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09/08/2006

Visita genial


"Einstein, o grande mathematico que, atualmente, o Rio hospeda, passou hontem mais um dia em nossa metropole, tendo feito uma visita ao Instituto Oswaldo Cruz e realizado sua segunda conferência na Escola Polytechnica". Assim O Jornal abriu uma de suas reportagens com manchete de primeira página, intitulada O Dia de Einstein, na edição de 9 de maio de 1925.

 

 

Como os outros diários da então capital da República, dedicou espaço nobre ao físico Albert Einstein durante aquela semana. Ilustrando a reportagem, um bico de pena esboçava o perfil do cientista que, segundo a legenda, fora produzido por desenhista de Manguinhos, especialmente para o prestigiado diário da época.

Nos arquivos da Fiocruz, atualmente, há poucos registros de visita tão honrosa. O fotógrafo J. Pinto documentou o autor de numerosos trabalhos de física teórica, conhecido principalmente por sua Teoria da Relatividade, ao lado de pesquisadores de Manguinhos em uma das varandas do castelo. Há, também, o autógrafo de Einstein na página que traz um dos seus artigos nos Annalen de Physik, publicação especializada disponível na Biblioteca de Manguinhos.

Café gelado

A leitura de dois jornais daquele dia, porém, traz detalhes importantes, como a informação de que Einstein teria documentado suas impressões sobre Manguinhos. O repórter de O Jornal escreveu: "No Laboratório de Chimica Applicada deixou um disco phonográphico, e ainda, assistiu a uma experiência sobre a visão binocular". O autor da notícia veiculada em O Paiz contou que "Einstein registrou a impressão da sua visita em um disco phonographico...".

Restamnos, hoje, somente hipóteses: ele teria feito uma gravação ou registrado suas impressões sobre o IOC em uma dedicatória escrita sobre um disco? Não há em Manguinhos qualquer documento neste sentido.

Ainda conforme o noticiário dos diários cariocas, Einstein teria ido ao Museu Oswaldo Cruz, visto a coleção de anatomia patológica e percorrido as salas de leitura da biblioteca. Os pesquisadores, tendo à frente o então diretor Carlos Chagas, mostraramlhe "o Leptospira e o Trypanosoma cruzi (...) e ele teria se interessado pelo processo utilizado para coloração de preparados por meio de câmara clara". O cientista alemão teria tomado uma xícara de café, que preferiu "gelado" e, ao subir ao terraço, "sua vista se extasiou ante os mais belos panoramas, engrandecidos pela mais variada topographia". Ressalte-se o entusiasmo do repórter de O Jornal em sua descrição do ambiente.

Entusiasmo relativo

Einstein chegou ao Rio de Janeiro em 4 de maio de 1925, depois de passar por Buenos Aires e Montevidéu. Foi homenageado em jantares oferecidos pelas colônias alemã e judaica, conheceu o Pão de Açúcar, foi à Tijuca, à Gávea e subiu a pé o Pico do Papagaio.

Os jornais mostravam, ainda, a reação da platéia diante do "sábio moderno", descrevendo fisionomias e gestos de intelectuais presentes às conferências. Deliciosa a descrição do repórter de O Paiz sobre uma das conferências: "O almirante Gago Coutinho, conhecidamente contradictor do glorioso hospede, (...) num índice de incredulidade inabalável (...) Os graphicos de Einstein não o demoviam, parece, de suas idéias já adquiridas sobre a mecânica clássica (...) O Sr. Licínio Cardoso, na primeira fila (...) contrapunha mentalmente,
aos princípios da mecânica einsteniana, os dogmas de Augusto Comte. Parecia também um irredutível (...) Só o professor Sodré da Gama mostrou-se enthusiasmado (...)".

Dezembro/2002

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