28/01/2015
Talita Rodrigues / Ascom EPSJV
O primeiro fascículo de 2015 da revista científica Trabalho, Educação e Saúde, editada pela Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz), busca contribuir com o debate sobre a internacionalização da produção científica brasileira, acenada pelo CNPq e Scielo. No editorial, a revista pondera sobre os desdobramentos que a estratégia poderia ter, sobretudo quanto a investigações que dão ênfase a questões locais, como formação de trabalhadores do SUS.
Uma das preocupações que o editorial traz sobre o formato de internacionalização proposto remete a uma questão crucial. “Não estaríamos reincidindo em um processo de subordinação, de benefícios incertos, que nos desviaria da construção de autonomia e do aprofundamento do sentido social da nossa produção científica. No caso da Trabalho, Educação e Saúde, essa intenção poderia trazer desdobramentos bastante preocupantes, como, por exemplo, não priorizar os manuscritos cuja investigação contribuísse para a compreensão de problemas locais, dentre eles o trabalho no SUS, a formação de trabalhadores de nível médio ou mesmo a implementação de políticas específicas da saúde pública ou da educação. Essa reflexão nos faz indagar o quanto um deslocamento dessa ordem, em uma escala ampliada, poderia desestimular grupos e pesquisas que se dedicam a esses temas”, destacam os editores da revista.
O texto reconhece a importância de se projetar internacionalmente a produção científica brasileira. Mas faz um alerta: “Certamente a projeção internacional não é um propósito a ser desconsiderado, mas seus meios e efeitos precisam ser problematizados, sobretudo num contexto em que visibilidade e número de citações vêm sendo igualados à qualidade de pesquisa, e ainda, do qual não se excluem os interesses mercadológicos dos publishers internacionais. Assim, consideramos fundamental pautar uma discussão sobre as políticas na direção de uma real internacionalização do conhecimento de uma forma não subordinada à lógica mercadológica mencionada”. E conclui: “Este passo – inicial – pressupõe, por sua vez, em nossa perspectiva, um duplo movimento: por um lado, aprofundar o sentido nacional e coletivo das pesquisas científicas, na relação com as singularidades das áreas de conhecimento e necessidades locais; e, por outro lado, promover estudos críticos, inclusive em colaboração com pesquisadores de distintos países, sobre o papel da ciência nas novas determinações da sociabilidade mundializada capitalista, com vistas à transformação desta realidade, à criação de parcerias internacionais e à conformação de uma ciência efetivamente global, emancipatória.”
Trabalho, Educação e Saúde traz ainda artigos originais sobre atenção primária da Opas nos anos 2000, modelos de gestão do trabalho no setor público de saúde, a investigação temática freiriana que estreita a relação conteúdo-cotidiano, perspectivas de ensino na saúde mediante a política de educação permanente, políticas educacionais em saúde, visita domiciliar como estratégia de aproximação da realidade social e política nacional de humanização em hospital público. Tenha acesso gratuito ao fascículo.