profissionais da saúde em todo o país.


A primeira parte discute conceitualmente a proposta de humanização sob diferentes perspectivas disciplinares. Os capítulos resgatam a sociologia médica americana dos anos 1970, lançam mão de diferentes tradições da filosofia e propõem a comunicação como estratégia de base para a humanização em saúde, além de recomendarem a incorporação das ciências sociais na formação médica. Os autores também chamam a atenção para o fato de que não se pode pensar em uma estratégia de humanização sem levar em conta a organização do trabalho nos serviços de saúde e a qualidade de vida do profissional da saúde. Outro tema em destaque é a importância das redes de suporte social – afinal, o cuidado em saúde abrange a família e a comunidade.


Experiências e análises sobre a humanização da assistência às crianças são apresentadas na segunda parte. Destacam-se possibilidades de humanização nas situações clínicas agudas, nas enfermidades crônicas e mesmo dentro de uma UTI neonatal cirúrgica. Um dos capítulos defende que brincar é importante na produção de cuidados com crianças que vivenciam o adoecimento e a hospitalização. Outro artigo promove uma reflexão sobre cuidados com crianças e adolescentes que sofreram abuso sexual. Por fim, a terceira parte reúne conhecimentos e ações voltados para a saúde da mulher. Entre os temas em debate estão questões de gênero, a medicalização do corpo feminino, a assistência ao parto, o aborto como problema de saúde pública e o acolhimento de mulheres que vivem com HIV/Aids.


“Expresso meu sincero desejo de que, ao oferecer aos leitores textos de aprofundamento teórico, filosófico e de avaliação de práticas de humanização, os autores desta coletânea contribuam para as necessárias transformações, a favor dos usuários e de suas relações com os serviços e com os profissionais da saúde”, destaca a pesquisadora Maria Cecília de Souza Minayo, do Claves/Fiocruz. “A humanização necessita do aporte indiscutível da ciência e da tecnologia, pressupõe investimentos financeiros, mas, acima de tudo, precisa contar com uma persistente proposta de sensibilização das pessoas”, reforça ela, que assina o prefácio do livro.


Publicado em 14/6/2011.

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