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23/08/2013

Trabalho apresenta novos aspectos da coinfecção da doença de Chagas com o HIV em congresso

Carolina Landi


Os pesquisadores que estudam a doença de Chagas têm debatido novos aspectos para a enfermidade, como a coinfecção com o HIV e os cuidados com a condição cardíaca chagásica, como o uso de imunossupressores em pacientes transplantados. Ambos os temas foram destaque na 49ª edição do Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, realizada em Campo Grande. A urbanização da doença de Chagas e o surgimento da Aids propiciaram o aparecimento da coinfecção entre as duas moléstias, cuja prevalência, epidemiologia e expressão clínica ainda são pouco conhecidas. O painel Coinfecção doença de Chagas/HIV no Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas (Ipec/Fiocruz) apresentou a experiência do instituto com a questão.

Entre 1990 e 2012 foram acompanhados sete pacientes coinfectados com doença de Chagas e HIV no Ipec – cinco no Ambulatório de Doença de Chagas e dois no de Aids.
 

“Nossa experiência chamou atenção para dois aspectos: a avaliação parasitológica da doença de Chagas na coinfecção com HIV e a conduta terapêutica específica. Nos cinco xenodiagnósticos (exame parasitológico realizado na forma crônica da doença de Chagas para identificar a presença de protozoários) realizados, em vigência da infecção do HIV, a sensibilidade foi de 100%. Sabemos que na ausência de coinfecção a sensibilidade não ultrapassa 50%. Além disso, nos dois casos que evidenciavam imunossupressão grave pelo HIV, observamos, indiretamente, alta carga parasitária”, explica a médica e pesquisadora Andrea Silvestre, que apresentou o trabalho.

Segundo a pesquisadora, o xenodiagnóstico e o diagnóstico molecular por meio da PCR, ambos quantitativos, podem ser importantes ferramentas para avaliar precocemente a reativação em sua fase assintomática, bem como utilizá-la no monitoramento clínico da coinfecção. Como a prevalência dessa condição ainda é desconhecida, existe uma proposta de fazer uma busca ativa de casos de HIV com doença de Chagas. Entre 1990 e 2012 foram acompanhados sete pacientes coinfectados com doença de Chagas e HIV no Ipec – cinco no Ambulatório de Doença de Chagas e dois no de Aids.

Durante a reunião da Rede Brasileira de Coinfecção, constituída por centros de referência para pacientes com coinfecção por T. cruzi e HIV, foi proposto um estudo multicêntrico, com o apoio da Organização Mundial de Saúde (OMS), para que seja unificado o tipo de sorologia de doença de Chagas. A iniciativa deve reunir três centros de referência – Ipec, Hospital das Clínicas/Faculdade de Medicina da USP, Grupo de Estudos em Doença de Chagas-GEDoCh/Faculdade de Ciências Médicas/Unicamp – para fazer o levantamento de forma prospectiva, ativamente, e tentar identificar nesses grupos qual é a soroprevalência combinada das duas condições clínicas. Além de Andrea, participaram do estudo Alejandro Marcel Hasslocher Moreno, Pedro Emmanuel Alvarenga Americano do Brasil, Carla Renata Ferreira dos Santos, Luiz Henrique Conde Sangenis, Gilberto Marcelo Sperandio da Silva, Mauro Felippe Felix Mediano, Roberto Magalhães Saraiva e Sergio Salles Xavier.

Transplante cardíaco

A pesquisadora também apresentou a conferência A imunossupressão pós-transplante cardíaco em pacientes com doença de Chagas: manejo e desafios em uma das mesas-redondas do congresso. “A doença de Chagas é uma doença crônica infecciosa. Se o paciente passa por uma situação de imunossupressão, seja por uma nova infecção como o HIV, ou pela administração de drogas que vão ser necessárias após um transplante cardíaco, a imunidade do paciente diminui e a enfermidade pode aparecer de forma mais grave”, diz. “Isso pode ser mais sério na cardiopatia chagásica que, no Brasil, é a terceira causa de indicação de transplante cardíaco. Com a imunossupressão, a doença pode acometer o coração novo, sendo algumas vezes erroneamente interpretada como uma rejeição ao órgão”, observa Andrea.

Os pacientes submetidos a transplante cardíaco são submetidos a biópsias miocárdicas de rotina. Se a biópsia apontar uma miocardite, o aspecto é idêntico entre a rejeição ou a reativação da doença de Chagas, diferindo apenas pela presença do parasita. Diante da reativação, é ministrado o tratamento com Benzonidazol, que tem apresentado uma efetividade muito grande para controlar essa condição, desde que precocemente instituído. No entanto, se o parasita não é identificado, faz-se o diagnóstico de rejeição e o tratamento seria aumentar a imunossupressão, o que poderia ser fatal diante de um diagnóstico incorreto. Daí a importância de se aprimorar novas técnicas de identificação do parasita, como a padronização de PCR mais específica e quantitativa. O desafio atual é acompanhar clinicamente o paciente e criar um protocolo para conduta em caso de reativação. “Muitos centros que fazem transplantes cardíacos não estão capacitados para fazer um diagnóstico de reativação. É necessário unir a expertise dos centros transplantadores com os centros de pesquisa”, diz Andrea.

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