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14/07/2010

Trabalho identifica micobactérias não causadoras de tuberculose

Informe Ensp


O pesquisador do Centro de Referência Professor Hélio Fraga da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) e doutor em genética Jesus Pais Ramos acaba de apresentar resultados preliminares de um estudo que identifica as micobactérias não causadoras de tuberculose por meio de diferentes marcadores moleculares. De acordo com o pesquisador, os casos de surtos oriundos de infecções causadas por micobactérias têm aumentado a importância do estudo desses microrganismos, pois têm sido constatados em diversas regiões brasileiras desde 1998. Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), entre os meses de janeiro de 2003 e fevereiro de 2009 ocorreram 2.128 casos de infecções em hospitais públicos, privados, clínicas de cirurgia plástica, oftalmológica, acupuntura, estética e, recentemente, em unidade de vacinação.


 

 Jesus: os atuais métodos demandam um gasto considerável de tempo e, muitas vezes, fornecem resultados inconclusivos (Foto: Irlan Peçanha/Ensp) 

Jesus: os atuais métodos demandam um gasto considerável de tempo e, muitas vezes, fornecem resultados inconclusivos (Foto: Irlan Peçanha/Ensp) 


A identificação no nível de espécie de isolados MNT clínicos está se tornando cada vez mais importante em função das diferenças na sensibilidade a drogas antimicrobianas, que determina diferentes opções de tratamento. Sendo assim, a identificação da maioria dos isolados micobacterianos ao nível de espécie, e não apenas como grupo, como M. chelonae/abscessus do grupo é recomendado.


Segundo Jesus, a identificação ocorre por métodos fenotípicos e moleculares. A identificação por de métodos fenotípicos se baseia em características tais como velocidade de crescimento, produção de pigmento, temperatura de incubação, crescimento em meio de cultura específico e com agentes inibidores e testes bioquímicos. Porém, esses métodos demandam um gasto considerável de tempo e, muitas vezes, fornecem resultados inconclusivos.


O pesquisador enfatiza que a utilização de alguns métodos moleculares, como o PRA (PCR-Restriction Enzyme Analysis), já é utilizado há muito tempo pelo Laboratório de Bacteriologia do Hélio Fraga, sendo utilizado como uma ferramenta complementar na identificação em micobactérias. Porém, em alguns casos, o PRA também não permite uma identificação precisa no nível de espécie. Em função desse fator, outras ferramentas moleculares, como o sequenciamento de diferentes alvos genéticos, são necessárias para a identificação precisa no nível de espécie.


Ao longo dos anos, vários artigos propõem o uso do sequenciamento de diferentes alvos na identificação de micobactérias, e alguns laboratórios já o utilizam como método de identificação. Porém, poucos pesquisadores têm realizado estudos comparando diferentes alvos genéticos.


Jesus conclui a apresentação afirmando que o projeto desenvolvido no Hélio Fraga propõe a análise e comparação das diferentes sequências produzidas através da amplificação das regiões ITS, rpoB, hsp65 e 16S, apenas em amostras de micobactérias onde a análise por meio do PRA ou da metodologia tradicional baseada em métodos fenotípicos tenha sido inconclusiva e levantamento de micobactérias não causadoras de tuberculose, cujo ADN se encontra armazenado no Centro de Referência.


Os resultados preliminares apresentados a partir do sequenciamento do gene hsp65 foram os seguintes: das amostras analisadas, 48,84% apresentaram identificação inequívoca. E cerca de 80% delas apresentaram 100% de identidade com uma única espécie. Foi detectado que 6,98% das amostras não são micobactérias, e 44,19% apresentaram resultados inconclusivos no nível de espécie.


As micobactérias não causadoras de tuberculose (MNT) podem causar infecções sintomáticas, cujas manifestações clínicas são pulmonares, linfáticas, na pele ou disseminadas pelo corpo, sendo M. avium a espécie de bactéria oportunista mais encontrada em pacientes com HIV. A doença pulmonar crônica é a forma mais comum pela qual se apresentam infecções ocasionadas por espécies não tuberculosas. Nesses casos, os pacientes são adultos com sintomas variáveis como tosse, falta de ar e cansaço.


A expressão MNT é a mais comumente utilizada para referir-se às espécies do gênero Mycobacterium, com exceção M. tuberculosis e M. leprae. As MNT se encontram no meio ambiente, tendo sido isoladas nos animais, solo, água e instrumentos cirúrgicos.


Publicado em 13/7/2010.

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