15/08/2008
Edna Padrão
Segundo Mario Hamilton, a ditadura no Brasil não foi similar a da Argentina ou do Chile. Permitiu a reclusão da inteligência na universidade, cuja teoria foi se desenvolvendo, embora sem nenhuma relação com a prática. E foi justamente para desenvolver as áreas de prática da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp) que, em 1978, a convite de Sergio Arouca, veio trabalhar na Fiocruz. “Na Escola, naquele momento, só existia desenvolvimento teórico. Mas como traduzimos isso na realidade concreta? Como estas idéias podem passar para a realidade?”.
Mario Hamilton profere conferência sobre a saúde pública no Brasil |
Com o término do Peses/Peppe, que teve importante papel na produção teórica e formação de quadros na Ensp, a escola passa por uma transformação, principalmente as áreas de epidemiologia, ciências sociais e planejamento. Mario Hamilton assume a coordenação da área de Planejamento. “A gente não desenvolvia só a área de planejamento, mas intervinha também sobre o direcionamento da Escola, participava no Concep, articulava para que determinadas pessoas mais progressistas ocupassem determinadas áreas para produzir mudanças”.
Naquele momento, Mario Hamilton passa a coordenar também os cursos de especialização de toda a Escola. “Fomos ocupando espaços legítimos. Eu diria, sem nenhum tipo de pudor, por competência, por seriedade, por estar trabalhando, por avançar e continuar”. A partir do primeiro curso de planejamento da Ensp, cria-se o Núcleo de Planejamento, que passa a integrar o Departamento de Ciências Sociais. Também são identificadas duas áreas estratégicas, mestrado e doutorado, que até então não existiam.
Mario Hamilton foi um dos principais colaboradores de Arouca na Fiocruz |
Em 1986, com a reforma administrativa implementada por Arouca na Presidência da Fiocruz, Mario Hamilton e Joaquim Moreira Nunes assumem a Superintendência de Administração Geral (SAG) da instituição. “Quando assumimos, tivemos uma adesão pequena imediata. As adesões que permitiram o processo foram conquistadas, não foi o caminho pronto”.
A proposta da SAG, naquele momento, era dar transparência administrativa; trabalhar com uma gestão participativa das unidades nas decisões e discussões institucionais. Conforme Mario Hamilton, seria necessário também passar para uma área de tecnificação e adequação tecnológica da administração; de um modelo de informação não-socializada - que tem a ver com a opacidade, com o autoritarismo - para um sistema de socialização da informação. “Levar à comunidade o controle sobre o uso ou aplicação do dinheiro público”.
Mario com a esposa Suzana ao lado, o filho e a nora (à direita) e Rômulo Maciel |
Durante a sua trajetória na Fiocruz, Mario Hamilton foi também diretor-superintendente do Instituto Oswaldo Cruz de Seguridade Social (FioPrev). Atuou como vice-diretor da Ensp em 1991 e 1992 e como vice-presidente de Desenvolvimento Institucional da Fundação de 1993 a 1996.