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17/05/2013

TB Alliance e Fiocruz procuram novas soluções no combate à tuberculose

Danielle Monteiro


Com o intuito de discutir possíveis ações para o combate à tuberculose, a Fiocruz promoveu, nos dias 13 e 14 de maio, um encontro entre a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos (SCTIE) do Ministério da Saúde, a direção da Aliança Global de Desenvolvimento de Drogas para Tuberculose – Aliança TB (Global Alliance for TB Drug Development – TB Alliance, em inglês) e pesquisadores de várias instituições brasileiras que atuam em ensaios clínicos de novas drogas e regimes terapêuticos contra a doença. A TB Alliance, que tem como presidente de seu Conselho de Diretores o diretor do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS/Fiocruz), Carlos Morel, é uma organização internacional sem fins lucrativos que busca curas mais eficientes, rápidas e acessíveis para a doença.


 "O grande problema é que não há drogas suficientes, porque não há empresas suficientes para fabricá-las, devido à insuficiência de incentivos comerciais". apontou o vice presidente de desenvolvimento e pesquisa da TB Alliance, Carl Mendel. Foto: Peter Ilicciev. 

 "O grande problema é que não há drogas suficientes, porque não há empresas suficientes para fabricá-las, devido à insuficiência de incentivos comerciais". apontou o vice presidente de desenvolvimento e pesquisa da TB Alliance, Carl Mendel. Foto: Peter Ilicciev. 





Na abertura do encontro, o presidente e diretor executivo da TB Alliance, Melvin Spigelman, fez uma apresentação sobre a história e ações da organização e traçou um panorama da tuberculose. Os dados apresentados sobre a incidência da doença no mundo são preocupantes: dois bilhões de pessoas estão infectadas pela tuberculose multirresistente, são registrados nove milhões de casos de tuberculose ativa por ano, 1,5 milhão morrem por conta da doença anualmente, 12 milhões apresentam co-infecção HIV-tuberculose, e a enfermidade é a doença infecciosa que mais mata soropositivos e mulheres em idade fértil. 



A baixa eficácia, a longa duração e a interação com medicamentos para HIV em pacientes co-infectados, contou Spigelman, agravam esse quadro: "O tratamento para tuberculose sensível inclui quatro comprimidos e dura 26 meses, para tuberculose resistente há poucos medicamentos eficazes, alguns são injetáveis e apresentam alta toxicidade, e para as crianças são geralmente usadas fórmulas inapropriadas". Foi essa realidade que, segundo ele, motivou a criação da TB Alliance. A organização tem como principal missão encontrar e desenvolver novos e mais eficazes medicamentos para a tuberculose, além de garantir que novos tratamentos sejam adotados, tenham amplo acesso e cheguem ao mercado com preços acessíveis. "Percebemos que são necessárias novas drogas para todos os tipos de casos da doença", justificou.



Spigelman revelou que a organização tem desenvolvido novos tratamentos mais eficazes e de menor duração (de dois a quatro meses). O tratamento para a doença disponível no mercado dura de 6 a 30 meses e a dificuldade de aderência dos pacientes ao complexo regime de medicamentos tem provocado o desenvolvimento de cepas cada vez mais resistentes e mortais. "Nosso objetivo é conseguir desenvolver um regime de tratamento que inclua o menor número de comprimidos possível e leve somente de sete a dez dias. Para obtermos sucesso, são necessárias novas e variadas combinações de medicamentos", disse.



Novos e melhores tratamentos em vista



Para alcançar seu objetivo, a TB Alliance realiza uma série de experimentos com uma gama diversificada de substâncias que, transformadas em um único componente, podem dar origem a novos e potenciais regimes de medicamentos. "Acreditamos que os medicamentos que desenvolvemos são mais eficientes e rápidos que os atuais. Até agora conseguimos atingir a duração de tratamento de seis semanas em animais e vamos começar a testar esse experimento em humanos para ver se a duração é a mesma, o que deve acontecer no ano que vem, dependendo de quanto tempo o processo regulatório levar", adiantou o vice presidente de desenvolvimento e pesquisa da organização, Carl Mendel. Ele acredita que a não aderência ao tratamento deve ser atribuída aos próprios medicamentos. "Em alguns locais, os pacientes são culpados por provocar a resistência à doença, pois alguns não aderem ao tratamento ou não seguem as orientações médicas. Mas esse problema não deve ser atribuído a eles, mas sim aos medicamentos, que ainda não são bons o suficiente", defendeu.



O primeiro teste de regime de medicamentos conduzido pela organização, denominado NC-001, mostrou que o regime experimental com PaMZ - que inclui os compostos PA-824 moxiloxacin e pyrazinamide - mata mais bactérias do que o atual tratamento para tuberculose durante as primeiras duas semanas de uso. Os resultados foram publicados na revista The Lancet em 2012. A descoberta pode vir a tratar inclusive os infectados com tuberculose multirresistente, eliminar a necessidade de uso de drogas injetáveis e, com isso, reduzir em 90% o custo do tratamento para esse tipo de pacientes. Mendel contou que, nos experimentos com combinações de drogas indicadas para o tratamento de pacientes infectados pela tuberculose causada pela mycobacterium tuberculosis, somente pacientes sensíveis às drogas participam dos testes clínicos. "Os pacientes devem ser tratados com base em sua sensibilidade, e não em sua resistência", disse.



No dia mundial de combate à tuberculose, no ano passado, a TB Alliance deu início ao experimento com outro regime de medicamentos, denominado NC-002, a fim de testar o PaMZ por dois meses em pacientes com tuberculose e  tuberculose multirresistente. O experimento, o primeiro a testar a capacidade de um único regime para tratar ambos os casos, tem atualmente a participação de pacientes de várias regiões. Os resultados, se promissores, vão levar à fase III do estudo, que envolve ensaios de registro do regime com PaMZ.  No mesmo ano a organização também iniciou experimentos com uma terceira combinação de medicamentos que envolve quatro regimes de segunda geração com o potencial de reduzir para duas semanas o tratamento para tuberculose e sua forma resistente. “Esse ano também começamos a traçar planos para garantir que regimes de medicamentos novos e já existentes cheguem a crianças com tuberculose o mais rápido possível”, adiantou Mendel.



Para ele, o grande desafio na luta contra a doença é a falta de incentivo comercial. "A maioria dos medicamentos testados falham ou porque não funcionam ou por questões de segurança. O grande problema é que não há drogas suficientes, porque não há empresas suficientes para fabricá-las, devido à insuficiência de incentivos comerciais", explicou. Segundo Mendel, o impacto de estudos como esses será enorme para o Brasil e outros países em desenvolvimento, regiões que de fato são acometidas pela doença. "Esperamos que, com o desenvolvimento de um regime mais eficaz, mais fácil e menos caro, tenhamos como resultado a erradicação da tuberculose e a ausência de resistência aos medicamentos", finalizou.



Ao final do encontro, que também contou com apresentação das atividades desenvolvidas no campo da tuberculose por cada uma das instituições participantes, foi recomendado o estabelecimento de uma parceria formal entre a SCTIE e a TB Alliance, com o apoio do CDTS/Fiocruz e o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Inovação em Doenças Negligenciadas (INCT-IDN). “A ideia é constituir um plano estratégico com ações prioritárias para o fortalecimento da capacidade nacional nestes ensaios clínicos com vistas ao desenvolvimento dos novos fármacos e regimes terapêuticos tão necessários à luta contra esta enfermidade ainda tão prevalente em nosso país”, afirmou o diretor do CDTS/Fiocruz, Carlos Morel. 



TB Alliance



Fundada em 2000, a Aliança Global de Desenvolvimento de Medicamentos para Tuberculose tem sede em Nova York, Estados Unidos, e possui um escritório em Pretoria, África do Sul. A organização opera com financiamento da Fundação Bill e Melinda Gates (Bill & Melinda Gates Foundation) e com auxílio do governo da Irlanda, do Reino Unido, da Unitaid, do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (National Institute of Allergy and Infectious Disease), da Agência de Desenvolvimento Internacional dos Estados Unidos (United States Agency for International Development) e da Agência Reguladora de Medicamentos e Alimentos americana (United States Food and Drug Administration).



Publicado em 15/5/2013.

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